sem rumo.

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Amor Unilateral

com Mark Lee

by sorrybe

Era a primeira vez que eu ia à uma festa em alguns meses, um aniversário da prima do meu hyung e ele me obrigou a ir, insistindo na ideia de que eu precisava me animar.

"Você não pode passar seus dias enfornado em casa, ainda mais triste desse jeito."

Bullshit, agora eu estava triste fora de casa.

Estava sentado na cozinha, batucava meus dedos contra a mesa de mogno enquanto ouvia a música eletrônica que preenchia o lugar, ricocheteando nas paredes e voltando para mim com pressão total. Minha noite mal começou e já parecia fadada ao fracasso, enquanto eu assistia de camarote a todos bebendo e dançando de forma estranha.

Talvez o fato de eu estar ranzinza não me ajudasse a entrar no clima, mas eu sequer conseguia entender o porquê de ter tanta gente empolgada com o simples fato de alguém estar ficando velho.

Uma música que eu não conhecia começou a tocar e todos começaram a cantar junto, naquele momento eu percebi que estava cansado daquilo tudo. Me levantei discretamente, queria sair sem ser notado, esquecer que estive ali. Parei no momento exato em que cheguei ao batente da porta, arregalando os olhos e deixando a boca entreaberta. Estalei a língua em sinal de nervosismo e deixei um sorriso falso brotar em meus lábios, mesmo que sentisse meu estômago se embrulhando.

— Mark hyung!

Dongsuk se jogou contra mim em um abraço um tanto familiar, mas que pareceu desconfortável sob tais circunstâncias. Abri e fechei a boca algumas vezes esperando que as palavras saíssem com sentido, mas nada é como se espera.

— Eu preciso ir. — Comecei com a voz toda esganiçada. — É... estou indo.

Me afastei abruptamente e estava quase alcançando a rua quando ele segurou em meu pulso com as mãos, vindo atrás de mim.

— Hyung, eu sinto sua falta! Tem tanto tempo que a gente não conversa. — Fez um biquinho fofo. — Fica mais um pouquinho.

Forçou uma voz manhosa que eu conhecia bem, realmente achava que era tão fácil assim me manipular? Talvez fosse. Me virei para ele, tentando não focar em seu sorriso, ou olhos, mas sem ser capaz de evitar.

Deuses, ele era tão bonito.

— Tudo bem. — Cedi facilmente. — Mas vamos dar uma volta, o barulho cansou minha cabeça.

Dong deu um pulinho de empolgação e passou os dedos pelos cabelos, ajeitando uma mecha atrás da orelha. Eu gostava de como seu cabelo curto e escuro moldava perfeitamente seu rosto branquinho. Sem falar em seus olhos, apenas um idiota completo não o enxergaria como o garoto mais bonito do mundo.

Nós saímos andando pela rua, todas as casas eram iguaizinhas e com árvores na entrada. Era bem bonito, ainda mais como as nuvens carregadas que escondiam a lua cheia. O menino estava abraçando meu braço, falava distraidamente sobre as notas na escola e as amizades que fez desde que eu sumi.

— Eu fiz vários amigos, hyung! — Disse completamente empolgado, porém logo justificou-se. — Mas não amo nenhum como amo você.

— Eu não tenho mais ciúmes, Dong, pode amar quem quiser. Sabe disso.

Ele parou de andar e se colocou em minha frente, cruzou os braços e inflou as bochechas. Era um sinal de irritação extremamente adorável. Estupidamente adorável.

— Você não se importa mais comigo! Por que não consegue ser meu amigo feito era antes? Hein? — Eu ri amargo e corri as mãos pelo rosto numa tentativa de me acalmar. — Eu amo você, Mark. Não quero te perder pelo erro que cometemos tanto tempo atrás.

Erro.

Era assim que ele chamava nossa quase relação, um erro.

— Eu não me importo mais porque eu cansei de ser seu amigo, porra. Porque eu não aguento mais olhar para você e saber que acabou. — Respirei fundo, minha voz sumindo. — Se me amasse, teria aceitado me namorar. Mas você foi embora, Dongsuk, só para aparecer meses depois e querer amizade? Eu não quero sua amizade, sweetie, eu quero te esquecer. Preciso te esquecer.

Ergui as mãos na altura dos ombros e me virei para poder ir embora, uma chuva forte começou a cair e eu me permiti chorar, sabendo que teria a proteção das gotas.

Eu era um azarado, mas pelo menos essa vantagem existia.

Demorou alguns minutos para que ouvisse os passos apressados do garoto se chocando contra a água que já se empoçava no chão.

— Mark!

Ele gritava meu nome em plenos pulmões e eu cansei de fugir, me virando para ver seu rosto. A chuva não bastou para esconder o choro do garoto, suas bochechas estavam vermelhas e seus olhinhos tremeluziam cheios de água. Dong retirou com as mãos trémulas o cabelo que estava grudado no rosto e meu coração se apertou.

Deixei os ombros caírem em total derrota, perdendo a pose em instantes.

— Se quer tanto assim me esquecer, por que ainda não esqueceu? Hein? Se despreza tanto minha amizade, por que não me afasta de vez?

Passaram-se alguns segundos, minha roupa estava encharcada e eu tremia de frio, mas não conseguia sair do lugar.

— Eu não te esqueço porque não consigo te esquecer. — Queria fingir que não doía e simplesmente virar as costas, mas era impossível fazê-lo enquanto ele se aproximava. — Porque todas as pessoas são idiotas, desinteressantes e até cruéis. Mas não você, sweetie, você não é nada disso.

Meus braços fizeram o caminho automático para a cintura do garoto e o puxaram para perto de mim, naquele instante quase todo seu corpo tocava o meu. Conseguia sentir sua respiração batendo contra meu rosto e por alguns instantes esqueci a sensação de vê-lo partir, de ter que me fazer de forte.

Esqueci o que era real.

— Eu tentei me convencer que teriam milhões de garotos como você lá fora, que tivessem olhos ainda mais bonitos que os seus e também fizessem meu coração disparar. — Sufoquei um soluço que tentou escapar e continuei, mesmo que com apenas um fio de voz. — Eu procurei alguém com sua voz, seu cheiro, seu beijo...

Encostei a testa contra a dele, sabendo que poderia lhe beijar se quisesse. Mas não o fiz.

— Mas eu não encontrei, sweetie, nunca vou encontrar. Ninguém se compara a você, eu deveria saber disso desde o dia que te vi pela primeira vez, correndo pela minha casa para que eu não te visse. Qualquer um que te olhe tem o risco de se apaixonar por você, seja por dez segundos ou pela vida toda.

Então ele me beijou, um beijo quase tão estranho quanto o primeiro que trocamos, mas durou apenas alguns segundos. Dongsuk se afastou, chorando ainda mais que antes.

— Não importa a queda que eu tive por você um dia, as noites que passei ao seu lado, não importa as conversas profundas que tivemos de madrugada ou as promessas que fizemos quando passava uma estrela cadente. — Houve uma pausa. — Mark, eu não amo você, nunca amei. Não foi o bastante. Não vai ser o bastante. Nunca. Isso que importa. Se você não quer ser meu amigo, eu não quero nada de você.

Ele deu vários passos para trás e eu senti que ia vomitar.

Merda...

Me sentei na calçada enquanto o assistia desaparecer no horizonte. Assim como para mim, não havia mais festa para ele naquela noite. Com o tempo os carros pararam de passar e a chuva parou de cair, mas eu me mantive ensopado. Não podia deixá-lo ser o amor da minha vida, mas como evitar o que já era uma realidade?

Fiquei olhando para a água que ainda escorria pelo chão, sem rumo, exatamente como eu.

relacionamento psicótico.

prospettive ⁂ nctOnde histórias criam vida. Descubra agora