❥ chapter 12

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            Os três primeiros dias foram os mais difíceis: eu me recusava a sair de casa, a deixar de me lamentar. O pessoal ficou preocupado comigo, ligaram de hora em hora para saber como eu estava, me convidando para beber, mas de repente pararam, e eu suspeitava que eles deviam ter percebido que eu só queira passar um tempo sozinho.

Nada realmente interessante aconteceu nos próximos dias, mas posso dizer que eu meio que me isolei em meu próprio apartamento e tentei deixar tudo o mais organizado e limpo possível para tentar distrair minha mente, mesmo embora nada me deixasse menos deprimido. Fui às compras, repus quase meu guarda-roupa inteiro, tentei ir ao cinema, ao teatro, ao bar, aluguei alguns filmes, mas eu não apresentava nem o mínimo sinal de melhora. Quer dizer, eu já não estava mais chorando com tanta frequência, eu simplesmente não conseguia mais, acho que devo ter desidratado ou algo do tipo, mas me emocionei assistindo Querido John. A Savannah me fazia lembrar dele — talvez fossem os olhos azuis da atriz que a interpretou ou até mesmo a simplicidade da personagem, não sei, ambos eram encantadores.

Eu estava com saudades, aquilo ardia como o inferno... as bochechas coradas, os cabelos cor de chocolate tão lisos e macios quanto seda, a pele bronzeada por conta dos dias de sol intenso, o cheiro de praia impregnado na sua pele, os cílios perfeitamente desenhados, as mãos tão pequenas e tão ágeis ao mesmo tempo, os dentes alinhados, que sempre eram expostos através de um de seus sorrisos maravilhosos e bobos, exibindo também suas ruguinhas no final de suas pálpebras... oh, e é claro, os olhos azuis cintilantes, idênticos ao mar selvagem em uma noite de tempestade.

Eu perdia horas olhando a lua na varanda do meu apartamento e, mesmo que fosse algo que me deixava ferido, magoado, eu não saia dali, pois tinha a sensação de que ele também estava olhando para ela, tão triste e solitário como eu me sentia naquele momento. Em todo aquele tempo, estive me perguntando como foi possível alguém transformar o meu coração em moradia num período tão curto de convivência — independente da resposta, sei que Louis foi capaz de transformar o meu e, honestamente? Eu nunca me arrependi nem um pouco disso. Pode parecer controverso, mas às vezes parecia que estar ali, observando o luar, era a única coisa que me trazia calma em meio à tanta tristeza, que me deixava em paz.

Ele era como todos os raios e ondas que acalmavam minha mente, minha única defesa em meio ao caos, como um pequeno abrigo que me mantinha seguro em meio a tempestade. Eu me achava até meio bobo e exagerado por pensar essas coisas, mas era a verdade, eu não podia confrontá-la; eu estava péssimo sem Louis, precisava tê-lo de volta — não era uma questão de querer ou não, mas de necessidade, de urgência. Então não foi difícil tomar uma decisão.

Quando me livrei por completo do resfriado e me tornei um tanto mais disposto, a primeira coisa que fiz foi ir para a empresa onde eu costumava trabalhar e todos se mostraram felizes em me ver, principalmente Felicité, minha secretária, que disse ter deixado inúmeras mensagens em minha caixa postal. Desculpei-me pelo sumiço repentino e perguntei como ela estava, mas não passamos muito tempo conversando, pois ela tinha trabalho a fazer e eu precisava conversar com o meu empregador o quanto antes.

Ele pareceu desapontado com a minha ausência na reunião em Florence, pois aquilo traria bons frutos para a firma, mas compreendeu quando expliquei que tive problemas durante o percurso e acabei parando em uma praia remota, pois meu carro havia quebrado. Não entrei em mais detalhes, achava que ele não precisava saber da história toda, e logo entrei direto ao ponto, ao real motivo que me levou para a empresa.

"Quero pedir demissão." Afirmei com convicção e ele lamentou minha escolha, mas não protestou, apenas disse que seria difícil encontrar um diretor comercial tão competente como eu. Resolvemos a parte burocrática em maisi ou menos uma hora e então eu comecei a organizar meu escritório, empilhando meus pertences em caixas e arquivando alguns documentos em ordem alfabética para que o meu sucessor não tivesse que se preocupar com aquilo. Eu estava realmente disposto a me despedir de Fizzy e agradecer por ela ser uma funcionária tão prestativa, mas, como ela estava em horário de almoço, não pude fazer muito além de deixar uma nota em sua mesa.

South Carolina • l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora