Capítulo 1

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O orvalho cobria a relva verde, e uma leve brisa de setembro animava o ar da manhã.
Anahi Giovanna Puente jogou os longos cabelos chocolate para o lado e riu animadamente. O som assustou o cavalo no qual estava montada, fazendo-o mexer-se, nervoso, sobre o pasto úmido.
- Calma, rapaz - Disse delicadamente, acariciando-Ihe a crina.
Ele se acalmou, reagindo à carícia familiar. Ela ganhara Sundance quando ele ainda era
um potro, presente de Poncho em seu aniversário de 16 anos. Agora, Sundance era um cavalo adulto, com cinco anos, mas ainda fazia algumas brincadeiras infantis. Ele se assustava com facilidade e era muito sensível. Exatamente como Anahi Puente.
Os olhos azul-escuros dela brilhavam de animação enquanto observava o horizonte em tons rosa e amarelo, colorindo o céu da alvorada. Era muito bom estar de volta. A escola só para meninas havia refinado suas boas maneiras e lhe ensinara a ter um porte mais elegante, como uma modelo, mas não havia diminuído de maneira alguma seu entusiasmo pela vida, nem a paixão que sentia pela casa de Greyoaks. Embora a casa dos Herreras, na Carolina do Sul, não fosse a casa em que nascera, mas a da família que a acolhera, ela amava cada colina e árvore daquele terreno, como se fosse uma legítima Herrera.
Um risco colorido chamou sua atenção. Ela virou Sundance e viu Christopher Herrera vindo em sua direção, galopando pela relva em um árabe puro-sangue, num casaco de couro que brilhava ao sol. Sorriu enquanto o observava. Se Poncho o visse montado em um de seus garanhões premiados, certamente seria um desastre. No entanto, para a sorte de Christopher, Poncho estava na Europa a negócios. Maude podia proteger o filho mais novo, mas Poncho não protegia ninguém.
- Oi! - Gritou Christopher, sem fôlego. Ele puxou as rédeas, parando bem diante dela, e respirou, jogando para trás o cabelo rebelde. Seus olhos castanhos cintilaram, travessos, enquanto ele observava sua figura esbelta montada no cavalo, como de costume. Mas seu olhar ficou sério quando viu que ela não usava capacete.
- Sem capacete? - repreendeu-a.
Ela fez beiço, deixando seus lábios cheios e suaves ainda mais protuberantes.
- Não brigue comigo - pediu - Era apenas um passeio, e odeio usar aquela coisa o tempo
todo.
- Uma queda já bastaria para fazer um estrago - declarou ele.
- Você parece o Poncho!
Ele sorriu ao ver aquele olhar rebelde - Foi uma pena ele não ter estado aqui quando você chegou. Mas ele volta no fim da semana, em tempo para a festa dos Barrington.
- Poncho odeia festas - relembrou ela. Baixou os olhos, fitando o couro elegante da sua sela - E me odeia também, durante a maior parte do tempo.
- Não odeia devolveu Christopher. Mas você sempre o deixa irritado, sua bruxinha rebelde. Eu me lembro da época em que todos vocês veneravam o meu irmão mais velho.
Ela fez uma careta, olhando para o horizonte, onde cavalos árabes puro-sangue pastavam, com os pêlos negros reluzindo ao sol.
- Eu deixo ele irritado? - indagou ela - Ele só foi gentil comigo uma vez, quando minha mãe morreu.
- Ele se preocupa com você, como todos nós - disse gentilmente.
Ela sorriu, calorosa, e esticou a mão num impulso, tocando o braço dele.
- Pareço ingrata, mas não é isso. Você e sua mãe sempre foram legais comigo. Vocês me acolheram em sua casa, me colocaram na escola. Como posso ser tão ingrata?
- Poncho também teve um pouco a ver com isso - relembrou ele secamente.
Ela jogou o cabelo para trás, impaciente - Pode ser - admitiu, relutante.
- Terminar o colégio foi idéia dele.
- E eu odiei! Eu queria ir para a faculdade e estudar ciências políticas.
- Poncho gosta de receber os compradores relembrou ele. Um curso de ciências políticas não lhe ensina a ser uma boa anfitriã.
Ela deu de ombros - Embora você e Poncho sejam meus primos, não vou ficar aqui para sempre - disse - Um dia, vou me casar. Sei que devo muito à sua família, mas não vou passar a vida toda sendo a anfitriã de Poncho! Ele podia se casar e atribuir essa função à esposa dele. Se é que vai conseguir encontrar uma mulher corajosa o bastante - ela acrescentou, rabugenta.
- Você deve estar brincando, prima - zombou ele - As mulheres correm atrás dele como formigas atrás do açúcar. Poncho pode escolher a mulher que quiser, e você sabe disso.
- Deve ser por causa do dinheiro dele, porque certamente não é sua personalidade animada que as atrai!
- Você está chateada porque ele não a deixou passar o fim de semana com Jack Harris - implicou Christopher.
Imediatamente, o rubor tomou conta de sua face - Eu não sabia que Jack tinha planejado ficarmos sozinhos na casa de campo - protestou - Achei que os pais dele também estariam lá. Mas, diferente de você, Poncho foi tirar essa história a limpo.
Ele riu ao ver a expressão dela - Nunca vou me esquecer da cara dele, quando Jack veio buscar você. Nem da de Jack quando foi embora, sozinho.
Ela tremeu ao se lembrar disso - Prefiro esquecer essa cena.
- Com certeza. Desde então, você vem tentando atacar Poncho, mas não consegue atingilo, não?
- Nada o atinge - murmurou ela - Ele não reage enquanto eu brigo e reclamo. Quando acha que já ouviu o bastante, fala com aquela voz fria e me dá as costas. Vai ficar feliz quando eu for embora - disse, com voz tranqüila.
- Você ainda não está indo a lugar algum, não é? - perguntou ele, de repente.
Ela lançou-lhe um olhar malicioso.
- Eu havia pensado em me juntar à Legião Estrangeira Francesa - admitiu - Será que aceitam minha inscrição antes do fim de semana?
Ele riu - Em tempo de escapar de Poncho? Você está sentindo falta dele.
- Estou? - perguntou, fingindo-se de inocente.
- Seis meses é bastante tempo. Já deve ter se acalmado.
- Poncho nunca esquece - suspirou ela.
Anahi deixou o olhar perdido, fitando a casa de pedra que havia ao longe, com seus lindos arcos e grandes carvalhos, erguidos como sentinelas ao redor do casarão.
- Não há necessidade ter uma crise nervosa - disse Christopher, consolador. Vamos apostar
corrida até a casa e podemos tomar o café-da-manhã.
Ela suspirou, cansada - Tudo bem.
Os olhos escuros de Maude se acenderam quando os dois entraram na elegante sala de
jantar e se sentaram na grande mesa de madeira.
Ela tinha a pele morena e os olhos astutos e escuros, como seu filho mais velho. Além disso, também era tão direta e irritadiça quanto ele. Maude não tinha nada a ver com Christopher. Não era gentil ou suave no trato como ele, tampouco tinha a coloração pálida que dominava o rosto dele. Ele havia herdado essas características do falecido pai, e não da mãe, que não se importava em acordar um deputado às duas horas da manhã para fazer perguntas sobre a legislação.
- É bom tê-la em casa, querida - disse Maude a Anahi, esticando a mão graciosa para tocá-la - Tenho estado cercada por homens.
- É verdade - disse Christophee secamente, servindo-se de ovos mexidos - Matt Davis e Jack Nelson quase se digladiaram por causa dela na festa, na semana passada.
Maude o fitou - Não foi bem assim - protestou.
Anahi deu um sorriso malicioso e tomou um gole de café.
Maude mudou de posição, incomodada - De qualquer maneira, eu queria que Poncho estivesse em casa. Essa crise no escritório de Londres aconteceu em um péssimo momento. Eu tinha planejado algo especial para sexta à noite. Uma festa de boas-vindas para você. Teria sido perfeito...
- Não preciso de Poncho para que a minha festa seja perfeita disparou Anahi, sem pensar.
Maude ergueu as sobrancelhas finas e escuras.
- Você ficará revoltada com ele para sempre? - repreendeu-a.
Os dedos se Anahi se contraíram ao redor da xícara de café - Ele não precisava ter sido tão duro comigo! - reclamou.
-Ele tinha razão, Anahi Giovanna, e você sabe disso - afirmou Maude. Ela se inclinou para a frente, apoiando o braço na mesa. - Querida, você não pode esquecer que acabou de completar vinte anos. Poncho tem 34 e sabe muito mais sobre a vida do que você já teve tempo de aprender. Nós a acolhemos-  acrescentou, franzindo o cenho - Às vezes, me pergunto se isso é justo.
- Pergunte ao Poncho - devolveu, amarga - Ele me manteve em uma bolha por anos.
- É o instinto protetor dele - disse Christopher, com um sorriso divertido -Ele lhe dedica um cuidado quase maternal.
- Se eu fosse você, não diria isso a ele - comentou Maude.
- Não tenho medo do meu irmão mais velho respondeu. Só porque ele é mais forte do
que eu, não preciso... Pensando bem, acho que você tem razão.
Maude riu - Você é encantador. Gostaria que Poncho tivesse um pouco de sua capacidade de levar as coisas numa boa. Ele é muito intenso.
- Tenho uma palavra melhor para defini-lo - murmurou Anahi.
-Não é incrível - perguntou Christopher à sua mãe - como ela fica corajosa quando Poncho não está por perto?
- É sim Maude assentiu - Ela sorriu para Anahi - Anime-se, querida. Deixe-me lhe contar o que Eve Barrington planejou para sua festa de boas-vindas, no sábado à noite. Era o que eu ia fazer se Poncho estivesse aqui...

Manha de outono AyA - ADP (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora