beatrice milles. the damage.

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Anastasia pensava apenas nas mãos de Chloe nas suas. Pensava nos seus dedos entrelaçados. Sabia que tudo fora um grande erro e que não deveria ter deixado Chloe aproximar-se tão perto a ponto de machucá-la. De conhecê-la.
Em alguma praça de Cannes, Anastasia ouvia pacientemente o cantar dos pássaros e por uma fração de segundos desejou ser um. Quão bonito é ser livre e independente a ponto de voar sem ter um destino previsto? Pensou e refletiu sobre isso por horas e isso a tranquilizou. Pelo menos não estou pensando nela.
A verdade é que, eu, entendo Chloe. Entendo a tentação que é ser livre. Independente. A liberdade te dá escolhas. Más ou boas. Liberto de tudo, no final do dia não tem alguém do seu lado. Ponto.
Chloe enganava-se e mentia para si mesma. Ela não queria a liberdade. Ela queria ser livre com alguém.
A medida que o tempo passava, Chloe pensava mais em ir vê-la. Não queria incomodar, só queria pegar na sua mão. Não sabia nem se Anastasia queria vê-la. Prosseguiu a sua tarde de fones de ouvidos e uma garrafa de água, escrevia no moleskine amarelo como se estivesse delatando segredos. Era como se entrasse em outro mundo quando escrevia. Todo dia uma folha em branco. Todo dia eu faço as regras.
Olhando fixamente para o teto estrelado - figurinha que brilhavam no escuro, presente de sua avô - Anastasia pensava em sua família. Quem com cinco filhos iria importar-se com um deles e o mais fodido? Ninguém.
De relance, olhou para a única janela que havia no apartamento - tirando a do banheiro, minúscula - e decidiu dar uma volta. Tomar um ar. Quem sabe eu a veja. Quem sabe não. Sentou-se na beirada da cama a fim de calçado o all-star preto, velho, surrado e o único que tinha. Com o dinheiro que recebia dos pais e de outras histórias, pagava seu curso e a estadia. Pegou a mochila Kanken verde-musgo e desceu a rua. Pegou-se desejando vê-la. Em beija-lá.
A medida que os passos aumentavam, o batimento cardíaco acelerava junto. Perguntou a si mesma se era possível encontrá-la por aí. Ao mesmo tempo que queria vê-la, não queria tê-la por perto. Não queria arrasta-lá para seu pesadelo.
Perdida nos próprios devaneios, Anastasia esbarrou no diabo de cabelos ruivos. Beatrice. O que ela está fazendo em Cannes, merda?! As duas se encararam por dez segundos e continuaram com a caminhada. 3 anos. Los Angeles.
Why did you took so long to realize?

SPRING and all the other seasonsWhere stories live. Discover now