September, 25

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Chlöe acordara no susto e quando pegou o celular de cima da cabeceira deu-se conta de que ainda era de madrugada. Planejara fazer algo com os amigos pela tarde, mas queria acordar cedo. Chlöe encontrou Beatrice ontem. No começo Chlöe nem sabia que Beatrice estava no país. Ela sempre me encontra. Pela primeira vez Chlöe não pensara que fosse destino, só conseguia pensar em como manter Beatrice afastada de Anastasia. Não quero ela perto da minha felicidade. Chlöe olhou para o celular e pensou em chamar Anastasia.
- Oi. Tá acordada?
Enviou a mensagem e bloqueou o celular. Chlöe tinha um speaker e o deixava debaixo da sua cama pois o speaker era conectado ao iPod e ela costumava dormir ouvindo suas músicas. Chlöe fechou os olhos enquanto apreciava a música e por uma fração de segundo adormeceu. Mas o sono fora interrompido por uma mensagem de Anastasia.
- Não estava, mas agora estou. Aconteceu algo?
Até por mensagens ela consegue ser delicada.
- Nada demais. Não consigo dormir. Desculpe atrapalhar - Chlöe digitou com os olhos semiabertos.
- Você quer vir aqui? Se não estiver muito tarde pra você, óbvio.
Mas a questão foi que, Anastasia demorou uns minutos para responder e Chlöe já estava no milésimo sono quando a mensagem chegara. No outro lado da tela, Anastasia digitara e levantara para preparar-se uma xícara de café com leite. Não sabia se Chlöe havia pegado no sono ou se ela somente não queria vê-la, mas estava tudo bem por ela. Com as meias amarelas até os joelhos, Anastasia prendeu os cabelos até o topo de sua cabeça e sentou-se com sua xícara no chão de sua sala. Pegou de cima do sofá seu livro favorito que estava relendo pela sétima vez e bebericava seu café enquanto passava as páginas com os dedos.
Noite passada, Anastasia passou a madrugada fazendo maratona de séries que ela nunca cogitara ver na vida. Foi mais para livrar-se de pensamentos passados. Mas agora sentada com as pernas cruzadas, o único pensamento que pairava sob sua cabeça era quem tinha matado quem no livro.
Anastasia levantou-se para pegar o celular e ver se havia alguma mensagem de Chlöe. Nenhuma. Abriu a galeria de fotos para admirar algumas fotos que tinha de Chlöe. Agora que Anastasia tinha um celular poderia ter Instagram. Havia criado um para seguir Chlöe e até onde conseguira ver, havia muitas fotos da garota e Anastasia salvou todas. Mas na galeria não havia somente fotos da Chlöe, havia fotos dela também. Havia uma em especial que fez Anastasia clicar para ver melhor. Havia uma garota de cabelos compridos e escuros como a noite em uma piscina. A garota olhava de relance para a pessoa que estava por trás do celular e seus cabelos pingavam. Ela sorria. O sorriso dela deixou Anastasia nostálgica. Sentia falta desse tipo de felicidade. Não era felicidade, sua besta. Era êxtase. Notou que a menina de cabelos molhados e sorriso frouxo usava um batom vermelho que, por ora, estava borrado. Mas logo depois ela tirou. Passou por outras fotos e não sabia quem aquela garota ela. Ela usava roupas apertadas e era um padrão: vermelho e preto. Às vezes uma cor diferente, mas sempre vermelho e preto.
Anastasia estava dormindo sentada quando ouviu alguém batendo à porta. Ela veio. Ajeitou os cabelos e deixou o livro em cima do sofá. Quando abriu a porta, não era quem pensava que fosse.
Na frente de Anastasia estava parada a única coisa que ligava ela ao seu passado.
- Beatrice, o que está fazendo aqui? - ela perguntou e logo depois notou que a menina trazia consigo sua cachorra, Janis - E por que, diabos, você está com a Janis?
- Boa noite, Anastasia. Tudo bem com você? Comigo tudo ótimo - ela jogou os cabelos vermelhos pro lado e deu uma risada sarcástica - Posso entrar, querida?
Beatrice nem tivera tempo de terminar a sentença pois Anastasia bateu a porta na sua cara. Respirou fundo. Olhou para os seus pés, para seu corpo... Estou horrível. Pareço uma criança da sétima série. Se recompôs e deu um suspiro. Abriu a porta.
- Entre. E deixe Janis no chão.
Beatrice Milles reparou na casa de Anastasia. Era bem diferente da que antes tivera, claro. Essa garota nunca iria se manter tendo uma casa luxuosa.
- Então, Beatrice, o que você quer?
- O que eu quero, Anastasia? Ah, eu quero muitas coisas. Quero a primavera de volta, principalmente - ela virou-se para os livros nas estantes e soltou uma risada - Você lê agora?
- Eu sempre li, Beatrice. Você que nunca prestou atenção. Pare de trocar de assunto, eu quero explicações. Como eles me acharam?
- Eles? Ninguém te achou. Além de mim, claro. Eu tenho minhas fontes. Bom, pelo menos eu acho que ninguém te achou. Como você não deu falta de Janis? - ela indagou arqueando uma sobrancelha à mim.
- Eu ando preocupada com outras coisas. Você invadiu a minha casa? - ela esbravejou.
- Outras coisas, né... Eu vejo - ela disse enquanto reparava no apartamento minúsculo e cheio de tralhas - Então eu não invadi nada, só entrei para pegar o que era meu por direito.
- Janis? Sua por direito? Conta outra - Anastasia riu debochadamente.
- Não vim para relembrar o passado, Anastasia. Vim para te convidar a voltar. Ninguém me mandou, juro. Eles não se importaram mais com você desde que sumiu. Mas eu me importo - os olhos negros miraram o fundo da sua alma. Eu pude sentir.
- Muito obrigada, mas tenho a minha vida aqui já.
Beatrice aproximou-se de Anastasia e por um momento Anastasia jurou que conseguira ouvir o batimento cardíaco da menina. Beatrice envolveu-se à Anastasia, Anastasia em uma falha tentativa tentou desvencilhar-se. O celular de Anastasia tocou do outro lado da sala e Beatrice largou a menina. Os saltos finos de Beatrice batiam no solado fino do apartamento de Anastasia enquanto o cabelo de fogo saía pela porta.
- Eu vou voltar. Por nós.
- Nós não existe. Nunca existiu - Anastasia gritou em meio a soluços. O celular mostrava que havia uma chamada perdida. Chlöe.
Anastasia ligou rapidamente de volta para Chlöe e o sangue voltou a correr normalmente quando a voz pesada de Chlöe ecoou pelos ouvidos de Anastasia.
- Oi. Não consegui dormir. Estive pensando em você. E nas suas mãos. E no seu cabelo. Caralho. Eu amo o seu cabelo.
Fora a primeira vez que Anastasia ouvira um "amo" de Chlöe. Mesmo que fosse um "amo o seu cabelo".
- Oi.
- Você está bem?
- Não poderia estar melhor.
- A gente pode dormir na linha?
- Claro.
Naquele momento Anastasia tinha certeza de que era ali o seu lugar. Naquela ligação. Naquela respiração.

SPRING and all the other seasonsWhere stories live. Discover now