Utopias

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Tinha ouvido falar que, no fim da tarde, iria chover. A louca logo lembrou que, quando era criança, sonhava em tomar banho de chuva, mas a mãe não deixava, pois tinha medo dela ficar resfriada. Logo, foi só falar de chuva que a doida veterana resolveu planejar uma fuga. Ah ela tinha que banhar na chuva e era hoje!

No almoço, contou a novidade para as amigas; estas nem ligaram: brincavam com os seus talheres e com os seus devidos pratos de sopa. Uma brincava de navio e mar, a outra, sei lá. A nossa doida percebeu que não adiantaria nada de nada se ficasse espalhando seus planos para o doideral de doidas: precisava ficar calada, muito bem calada.

Depois do almoço, todas para o quarto. Rosy, a doida, começou a planejar a fuga: pela janela que tem lá fora? Faço um túnel pelo chão? Não sabia. Viu que tinha uma saída. Uma saída pela parede. Um pequeno basculante a olhava, mas como ultrapassá-lo? Tão fofinho, tão pequeno... Não sabia. Só sabia que queria banhar de chuva. Era o seu único sonho.

O tempo passava e a nossa louca preferida não sabia o que fazer. As outras dormiam, mas Rosy perseguia e, de quando em quando, uma ou duas acordavam, mas logo dormiam de novo. Rorô, Rosynha, não sabia se vigiava a porta ou se calculava o próximo passo do plano. Viu que o vigia bonitão estava do lado de fora; não tinha como sair. Mas, uma ideia repentina surgiu: nossa doida favorita viu um banco; logo, calculou que, se subisse naquele banco que avistara, alcançaria o basculante, onde tentaria sair para tomar o seu desejado banho de chuva.

Lá estava ela, tentando subir. Logo que subiu, começou a adentrar pelo espaço da pequena janela, mas não conseguiu: pelo pouco espaço, Rosy ficou entalada e não sabia o que fazer. Chamava as amigas, suas loucas, mas nenhuma delas deram atenção, nenhuma delas vieram ajudar.

Rosy, coitada, desatou a chorar. Por que estava naquele lugar que tanto a impossibilitava de ser feliz e de sorrir?

De repente, a tarde começou a escurecer. Um relâmpago anunciou o grande espetáculo. A ventania fez-se presente, movendo os cabelos da nossa amada Rorô. Logo, logo, a chuva começou a cair: Rosynha começou a sorrir de felicidade! Parece que sentia os pingos d’água molharem todo o seu corpo, lavando sua alma e a libertando daquele horrendo lugar. Foi uma sensação única!

Demorou um pouco até um arco-íris aparecer. Rosy permanecia entalada quando deparou-se com um colorido surgindo no céu cor de cinza. Uma vez, ouvira dizer que no fim do arco-íris tinha ouro. Logo, sonhou em ser rica, cheia de joias e brilhantes. E eu, sonho daqui de fora, sonho em ver essa moça longe daquele lugar, pois, por estar aqui descrevendo essa sua utopia que é a liberdade me faz um ser profundamente apaixonado por ela.

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