Sistema

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6 da matina. Thássila já acordava cansada, procurando o par de sapatos furados e surrados, arrumando, ao mesmo tempo, o material das aulas do dia.

Na cozinha, a mesa há estava servida: pão, leite, café e bolo. Para economizar o tempo, um pouco de café preto para matar o sono era o necessário para ela seguir em frente. Não estava faminta. Estava mesmo era eufórica. Sua mãe e seu o pai já haviam saído. Ambos não possuíam nem meio segundo de tolerância para atrasos nos seus devidos trabalhos.

Enquanto isso, Thássila ainda corria e alinhava-se para sair de casa. “Aula às 7, aula às 7! Sala 9A, sala 9A!”, repetia freneticamente. Resultado: Já devia ter perdido o ônibus das 6 e 15, obviamente! Mas nada que uma breve caminhada para esquecer esse fracasso!

Na rua, a parada estava lotada. Pessoas com caras de sono, estatualizadas. Thássila lia o capítulo do novo livro que comprara, empolgada, com um sorriso no rosto e nos olhos. Até que chegou o ônibus: todos subiam lentamente, como zumbis, enquanto Thássila subia depressa para garantir um assento. Conseguiu!

No ônibus, a mocinha lia cada capítulo como se fosse o último, suando, tremendo, passando mal. Enquanto isso, a vizinha do lado respondia uma mensagem no WhatsApp, sorrindo por ter recebido uma foto matinal daquelas do namorado.

Já Thássila, empolgara-se tanto com sua leitura nova que perdeu a parada da escola. Está na segunda após essa. Sem perceber, levantou-se, quase que correndo, correndo não: pulando. Ao mesmo tempo, roía as unhas, pensando em como seria o próximo capítulo da história: a Selma morreria? Não sabia. A moça do lado discutia sobre o assassinato da noite passada na rua sem nome. Thássila continuava a tremer. Chegou a hora: Thássila desceu. Só queria saber de Selma.

Na parada, tremia de sono e frio. 5 da manhã. Thássila precisava chegar às 7 no trabalho, só que, pela distância, necessitava sair bem cedo. Já no ônibus, via seu celular: nenhuma mensagem, nenhuma curtida, nenhuma novidade. O dia havia ficado mais cinza. Não queria ouvir música; resolveu sintonizar na rádio de notícias: mais um capítulo de dezenas de assassinatos em série. Tremia, mas tremia por temer ser a próxima.

7h02. Desceu quase que correndo do ônibus; o chefe brigou. Thássila roía as unhas só de pensar em ser despedida. Mas não. Ela saiu, mas só foi para tomar uma água com açúcar. Tudo ficaria bem: o fim da tarde chegaria e ela poderia ir para casa, onde aguardaria as boas notícias que o norte ainda traria.

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