Havia algo errado. Soube disso no instante em que passei pela porta. Com uma mão, acendi a luz, e com a outra, larguei a bolsa no sofá. Um pouco além do corredor fracamente iluminado, o brilho repentino era atordoante. Luzinhas pipocaram diante dos meus olhos. Quando sumiram, só o que vi foram espaços... Espaços nos quais, naquela mesma manhã, havia coisas.
Como o sofá.
A minha bolsa bateu no chão e todo o seu conteúdo saiu rolando: absorventes internos, moedas soltas, canetas e maquiagem. Um desodorante roll-on rolou até um canto. O canto estava agora vazio, visto que tanto a TV quanto ao rack tinha sumido. A minha mesa e as cadeiras retrô de segunda mão permaneciam ali, assim como a estante abarrotada de livros. Mas o resto do cômodo estava vazio.
- Ariana?
Nenhuma resposta.
- Mas que merda é essa? – Pergunta idiota, pois o que acontecera ali era bem óbvio. Á minha frente, a porta do quarto da minha colega de apartamento estava escancarada. Nada além da escuridão e ninhos de poeira ali. Não havia como negar.
Ariana me deixara na mão.
Meus ombros penderam com o peso de dois meses de aluguel; alimentação e contas de água e luz me esmagaram. Até mesmo a minha garganta se contraiu. Então, essa era a sensação de ser ferrada por minha amiga. Eu mal conseguia respirar.
- Camila, posso pegar o seu casaco de veludo emprestado? Prometo que... – Dinah, a vizinha do apartamento ao lado, havia entrado (bater à porta nunca foi seu estilo) e, assim como eu, parou atordoada. – Onde está o sofá?
Respirei fundo e soltei o ar devagar. O que não ajudou em nada.
- Acho que ariana o levou.
Abri a boca, mas, sério, o que havia para ser dito?
- Ela se foi e você não sabia que ela ia embora? – Dinah inclinou a cabeça, fazendo com que a cabeleira loira balançasse. O meu é castanho e bem fino.
Não que cabelos fossem importantes.
Conseguir o dinheiro do aluguel era.
Ter comida na geladeira era.
Cortes de cabelos? Não tanto assim.
Meus olhos ardiam, a traição ardendo pra caramba. Ariana e eu éramos amigas há anos. Eu confiara nela. Falamos mal dos homes e partilhamos segredos, choramos uma no ombro da outra. Aquilo simplesmente não fazia sentido.
Só que fazia
Fazia tanto sentido de uma maneira dolorosa.
Não. – A minha voz saiu estranha. Engoli com força, pigarreando. – Não, eu não sabia que ela estava indo embora.
Dinah - Estranho. Vocês duas sempre pareceram se dar bem.
- Pois é.
Dinah – Por que ela iria embora assim?
- Ela me devia dinheiro – Admiti, ajoelhando-me para apanhar o conteúdo da minha bolsa. Não para rezar para Deus, tinha desistido dele há muito tempo.
Dinah – Você tá de brincadeira. Que filha da puta!
- Amor, a gente vai se atrasar. – Normani, minha outra vizinha, ocupou o vão da porta, com o olhar impaciente. Ela era uma mulher grande, com certo charme. De costume, eu invejava a namorada de Dinah, mas naquele instante, toda a glória de Normani se perdeu para mim, de tão ferrada que eu estava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Camren G!P
FanfictionLauren precisava de uma namorada de mentira. Camila precisava de ajuda. Mas será que ambas conseguirão manter sentimentos e negócios separados? Lauren jauregui, uma baterista intersexual da mundialmente famosa banda de rock Stage Dive, precisa m...