Capitulo 1- camila

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     Havia algo errado. Soube disso no instante em que passei pela porta. Com uma mão, acendi a luz, e com a outra, larguei a bolsa no sofá. Um pouco além do corredor fracamente iluminado, o brilho repentino era atordoante. Luzinhas pipocaram diante dos meus olhos. Quando sumiram, só o que vi foram espaços... Espaços nos quais, naquela mesma manhã, havia coisas.

Como o sofá.

A minha bolsa bateu no chão e todo o seu conteúdo saiu rolando: absorventes internos, moedas soltas, canetas e maquiagem. Um desodorante roll-on rolou até um canto. O canto estava agora vazio, visto que tanto a TV quanto ao rack tinha sumido. A minha mesa e as cadeiras retrô de segunda mão permaneciam ali, assim como a estante abarrotada de livros. Mas o resto do cômodo estava vazio.

- Ariana?

Nenhuma resposta.

- Mas que merda é essa? – Pergunta idiota, pois o que acontecera ali era bem óbvio. Á minha frente, a porta do quarto da minha colega de apartamento estava escancarada. Nada além da escuridão e ninhos de poeira ali. Não havia como negar.

Ariana me deixara na mão.

Meus ombros penderam com o peso de dois meses de aluguel; alimentação e contas de água e luz me esmagaram. Até mesmo a minha garganta se contraiu. Então, essa era a sensação de ser ferrada por minha amiga. Eu mal conseguia respirar.

- Camila, posso pegar o seu casaco de veludo emprestado? Prometo que... – Dinah, a vizinha do apartamento ao lado, havia entrado (bater à porta nunca foi seu estilo) e, assim como eu, parou atordoada. – Onde está o sofá?

Respirei fundo e soltei o ar devagar. O que não ajudou em nada.

- Acho que ariana o levou.

Abri a boca, mas, sério, o que havia para ser dito?

- Ela se foi e você não sabia que ela ia embora? – Dinah inclinou a cabeça, fazendo com que a cabeleira loira balançasse. O meu é castanho e bem fino.

Não que cabelos fossem importantes.

Conseguir o dinheiro do aluguel era.

Ter comida na geladeira era.

Cortes de cabelos? Não tanto assim.

Meus olhos ardiam, a traição ardendo pra caramba. Ariana e eu éramos amigas há anos. Eu confiara nela. Falamos mal dos homes e partilhamos segredos, choramos uma no ombro da outra. Aquilo simplesmente não fazia sentido.

Só que fazia

Fazia tanto sentido de uma maneira dolorosa.


Não. – A minha voz saiu estranha. Engoli com força, pigarreando. – Não, eu não sabia que ela estava indo embora.

Dinah - Estranho. Vocês duas sempre pareceram se dar bem.

- Pois é.

Dinah – Por que ela iria embora assim?

- Ela me devia dinheiro – Admiti, ajoelhando-me para apanhar o conteúdo da minha bolsa. Não para rezar para Deus, tinha desistido dele há muito tempo.

Dinah – Você tá de brincadeira. Que filha da puta!

- Amor, a gente vai se atrasar. – Normani, minha outra vizinha, ocupou o vão da porta, com o olhar impaciente. Ela era uma mulher grande, com certo charme. De costume, eu invejava a namorada de Dinah, mas naquele instante, toda a glória de Normani se perdeu para mim, de tão ferrada que eu estava.

Camren G!POnde histórias criam vida. Descubra agora