DOIS DE DEZEMBRO: NÃO VOLTE OUTRA VEZ

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   É incrível, não é mesmo? É incrível quando tudo se transforma em caos quando a paz tenta habitar em nossa vida, é incrível como tudo desaba quando você acha que já tem o controle da situação, é doloroso demais.

Naquele dia, dois de dezembro, eu já sabia que ficaria sozinho em casa porque a minha mãe ia precisar enfrentar mais uma jornada de trabalho duplo para conseguir pagar as nossas contas no final do mês, sendo assim, eu não tive nenhum entusiasmo ao chegar do colégio e subir as escadas de casa, entrando no meu quarto que sempre funcionou como uma espécie de esconderijo, afinal, era lá que eu ficava na maior parte do tempo e era lá, somente lá, que eu me sentia bem.

Normalmente quando eu abro a porta do meu quarto eu encontro uma cama de solteiro bagunçada, um armário em cor preta, um tapete felpudo em cor branca, uma estante repleta de livros, alguns quadros, alguns pôsteres e a minha grande janela que tem a bela visão dos telhados e o céu que está quase sempre nublado lá fora, dessa vez, eu tenho uma surpresa.

— O que você está fazendo aqui? — eu pergunto após me recuperar do susto, ele está sentado em minha cama, de cabeça baixa enquanto segura uma caixa vermelha e o console do seu vídeo game, pensando que aquilo melhoraria alguma coisa.

— Eu vim me desculpar. — Percy diz, ele deixa a caixa de lado e então se levanta para vim em minha direção.

Lá no fundo eu sabia que ele não precisava se desculpar, como você, leitor, agiria se soubesse que a pessoa que você ama está cedendo as laminas e se matando aos pouquinhos? Eu te pergunto, você ficaria bem com isso ou você agiria como o Percy?

Eu preciso de uma opinião, seja você quem for, você que encontrou esse diário, grite bem alto agora, me grite um sim ou um não e depois sussurre em voz baixa os seus motivos, talvez eu consiga te ouvir, isso se o diabo já não estiver enjoado de mim, se ele tiver, então eu já queimei e me tornei o nada que eu sempre fui.

Eu estou escrevendo muito "diabo" nessas páginas, não é mesmo? Talvez vocês pensem que eu sou ateu, mas não, eu não sou, minha mãe tem base em uma religião e acredita no senhor, eu também acredito, eu só não frequentava a igreja muitas vezes.

— Eu errei em ter ido embora ao invés de ter ficado aqui e te apoiado, e é bom ver que você está usando o meu casaco. — eu estava, eu estava usando aquele casaco de pizza que tinha aquele forte cheiro de Percy e eu queria mais, eu queria muito mais, mas eu estava com medo do que viria depois disso.

— Você não pode continuar aqui, Percy. — minhas palavras saem com fraqueza, não é isso o que eu quero dizer. — Não podemos ficar juntos porque eu não quero ter ninguém fingindo que se importa comigo sem se importar de verdade.

— Augustus! — ele me segura pelos braços. — Eu realmente gosto de você, eu gosto de cada parte minúscula do seu corpo, eu amo você por inteiro e embora isso esteja acontecendo em pouco tempo, eu sei que tenho um sentimento aqui guardado e ele é só seu, aceite isso, aceite que eu não sou como todos os outros que passaram por sua vida e me permita ficar, me permita ser seu, só seu.

Suas palavras gela o meu coração, é uma incerteza tão grande que eu não sei como reagir, se você estiver lendo isso, Percy, obrigado por me abraçar forte quando eu não sabia o que dizer e não ir embora quando eu apenas te apertava mais e mais, isso foi essencial, mas apenas por alguns minutos, afinal, Augustus Souts não é Augustus Feliz.

— O que você trouxe nessa caixa? — eu questionei após eu finalmente me afastar de você e ir em direção a cama onde estava aquela caixa pequenina e em cor vermelha, você pediu para eu abrir, e dentro dela estava vários doces que comemos nos últimos dias, algumas pulseiras e um novo moletom seu, que droga, Percy Jackson, você havia me ganhado outra vez.

Mas okay, você precisa saber o que de fato aconteceu no dia Dois de Dezembro, nesse dia, uma amiga popular da Amberly estava fazendo aniversário e a maioria do colégio foi convidado, exceto o invisível também conhecido como eu, mas isso foi solucionado quando a Amberly pediu um convite extra e me obrigou a ir também, eu recusei, eu bati o pé e disse que não ia embora o Percy também tivesse sido convidado e tivesse marcado presença, ele até me perguntou se eu queria que ele ficasse comigo mas a minha resposta foi não, um "não" muito claro, eu só queria ficar sozinho.

— A gente se vê no colégio, tudo bem? — ele me perguntou antes de sair da minha casa, estávamos na porta da frente com uma brisa boa envolvendo nossos corpos e o nosso perfume sendo misturado no ar. — Fique bem, se cuide.

E então seus lábios tocaram os meus, um selo tão rápido mas tão bom.

O último.

Quando anoiteceu e eu fiquei cansado demais de permanecer naquela cama olhando para o teto, eu enviei uma mensagem para a Amberly informando que eu iria para a tal festa, eu me senti um pouco intruso por fazer isso, a garota não havia me convidado de início mas quem se importa? Era uma festa, todos estariam bêbados e chapados e sequer notariam a minha presença, eu só queria ouvir um som alto, alto o suficiente para me tirar do poço fundo por algumas horas.

Eu usei o seu casaco de pizza, Percy. O seu casaco de pizza, a minha calça jeans preta e o meu sapato vermelho e desgastado, eu estava me sentindo desconfortável em meio à aquelas pessoas bêbadas e procurava você em todos os cantos até vê-lo com uma garrafa de bebida em mão, beijando outro rapaz.

Obrigado, Percy.

E por favor, não volte outra vez.

Sem amor e sem remorso,

Augustus Souts.


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