Depois de um tempo eu superei a dor de você ter partido, não superei porque quis, superei porque precisei, superei porque eu já estava acostumado com as pessoas entrando em minha vida, fazendo um caos tão bom e indo embora logo em seguida, era sempre assim, elas prometiam ficar, me davam esperanças de que tudo ia ficar bem e depois viravam as costas para mim.
Eu sempre me senti fraco. E eu sempre dependi de outras pessoas para conseguir alcançar a minha felicidade, o que era errado, agora eu sei, mas.. o que você faz quando alguém promete estar sempre ali para cuidar de você e te ajudar se você estiver no fundo do poço se afogando naquela água escura, mas deixando um pedaço da sua mão para fora?
Você acredita.
Você acredita que tudo vai se resolver e acredita que aquela pessoa vai te ajudar porque talvez, anteriormente, você esteve fora do poço e ela esteve lá dentro e você, mesmo cheio de dores e cortes, puxou a mão dela e trouxe-a para o lado da luz.
Acontece que como eu disse antes, as pessoas não se importam com o que você sente, os humanos são assim, não todos, eu sei, mas a grande parte só se importa consigo mesmo, com o seu prodígio e a sua própria paz, elas não se importam se dói, ninguém se importa se você já morreu por dentro mas apenas existe e continua vivendo porque tem que viver.
Depois de você, Kevin, eu desisti do amor, desisti de querer outro alguém para magoar o meu coração e me deixar em cacos outra vez, não que a pessoa fosse conseguir, até porque, antes mesmo de você, o meu coração já havia sido quebrado e não foi por namorados ou namoradas, foi por amigos, foi por pessoas próximas que me trocaram por coisas melhores, eu sempre fui insuficiente mesmo.
Eu sangrei tanto antes, eu chorei tanto, eu me desesperei tanto e essa dor persiste comigo até hoje. Eu não choro por você ter me traído, eu choro por você ter sido mais um que prometeu ficar e me deixou, você me deixou quando eu não tinha mais ninguém, quando eu estava sufocando, desesperado, sem fé e sem esperanças de ter um novo dia feliz como as pessoas costumam dizer, para mim não existia o arco-íris depois da chuva, para mim era uma tempestade sem fim, a mais pior, a mais assombrosa, a mais escura com seus raios que cortavam os céus e me amedrontavam mais do que qualquer coisa.
Eu sempre estive sozinho. Eu sempre soube disso.
Eu passei a evitar festas, mas isso não me impediu de conhecer outras pessoas e fazer novas amizades, nenhuma permaneceu, somente a Amberly, ela sempre esteve aqui, até mesmo a Davinia se foi outra vez e eu agradeço aos céus por ela ter ido antes de ter me causado mais mal.
Mas tudo bem, eu vou dizer-lhes o que de fato aconteceu no dia Vinte e Um de Novembro, eu tive um recomeço, eu conheci uma nova pessoa que aparentemente mudaria tudo e eu, tolo como sempre fui e ainda estou sendo aqui enquanto sirvo de distração para o diabo sentado em seu trono rindo da minha miséria, aceitei a sua entrada em minha vida.
Isso aconteceu em uma biblioteca onde eu havia resolvido ir para pegar alguns livros emprestado porque, segundo a Amberly, uma leitura iria me fazer bem e eu gostava de escrever, eu até tinha livros inacabados salvos em meus arquivos no notebook.
Como eu disse antes, eu me apaixono fácil e bastou você me olhar, Percy, para eu saber que eu estava terrivelmente fodido. Eu recusei, recusei uma, recusei duas e recusei três porque eu estava partido demais para conversar com qualquer outra pessoa, mas você foi persistente, você ficou, você procurava o mesmo livro que eu naquela biblioteca e como se estivéssemos conectados, pedimos ele um uníssono para a bibliotecária que sorriu e nos informou que ali naquela biblioteca, só existia um exemplar disponível porque os outros cinco estavam em mãos de clientes, você não quis esperar e eu sequer estava me importando muito, então eu acabei cedendo.
— Obrigado. — você disse, com aquele sorriso encantador nos lábios. — Percy. — você estendeu a sua mão.
— Jackson? — eu quis brincar e você riu, o que me salvou da vergonha por ter feito aquilo. Eu aceitei a sua mão e você apertou, aquele foi um dos melhores apertos da minha vida porque havia uma conexão dele, uma conexão que descobrimos dias depois, quando novamente nos encontramos naquela biblioteca.
— Eu sinto muito por levar o último exemplar disponível, mas podemos fazer essa leitura juntos. — você disse após rir. — Eu estou com tempo, quer se sentar comigo em uma das mesas?
Eu deveria ter dito não porque eu não queria me apaixonar por um total desconhecido ou aceitar um pedido assim de primeira, mas eu disse sim. Eu disse sim porque eu estava carente e porque eu queria alguma distração.
Aquela foi a nossa primeira vez, a primeira de muitas. E depois, logo depois, estávamos aos beijos no estacionamento da biblioteca sem nem lembrarmos como havíamos começado aquilo, apenas começou, sem explicações, sem pedidos, como uma rosa que floresce aos pouquinhos e se torna a mais bela do jardim quando antes, era a mais feia.
Foi isso que aconteceu, o nosso amor brotou das escuras e você em pouquíssimos dias conseguiu curar feridas que ninguém conseguiu antes, você estava me salvando, me reconstruindo, mas eu sabia que ia cair novamente.
Sem amor e sem remorso,
Augustus Souts.
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O Diário da Minha Morte
NouvellesSe você achou esse diário, eu sinto muito, mas já é tarde demais. LEMBRETE: Esse livro contém gatilhos, não leia se não estiver em um bom momento. A história é real (embora com alterações para se encaixar em uma história). Para muitos que perguntam...