VINTE E SEIS DE NOVEMBRO: VOCÊ ME QUEBROU

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   Estávamos indo rápido demais e eu estava com medo de onde isso poderia me levar, mesmo assim, eu não decidi puxar o freio dessa vez, eu apenas deixei que você me guia-se por todo o caminho porque eu já estava cansado demais de continuar nessa estrada sozinho, Percy, e você me guiou.

Os cortes foram se fechando, se transformando em cicatrizes que eu sonhava em não abrir nunca mais e aos poucos você foi passando linha preta pelos pedaços do meu coração e dando alguns nó para que ele não se partisse outra vez, eu te agradeço por fazer isso, eu te agradeço por tentar e eu te agradeço por você ter sido bom e suficiente por muito tempo, você foi um anjo na minha vida repleta de demônios e em tão pouco tempo, eu consegui te amar de verdade.

Mas tudo bem, agora você que achou esse diário, precisa saber o que aconteceu no dia vinte e seis de novembro e o porquê disso me quebrar.

Estávamos juntos há cinco dias, Percy, sim, foi pouco tempo mas eu já havia me entregado completamente, eu sempre fui intenso demais.

Naquele dia vinte e seis estávamos na sua casa jogando vídeo game, sua mãe trabalhava durante o dia e só voltava durante a tarde, pelo menos foi isso o que você me falou, e seu pai havia deixo vocês há três meses atrás, ele havia escolhido outro rapaz e isso deixou sua mãe bastante triste, eu entendo ela.

— Você quer um pouco de pipoca? — você me perguntou enquanto eu passava por aquela fase onde o rapaz que eu havia escolhido como meu jogador precisava matar os zumbis para conseguir entrar na caverna.

— Pode ser. — eu respondi, pausando o jogo para olhar para você. — Mas só se você quiser comer também, não vou fazer isso sozinho.

Eu sempre fui muito tímido.

— Tudo bem, eu como com você. — você respondeu e então me entregou um belo sorriso que fazia o meu coração recém-costurado bater mais forte. — Eu fiz uma playlist para nós dois ontem a noite, são algumas músicas que me lembra você, eu quero que você escute, tudo bem? — você me perguntou enquanto tirava o seu celular da sua calça jeans rasgada, ela combinava muito bem com seu casaco preto de pizzas e a sua touca. — Abra o aplicativo enquanto eu desço para fazer a pipoca, se quiser um fone, tem um dentro da minha mochila, o nome da playlist é Pergus.

E então você saiu do quarto me deixando com o celular em mãos, eu achei uma invasão de privacidade me levantar da sua cama e ir atrás do seu fone, abrindo a sua mochila e talvez vasculhando o que poderia estar ali dentro, sendo assim, eu continuei sentado em seu edredom cor branca que combinava com minha calça preta com rasgos e frases costuradas.

A Playlist tinha vinte e uma músicas, vinte e um foi o dia em que a gente se conheceu, seria coincidência? Eu vou citar algumas músicas aqui, talvez você que está lendo isso agora, queira ouvir também.

Um: Bad Together da Dua Lipa

Dois: Heaven de State of Sound

Três: Two Pieces da Demi Lovato

Quatro: Be My Babe da Ariana Grande

Cinco: Wild do Troye Sivan

Seis: Begging da Dua Lipa

Sete: Nightingale da Demi Lovato

A primeira música que começou a tocar foi de The Neighbourhood e eu já não me lembro o nome da canção, mas sei que essa era a sua banda favorita, conversamos muito sobre tudo durante esses cinco dias, e logo eu descobri várias coisas sobre você, seu super-herói favorito era o Capitão América, o meu era o Batman, você ama marshmallows e eu também, tínhamos até o mesmo gosto pela leitura e escrita, você era perfeição demais para uma pessoa quebrada como eu.

Nas páginas anteriores eu disse: "Foi isso que aconteceu, o nosso amor brotou das escuras e você em pouquíssimos dias conseguiu curar feridas que ninguém conseguiu antes, você estava me salvando, me reconstruindo, mas eu sabia que ia cair novamente."

E eu fui pro fundo novamente quando você recebeu uma mensagem que eu não deveria ler mas li, eu sei que eu invadi o seu espaço, mas estávamos tendo algo e eu era inseguro demais, se você estiver lendo isso, eu te peço desculpas, mas o meu coração já foi muito maltratado.

Um menino havia flertado com você algumas horas antes que eu chegasse e você respondeu aquilo de forma muito positiva na minha opinião e então, depois de algumas horas, ele veio te responder.

Nesse momento, nesse infeliz momento, o seu celular estava em minhas mãos e eu acabei recebendo aquilo como um tiro em meu coração que fez todas as feridas voltarem a se abrir e todos os nó que você fez em meu coração se tornarem fracos o suficiente para se romperem, eu havia confiado em você, eu havia fechado meus olhos e mergulho em um mar tão sereno que se transformou escuro e frio após aquele ato, eu, que antes sabia mergulhar em suas águas rasas, agora eu estava me afogando e não sabia se conseguiria sobreviver à tempestade estando dentro da água.

Eu deixei o seu celular em cima da cama com a conversa aberta, eu não respondi, eu não fiz absolutamente nada, eu só deixei as lágrimas rolarem em meu rosto enquanto eu descia as escadas da sua casa no meu silêncio perfeito que eu adquiri durante os anos, eu agradeci por você ter uma parede que separava a cozinha da sala e uma porta que ficava fechada para os visitantes não terem visão do ambiente em que você estava, sendo assim, eu abri a porta da sua casa na maior delicadeza e voltei para o meu mundo real onde eu sabia que não existia amor, apenas mágoas.

Eu estou usando muitos "eu" outra vez, mas esse é um diário, eu preciso falar de mim, eu preciso falar do meu eu e eu preciso narrar tudo o que me levou a sumir da forma que eu sumi, tudo o que me levou a estar aqui agora, dançando com o diabo que provavelmente já está enjoado da merda que a minha vida é.

E foi isso o que aconteceu no dia Vinte e Seis de Novembro, você me quebrou, Percy, você me deixou em caquinhos outra vez, você reabriu as feridas e você me deixou sufocar enquanto eu implorava por ajuda.

Sem amor e sem remorso,

Augustus Souts. 

O Diário da Minha MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora