EXTRA: EU ENCONTREI

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AMBERLY

   Naquele dia eu fiquei sabendo que o Augustus havia deixado o colégio de forma conturbada e eu não estive ao seu lado para ajudar, eu me senti uma péssima amiga por isso.

Antes mesmo do último sinal tocar, eu resolvi pegar as minhas coisas e ir atrás dele, do único amigo de verdade que eu sabia que tinha. Conhecendo o Augustus do jeito que conheço, eu sei que agora, ele está na pior.

— Para onde você está indo? — Percy me parou enquanto eu andava pelos corredores na maior pressa, com o celular próximo ao ouvido numa nova tentativa de ligar para aquele que não estava atendendo.

Meu Deus, o Augustus estava me preocupando.

— Estou indo procurar o Augustus, acho que você já sabe o que aconteceu, não sabe? — eu questionei e ele se fez de surpreso antes de concordar com a cabeça e dizer que iria me acompanhar nessa busca. — Não, não venha. — eu forcei. — Ele não precisa de um Kevin, ele não precisa de um Percy, ele precisa de um amigo, eu sou a melhor amiga dele.

— Você está dizendo que isso é culpa minha, Amberly? — ele parecia estar chateado com a insinuação que eu sequer fiz.

— Se você está se culpando, o problema não é meu. — alfinetei. — Eu não disse absolutamente nada, só afirmei que o meu amigo não precisa de homem algum para fazê-lo feliz, agora se você me permite, eu vou atrás dele. — e então eu dou alguns passos em direção à porta principal. — E por favor, quando você encontrar os garotos do time, diga a eles que eu tenho uma navalha e eu vou usa-la para cortar cada um dos seus sacos. — pisco após terminar de falar, e eu não estava brincando.

Meu pulmão está queimando mas eu não paro de correr, talvez esteja na hora de parar de fumar cigarros, agora eu estou vendo os efeitos disso. Meus cabelos agora pintados de verde escuro estão contra o vento forte que vem acompanhado da chuva que vai caindo aos poucos até se tornar intensa, me deixando totalmente ensopada.

Eu não desisto, eu nunca desistiria do Augustus.

Inúmeras coisas me atormentam à cada passo rápido que dou, eu sempre soube que o Gus tinha problemas, sempre soube que ele era desencaixado, mas eu nunca tentei ir à fundo, eu nunca tentei ajudar de outras formas, eu fui uma amiga superficial com um amor fundo demais.

Ele não era apenas o meu amigo, ele era o meu irmão.

Quando finalmente chego na porta da sua casa, encontro a chave extra dentro do vazo de flores que a sua mãe deixa ao lado da porta, minha mão treme ao tocar a maçaneta e então meu grito quase consegue fazer eco por cômodos da casa.

— AUGUSTUSSSSSS?!!

Escadas.

O seu quarto funciona como um tipo de esconderijo, isso começou como uma brincadeira quando éramos menores e tínhamos problemas familiares, aconselhávamos um ao outro a entrar no quarto e fingir que ali era um novo universo, era algo meu e dele.

Quando eu entro dentro do seu quarto, tudo parece estar em ordem, exceto por algo sobre a sua mesinha de estudos, um diário surrado, talvez já usado em muitas ocasiões.

"O Diário da Minha Morte"

Dizia o título que foi escrito com marca-texto em cor vermelha.

Ah não, Augustus! — É o que penso.

A última página escrita está fresca, marcada por algo vermelho que reconheço como sangue, então eu percebo que o sangue não termina por ali, ele segue em alguns pingos pelo chão do quarto e me leva até o banheiro de porta trancada.

Ah não, Augustus! — Eu penso outra vez.

— Gus? — eu chamo enquanto bato na porta. — Gus, você pode abrir para mim? — meus olhos estão começando a se encher daquilo que as pessoas chamam de lágrimas, mas eu sei que uma forte tempestade está por vir, e não é aquela lá fora. — Augustus, por favor.

Eu sempre tive uma bela agilidade em abrir portas com grampos de cabelo e é essa agilidade que uso agora. É apenas alguns giros e empurrões e então a porta é destravada, me permitindo ver uma imagem nada legal.

Augustus estava deitado dentro da banheira cheia de água avermelhada, seus olhos estavam fechados, seu corpo não estava reagindo. Ele estava morto?

Eu não sei quantas vezes gritei, só sei que o sacudi diversas vezes e implorei para que ele voltasse. Eu estava em prantos e desespero.

Eu informei a sua mãe, também informei a ambulância que demorou em torno de dez minutos para chegar no local.

— Gus. — eu pedi enquanto ele estava sendo encaminhado para o hospital mais próximo, eu acompanhei durante todo o percurso, ao seu lado. — Por favor, volte. 

AUGUSTUS

A morte é fria.

Você não sente dor alguma quando ela vem e eu estava certo em falar que é apenas uma escuridão sem fim, é uma escuridão até você se lembrar de todos aqueles que você ama e deixou para trás.

Eu estou vendo a Amberly.

Ela está me sacudindo, ela está implorando para que eu volte mas voltar significa passar por tudo outra vez, significa ser o garoto fraco que eu cansei de ser, significa sofrer mais e mais à cada dia.

Eu não quero ser fraco, eu não quero continuar sendo pisado por todos ao meu redor, eu não quero me sentir um inútil todas as vezes que eu acordar, eu não quero ser invisível. Eu quero ser feliz.

— Volte, por favor. — ela repete outra vez, dessa vez está acompanhada por minha mãe, no hospital. Enquanto a Amberly está debruçada contra meu peito, a minha mãe está ajoelhada no chão, apelando ao senhor que ela acredita tanto.

Eu sinto muito, Amberly.

Eu sinto muito, Mãe.

— Gus. Você é mais forte do que tudo isso, você sabe que é. Eu não quero que você vá embora sem realizarmos todos os nossos planos, eu não posso continuar aqui sem você, você é o meu irmão. Eu não tenho uma mãe, eu não tenho um pai, eu só tenho você. — ela olha em meus olhos, embora eu não esteja acordado. — Não me deixe sozinha, eu posso não entender a sua dor, mas eu sei o quão difícil é, você não vai passar por tudo isso sozinho, eu prometo.

Muitas pessoas me prometeram muitas coisas. Eu sabia que podia confiar nas palavras da Amberly, eu sabia, mas eu não queria voltar. Eu queria poder me desculpar, mas eu não posso. Eu já não posso fazer ou escrever nada, mas eu cuidarei de ambas aqui, na eternidade.

— Eu sinto muito, mãe. Eu sinto muito, Amber. —são as minha palavras finais e então aquele som emitido pelo aparelho dohospital é ouvido, ele significa que já não há chances, eu parti. 

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