VINTE E OITO DE NOVEMBRO: OLÁ, CORTES

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   Enquanto eu estive destruído apenas a Amberly tentou me ajudar, estávamos na casa dela e eu permanecia com aquele moletom cinza que servia para esconder os novos cortes, dessa vez mais fundos.

Ela estava deitada na própria cama, fumando um cigarro enquanto ouvia algumas músicas e eu estava deitado em seu tapete, jogando uma bolinha de papel para o alto e pegando-o logo em seguida, estávamos assim durante uns dois minutos e o seu pai até fez questão de vim nos perguntar se estávamos sentindo fome, não que ele fosse preparar algo para comermos, afinal, o que um rapaz drogado e alcoolizado consegue fazer para dois jovens? Exatamente, nada.

A Amber vive de forma difícil, o seu pai desistiu de trabalhar e vive da herança deixada pelo pai enquanto a Amberly permanece nessa de roubar lojas de conveniência por lugares longes, eu sei que ela tem um bom dinheiro guardado, ela não é de gastar muito e em todo natal ela me presenteia com algo bom e caro, tipo no ano passado quando ela me deu diversos livros que ficaram no total de trezentos e oitenta e sete reais.

— Você não pode ficar se lamentando por um garoto, Gus. — disse ela após terminar de fumar o seu cigarro e jogar o resto já apagado em minha cara, me fazendo despertar daquele transe com a bolinha de papel que cai em meu rosto.

— Eu confiei nele, Amber. — eu confesso. — Eu confiei de verdade e ele simplesmente me traiu como se eu não fosse um ninguém, ele sequer me deu explicações, não me ligou, não me mandou mensagens, ele não fez absolutamente nada, nada mesmo. — eu tento explicar enquanto ela rola na cama e fica de barriga para baixo com o celular em mãos.

— Discando zero.. — ela começa. — quatro, um, três, dois, um..

— AMBERLY! — eu grito e então me adianto para levantar mas já é tarde demais, ela discou o seu número, Percy, e você atendeu da forma mais rápida que poderia fazer, eu fiquei feliz por isso, feliz demais, mas ao mesmo tempo eu estava sentindo o meu estomago embolar.

— Percy? — Amberly disse com aquela voz doce e delicada que ela tem, aquela voz conseguia convencer homens e mulheres de fazer coisas terríveis, ela até deu um sorrisinho que poderia ser sentido pelo outro lado da linha. — É que eu soube que aconteceu algumas coisas entre você e o amigo, o Augustus. — ela fez uma pausa. — É mesmo? Ah.. eu sinto muito.. — e novamente uma outra pausa. — Rua Vicra, 2125.

E ela desliga.

— VOCÊ PASSOU O SEU ENDEREÇO PARA ELE? — eu gritei após me jogar na cama dela, surtado com o que havia acontecido. — VOCÊ FICOU LOUCA, AMBERLY? — eu estava em uma mistura de sim e não, eu te queria e não te queria ao mesmo tempo, Percy, você havia me desmontado mas eu sempre adorei sentir uma dor, e você estava me fazendo sofrer, mas eu continuava apaixonado pro você.

— Ele chega em treze minutos. — Amberly respondeu. — Enquanto isso, estarei no banheiro tingindo meu cabelo de rosa e fingindo não ouvir se vocês decidirem transar para resolver a situação, tenho bons preservativos e lubrificante guardados no..

— CALA À BOCA, AMBERLYLÂNIA! — eu a chamei pelo nome completo após enfiar a mão em sua boca. — Eu vou te matar quando ele for embora, agora vá pintar o seu cabelo e volte se você sentir que as coisas estão silenciosas demais.

E foi isso o que aconteceu no dia Vinte e Oito de Novembro.

Quando você chegou, com a sua cara de que quem não fez nada, com as mãos enfiadas no bolso e um sorriso que derreteu o resto do meu coração, eu quis sumir.

— Cara bacana o pai dela, me deixou entrar sem perguntar absolutamente nada. — você disse após fechar a porta do quarto e vim em minha direção enquanto eu permanecia calado. — Por que você foi embora da minha casa daquela forma? Eu não entendi.

— Você estava flertando com outro garoto enquanto estava se envolvendo comigo, eu fui errado em ler a conversa mas estávamos tendo algo, me achei no direito, mas me arrependo de ter feito porque isso machucou demais o meu coração.

Você riu da minha cara e então forçou um abraço que eu insisti para não acontecer, pena você ser um pouco mais forte do que eu, se você estiver lendo isso agora, Percy, saiba que eu te amei e te odiei naquele exato momento.

— Ele apenas fez um comentário e eu respondi, eu não aceitei aquilo, eu não continuei aquilo de outra forma, foram apenas uns emojis e uma risadinha e então ele respondeu da mesma forma, por que você acha que eu desejaria outra pessoa sendo que eu tenho você? — você me perguntou me olhando nos olhos.

— Porque é isso o que as pessoas fazem, Percy. — eu respondi, também olhando em seus olhos. — Elas me usam até chegarem no meu limite e depois me descarta como se eu fosse um lixo, e eu sou.

— Retire isso.

— O quê?

— Você não é um lixo, retire o que você falou. — sua mão direita encontrou o meu maxilar e você apertou o lugar com um pouco de força, formando um biquinho em meus lábios. — Retira, por favor.

— Eu não sou um lixo. — eu falei por você, embora eu soubesse que de fato eu era um e estivesse sangrando por dentro e por fora, através daquele moletom que cobria novas partes de uma nova dor.

— Aquele garoto sequer existe em minha vida, está me entendendo? Eu meio que saquei o que aconteceu por você deixar na conversa, eu apaguei não só ela como o número dele, eu não dou ibope para outros desde que bati os meus olhos em você naquela biblioteca, você é como eu, você sente o mesmo, você é a parte escura do meu yin yang e eu gosto muito de você, Augustus.

E então você selou meus lábios e transformou aquele selo em uma pequena mas prazerosa chupada em meu lábio inferior, aquilo foi o suficiente para eu me construir outra vez.

— Eu trouxe algo para você aqui na mochila. — você disse e então abriu aquela mochila preta para tirar algo que eu não fazia ideia do que poderia ser, era o seu casaco de pizza, aquele que você sempre esteve usando nesses últimos dias e eu elogiei bastante. — É seu agora, e está com o meu cheiro. — você sorriu. — Eu quero que você vista agora mesmo, é uma parte de mim em você, assim estaremos sempre juntos.

— Eu não posso vestir agora, Percy. — eu tentei avisar.

— Por que não? — você questionou. — Está frio lá fora, você não quer vestir? — suas perguntas estavam me deixando sem ter o que responder, realmente estava frio lá fora e eu já estava com um moletom, porque eu não poderia vestir o seu?

— Saia do quarto para que eu me troque. — eu pedi.

— Você só vai ficar sem camisa, Augustus, não vai expor parte alguma do seu corpo para mim. — você retrucou e então cruzou os braços frente ao peito.

— Eu tenho cortes. — eu confessei. — Novos e fundos cortes.. E eu estou envergonhado de tê-los feito por achar que você estava me traindo com uma pessoa, eu fui e sou fraco.. eu não quero que você veja isso.

— Eu não acredito que você fez isso. — você disse antes de me soltar e se afastar dali em direção a porta do quarto, você, outra vez, me deixou.

Eu não te culpo, Percy, a culpa nunca foi sua.

Sem amor e sem remorso,

Augustus Souts.  

O Diário da Minha MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora