Fantasiando 2

86 13 12
                                    

Peguei o celular e li mensagens do dia anterior. Meu amigo Bob Gouvêa havia me convidado para ir numa festa a fantasia. O único problema era que:

Eu não tinha uma!

O jeito foi pedir para basicamente todas as minhas listas de contatos alguma coisa que pudesse me fantasiar. A maioria disse que não tinha. A cada minuto que passava, ficava mais frustrada. Percebi que somente quatro meninas poderiam realmente me ajudar: Mariana, Isadora, Ísis e Charllot.

Mariana: levaria uma fantasia dos anos 70, mesmo achando que não caberia em mim. Já que o tamanho do busto dela era consideravelmente  menor do que o meu.

Amora: ofereceu-me sua roupa de ginástica olímpica. Não era bem uma fantasia, mas podia ser útil.

Luciana: me emprestaria o  vestido da Dorothy Gale que ela tinha desde a apresentação do Mágico de Oz, na terceira série.

Charllot: poderia me emprestar sua fantasia da mulher gato, mas ela precisaria encontrá-la antes.

Troquei mensagens com Bob combinando nosso encontro depois da escola e guardei o celular na mochila.  Tirei uma maçã da fruteira e  peguei a maquete que fiz para o projeto. Saí para apanhar o transporte. Durante o percurso me perdi entre devaneios, enquanto ouvia "I Wanna be yours" de Artic Morkeys, me imaginava vivendo um romance épico.

Assim que cheguei tive que apresentar para alguns pais. Ninguém do grupo estava no stand. Expliquei-lhes o projeto, que era uma cidade  sustentável na Inglaterra, e qual a previsão para a sua realização. Admito que inventei muitas informações, mas ninguém percebeu. Ou eu mentia muito bem, ou não estavam verdadeiramente interessados no que era dito. Só queriam voltar para suas vidas individuais e corridas. Voltar para o modo automático. No final das apresentações, oferecia chás como lembrancinhas. Era cômico como o stand enchia assim que eu parava de falar e entregava os copinhos.

— Sam. Também quero! — pediu uma voz masculina. Surgindo por detrás da minha cabeça.

Era meu antigo colega de classe,  Iago Valverde. Nós ainda mantinhamos contato pelo whatsapp, mas já fazia tempo que não o via pessoalmente. Ele estava muito diferente. Bem mais alto.

— Quanto tempo! — puxei-o para um abraço. — Você faz falta!

— Também tenho muitas saudades de você Samanta. — apertou-me.

— Te dou muitos chás se você me ajudar a apresentar. — ofereci.

— Eu não sei nada sobre o assunto. — lamentou.

— Não precisa saber muita coisa, presta atenção no que eu falar e inventa alguma coisa. — sorri. — Ninguém liga!

Os olhos de Iago brilharam com excitação. Ele adorava apresentar para públicos. Gostava de qualquer coisa que colocasse sua voz em destaque.

Passamos horas inventando histórias. De vez em quando, algum professor passava, Iago saia do Stand e eu improvisava com informações da Wikipédia. Até que não estava sendo tão chato. Ao final de cada apresentação, tínhamos crises de risos descontroladas. Nesses curtos momentos de felicidade, meus pensamentos conturbados evaporavam. Tudo parecia estar no seu devido lugar.

Depois do término do primeiro turno, sentamos para descansar. Mariana apareceu.

— Sam. — comprimentou. — Aqui estão as fantasias. — entrougou-me três sacolas pretas. — Charllot disse que não conseguiu trazer a roupa pra escola, pediu para você ir pegar na casa dela.

Assenti e agradeci.  Mariana era sem dúvidas uma das melhores pessoas que eu conhecia. Gostava muito dela.

AmontoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora