A festa já estava acabando. Bob sentou ao meu lado.
— Daqui a um minuto é o meu aniversário! - declarou.
Encarei-o surpresa.
— Sério? — ele concordou com a cabeça. — AAAAA MEU AMIGO, PARABÉNS! — pulei em cima dele. — Que todos os seus sonho se concretizem. Você é uma das poucas pessoas que gosto de verdade. Adoro-te.
— Obrigada! Te amo! — agradeceu. — Pelo menos, não vou gastar dinheiro com festa! — piscou.
Dei risada.
Estava com vontade de comer uma maçã do amor. Será que os doces já estavam liberados?
Levantei da mesa e fui pro espaço do Buffet. Meus olhos brilharam ao ver uma mesa cheia de guloseimas. Perguntei para uma senhora ali presente, parente da aniversariante, se já podia pegar alguma coisa. Ela disse que sim. Ainda bem.
Peguei uma maçã caramelizada e suspirei de prazer. Aquilo só podia ser obra dos Deuses. Ao me verem, um casal foi pegar brigadeiros na mesa. Sentei num banco alto e admirei as estrelas. Era uma bela noite. Vislumbrei a sombra de Theo andando com uma menina ao lado para o parque. Observei quando eles se beijaram e a forma indelicada que ele apertava o pescoço dela. Fiquei incomodada com o que via. Mas não era a indelicadeza dos gestos dele que me irritava. Era o fato de não ser comigo. Não gostei da minha reação, nem estava interessada nele. Ou talvez, estivesse um pouco. Mas o que queria?! Que ele largasse os amigos e fosse atrás de uma garota que não conhecia e mal tinha olhado no rosto dele?
Sim. Todavia, a vida não era como os filmes que eu via todos os sábados à tarde. Ele era só um garoto querendo beijar qualquer uma que desse bola. E eu, uma romântica incurável esperando dos outros mais do que podiam me oferecer.Botei os fones-de-ouvido e coloquei "Hey Jude" dos Beatles para tocar. Comecei a caminhar. Não parava quieta.
Estava andando em círculos, passando pelos mesmos lugares várias vezes. Tirei os fones e acabei ouvindo pedaços de conversas soltas entre duas meninas. Elas aparentavam ter entre doze e treze anos. Ouvi coisas como: "mas eu nem dei pra ele, amiga. Não tenho culpa!". Fiquei assustada. A vida sexual daquela garota deveria ser mais movimentada do que a minha casa no Natal. Só que aquilo era normal. Provavelmente, a maioria dos convidados começaram a transar naquela média de idade mesmo. Eu era a esquisita. A alucinada. Botei os fones novamente e me encostei numa pilastra.
Minha imaginação voou para bem longe. Me via em uma terra mágica. Deitada numa grama com fadas e sentindo o cheiro de torta de limão e cookies. Minha visão estava desfocada, voltei para a realidade. E ela era tão bonita quanto os meus devaneios. Ele estava ali. Sentado. Na minha frente. Fumando um cigarro. A cada trago que dava, as borboletas no meu estômago se agitavam mais. O que diabos estava acontecendo comigo? Não queria saber a resposta de verdade. Queria apenas admirá-lo. Para sempre, ou pelo menos, durante aquela noite. O máximo que desse.
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Amontoada
RandomAntes de ler este livro, irei te pedir para traçar uma linha imaginária, olhe atentamente para frente e imagine uma linha reta sem fim. Agora se imagine caminhando sem desviar da linha, até que seu olhar se perde e você avista uma pessoa. Sua linha...