Eu olhava as vidas cansadas naquela última linha de ônibus que passava pelo centro. O homem fumava e tossia, acho que ele sentia a morte em seus pulmões.
Eu olhava as almas vagando pela janela suja daquele mesmo ônibus, daquela mesma última linha.
Um
Dois
Três.
Sumo.
Assim eu me via naquela noite.
Eu era a própria vida cansada
A própria tosse do homem
A própria alma vagando
E a própria última linha do ônibus.
A cinza da vida
A cinza da cidade
E as milhares de pessoas buscando algum lugar em meio aqueles milhões de carros.
Sacolas e risadas
Rostos e corpos cansados
E a busca cotidiana de ser algo
De ser alguém.
O mesmo corpo cansado
O mesmo rosto cansado
A mesma alma vagando
E todas as noites eu me deito em uma cama rasa
E me pergunto:
E tu? O que te faz?
Eu realmente não sei a resposta
Pois nesse ônibus quase vazio
Com pessoas que julgamos pequenas
Eu me sinto
Menos que nada.
Mas...
Alguém sorriu
Para mim.
Agora sinto.
Nunca irei fenecer.