~ Cent soixante douze ~

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Desculpe porque você sabe que eu andei sendo aquela cor do sol nascente, aquela típica cor que você enxerga apenas quando você está deixando um corpo nu em sua cama e você não pode acordar do lado desse corpo porque não lembra o nome dele, apesar de ter feito sexo. Talvez você não se lembre nem de teu próprio nome.
Me desculpa porque, talvez eu andasse sendo o tipo de pessoa que sempre deixa suavemente sem dar explicações, eu sinto muito por ferir tantas coisas ao mesmo tempo, eu só tinha me perdido em meio a tanta frustração.
Eu odeio admitir, mas ando tão cansada de tanta falsa esperança. Por que você diz que me ama se sabe que não é o suficiente? Presa constantemente em um baú de tragédias.
Amar tão seco e tão lento, amar tão racional. Ninguém está disposto, todos os olhos tão opacos e cansados, sentimento mais verbal e singular do que o sexo.
Eu perco a frustração entre vazio e noites, eu sinto muito por nunca dizer.
Tratando tão cansativo, usar alguém para anestesia.
Unilateral e tão ímpar. Esse amar de indiferença, tão orgulhoso e sem tempo. Cada vez mais água corrente, cada dia mais fumaça. Colocando dedo na língua de alguém, beijando sem sabor. Eu sinto muito por não ser.
E o que deveria? Amar tão bem, não posso. Gritando nesse silêncio tão alto, estando aqui só com corpo, sinto muito coração.
Amando tão devagarinho, medo, insegurança, eu sei.
Mentindo porque esqueci que o faço, errando por desgosto. Eu sinto muito, realmente. Dispensando tanta gente, dispensando almas, nunca se doar o suficiente.
Eu sinto muito por tudo isso ser tão seco e quebrar tão fácil.
Sinto muito por derreter feito plástico, sinto muito por não ser flor de primavera.
Sinto muito por nada disso ser.

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