“Você não se esquece do rosto daquela pessoa que foi sua última esperança.” (Jogos Vorazes)
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Correndo contra o vento, Andy chega no lago com o coração palpitando, e pode sentir seu rosto pingando suor, mas isso não o incomoda. Se tudo der certo, ele irá confirmar sua teoria e principalmente: saber como sua mãe está agora. Isso vale tudo pra o garoto.
Do lado de fora de Alkinea, a luz da lua joga um brilho fraco sobre o lago, e Andy se senta na borda do mesmo para observar as águas que se mexem com harmonia devida a leve brisa que sopra. Assim que fica menos ofegante, Andy relaxa e percebe que seus amigos, juntamente com Maya e Tobby se aproximam em silêncio. Todos parecem estar ansiosos para finalmente conhecer a magia Natal que aquele lago possuí, e o garoto volta seu olhar para a água, depositando nela uma espécie de "fé" que o manejador nunca sentiu antes. E então, como ele já esperava, a luz que ilumina a superfície do lago vai ficando mais forte aos poucos, até começar mudar de forma, ao ponto de formarem imagens nítidas e identificáveis. Ao redor, nenhum som é audível além do coração de Andy que parece dar pulos de ansiedade. Realmente está acontecendo, ele pensa.
Ele se ajeita em uma posição que consegue ver melhor, enquanto um lugar vai se tornando reconhecível no espelho d'água. A sala da diretoria de Alkinea. Tudo é da mesma forma que agora, tirando o fato de alguns móveis lá presentes hoje não aparecerem, o que comprova que aquela cena se passa há alguns anos. De repente, a porta pesada se abre, e de lá sai uma pessoa que faz Andy tremer onde está. Sua mãe, vestida com o mesmo vestido cor de vinho que ele tanto admirou, o cabelo mais bagunçado ainda, com o rosto sangrando na bochecha e com os olhos todos molhados e vermelhos. A mulher sai da sala e caminha pelos corredores de madeira até o exterior da organização. Andy sorri em meio às lágrimas. Suas suspeitas estavam certas. Sua mãe não morreu quando Cháos invadiu sua casa à sua procura. Ela estava viva, ela recorreu à Alkinea e lá foi acolhida. E como Toby relatou, Leila segue até o lago, e se põe encarando sua superfície do mesmo modo que Andy faz agora.
A princípio, a manejadora possui o olhar perdido e vazio, mas aos poucos Andy pode ver que seu semblante vai mudando de dor para alívio, e rapidamente um sorriso arrebatador toma o rosto da mulher. O garoto sabe que naquele momento sua mãe está o vendo pela água, e sentindo a felicidade tomar conta de si. A vontade que ele tem ao vê-la chorando emocionada em meio ao sorriso, iluminada por feixes de luz mágica que o lago refletia, é de saltar na água para de alguma forma ir ao encontro de sua amada, mas tudo que ele faz é ficar de joelhos, atento, quando as imagens começam a mudar.
Enquanto um novo lugar se projeta no espelho que se formava sobre o lago, Andy olha para o lado e vê que Annie chora encarando o lago. Rachel e Nicole parecem impressionadas, como se o que vissem tivessem pegado ambas de surpresa. Tony, Meg e Léo apenas sorriem, enquanto Maya e Tobby mantêm uma expressão séria no rosto. Por um momento Andy se pergunta quem eles estariam vendo, mas logo volta a atenção para sua visão, e agora pode ver o interior de uma casa muito bonita.
Os móveis de madeira brusca, bem polidos e organizados na sala, refletem as luzes de um pisca pisca que se encontra enrolado em uma árvore muito bem decorada no canto da sala. O lugar parece ser aconchegante, e Andy percebe que a imagem agora foca em uma mulher que está sentada em uma poltrona de veludo. Ela veste um vestido verde militar, seu cabelo está enrolado em uma trança jogada sobre as costas, e ela está de cabeça baixa segurando firmemente alguma coisa. Quando ela levanta o rosto, o reconhecimento é tão forte que faz Andy ficar de pé e brotar lágrimas de seus olhos. Aquele cabelo ruivo escuro é o mesmo que ele já admirou tantas vezes quando era criança, aqueles olhos castanhos claros já o olharam tantas vezes com ternura, e aquele sorriso muitas vezes já o fez sentir paz. Algumas rugas começavam a se espalhar ao redor dos olhos da mulher, e sua pele parecia um pouco mais flácida, mas Andy a acha linda e radiante. Leila Dennison, a mãe do garoto, a sua única família, está viva e com saúde, e garoto chora.
Talvez por nunca terem visto o brincalhão e elétrico Andy chorar, todos os demais desviam sua atenção para ele. Parece que em nenhum deles tivera uma visão tão forte, que sua mãe está viva, depois de acreditar por longos anos que a mesma havia morrido.
Léo e Annie se abraçam, e quando Andy sorri para eles em meio ao choro, eles sorriem de volta. Meg conversa com Rachel, empolgada, enquanto Tony se afasta dos demais, refletindo. Andy olha mais uma vez para o espelho d'água, e nem percebe que seus amigos se afastam, para deixar ele sozinho com sua felicidade. Agora ele sorri e dá pequenos pulos, sussurrando baixinho para si mesmo "bublachakla, bublachakla..."
Mais do que nunca, agora ele é aquele garotinho que brincava de colocar fogo nos inimigos, o autêntico "guerreiro flamejante", e de alguma forma, dentro de si chamas ardem. A chama do amor, do amor maternal que ele sabe que agora ainda zelava por ele. Ao comprovar que na sua visão, Leila segura no colo a pequena almofada parcialmente queimada que um dia ele ficou assutado por incendiar, ele percebe que sem dúvidas essa é a noite mais feliz que ele vivera nos últimos anos.
Em uma mistura de lágrimas e sorrisos, o manejador se joga dentro do lago e dá um longo mergulho, como se para acordar e ver que aquilo não é um sonho. Ao sair da água, pode ver que a magia já se dissipou, mas a imagem do rosto de sua mãe ainda é vivo em sua memória, e dentro de si, ele ainda se sente feliz e eufórico. Talvez essa sensação nunca vai passar, ele percebe.
Numa energia descomunal, capaz de mover montanhas, ele sai correndo até onde os adultos e seus amigos estão caminhando de volta para Alkinea. Tobby está mais atrás com Maya, e quando avistam o menino em estado de profundo delírio, o velho Hysk sorri satisfeito com a sua decisão. Qualquer pessoa normal reagiria de forma confusa e revoltada ao descobrir que sua mãe estava viva, mas Andy não. Andy preferiu virar o mundo ao avesso para comemorar, porquê aquele garoto não era nem um pouco normal.
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Apenas Um Conto De Natal
Короткий рассказUma forma diferente de desejar Feliz Natal ao melhor amigo!