Correndo em meio a multidão, eu não via a hora de chegar em casa, podia sentir o cheiro dos waffles que minha mãe fazia todas as terças de longe, eu corria tanto que não fui capaz de perceber quando meu lenço fora levado pelo vento, percebi apenas segundos depois, quando senti o frio em meu pescoço. Virei-me à tempo de ver para aonde ele havia sido levado. Estava pendurado na ponte.
Apressei-me para chegar a tempo, antes que ele voasse para o lago. Quando peguei o lenço, olhei para baixo, e lá estava, na margem do lago. Uma pessoa completamente vestida de preto, não conseguia distinguir se era homem ou mulher. Mas sem dar muita importância, continuei o caminho para a casa.
Estava lendo quando o celular vibrou. Era uma mensagem, numero desconhecido. A mensagem continha um endereço e horário, a ponte no centro da cidade, meia-noite, a mesma na qual meu lenço havia ido parar.
Meia-noite e meia. Nada.
Encolhendo-me de frio, andei até o fim da ponte, não havia ninguém. Ao menos foi o que pensei.
Alguém tapou com um lenço úmido a parte inferior do meu rosto, era um garoto um pouco mais velho, pude ver quando ficou de frente comigo.
O lenço continha cloroformio, pude perceber quando comecei a perder a consciência. Acordei no escuro, em um lugar pequeno, em movimento, eu estava no porta-malas de um carro. Mãos e pés amarrados, não tinha como fugir.
O carro parou, e uma voz começou a balbuciar algo, então o porta-malas se abriu, dando-me uma dor repentina nos olhos, devido a luz constante.
O homem que abriu o porta-malas notou que eu estava acordada, então novamente me fez desmaiar com o cloroformio.
Acordei novamente com os olhos doloridos devido a luz, então decidi ficar com os mesmos fechados por mais um tempo.
Passado-se o que acreditava ter sido quatro segundos, meus olhos se abriram lentamente e pude ver uma sala enorme, onde não continha nenhuma cor que não fosse branco.
Até então, tudo o que havia acontecido, tudo sobre o que eu me lembrava, não passava de rápidos e escuros borrões passando como trens na frente de meus olhos. Era tudo muito rápido, e eu estava perdida e desesperada em meio à tantas lembranças confusas. No momento em que eu finalmente consegui respirar normalmente e me acalmar, eu não fazia a mínima ideia, mas minha vida nunca mais seria a mesma. Tudo o que eu acreditava, nada mais era do que mentiras se desfazendo à minha frente. Mas eu só descobriria isso, algumas horas depois.
Não demorou muito para perceber que não estava sozinha na sala, junto a mim haviam mais oito pessoas que aparentavam ter a minha idade. Estava muito frio, encolhi-me no canto, onde pude ver uma garota acordando do outro lado da sala.
Ela não parecia ter notado onde estávamos, apenas virou-se de lado, e então percebeu que não estava deitada em uma cama com lençóis de seda.
— Mas que...
Levantou-se rapidamente, assustada com a situação.
— Eles estão mortos? — perguntou apontando para o resto.
— Não, só estão desmaiados. Você se lembra de alguma coisa?
Ela olhou em volta, andou por todos os cantos possíveis, procurando uma saída, qualquer coisa. Mas não havia nada.
— A última coisa de que me lembro foi um homem tapar minha boca e então... Aqui estou.
— Recebeu...
— Uma mensagem? — completou. — É, acho que todos aqui receberam.
O silêncio tomou conta do lugar.