O aerófano tecido branco de minhas mangas resplandecia quando entrava em contato com a luz da luminária. O vestido, tão escuro quanto os sapatos, e o cabelo solto, me deixaram com uma aparência melancólica. Meu colar nunca brilhara tanto, em uma ocasião tão triste.
- Pequena erva daninha? - a voz de Caelestis invadiu o quarto, e com um sorriso forçado, tentou quebrar o clima muito pesado.
Seu cabelo estava preso em uma trança, quase se desmanchando. Sua roupa era totalmente preta, não havia sequer um tom diferente.
- Temos que ir... A cerimônia só vai começar às cinco horas, mas teremos que chegar, no mínimo duas horas adiantados.
- Nós temos que ir mesmo? Não o conhecíamos muito bem, não vão saber quem nós somos, ou sentir nossa falta...
- Escute, eu também não quero ir. Mas é o mínimo que podemos fazer, todos do colégio vão estar presentes.
- Certo... Eu vou. Mas com uma condição.
- Que seria?
- Você promete, que quando voltarmos para a casa, irá me contar tudo sobre essa história sobre o Kyle?
- Quem te contou sobre... Esquece, não importa. Eu prometo.
- Sobre o que estão conversando? - Cerys entrou no quarto.
- Nada demais. Só estava dizendo à Violly, que todos os alunos vão...
- Que seja. Me pediram para avisar que sairemos em cinco minutos. - saiu e correu para o andar de baixo.
Cerys era estranha as vezes. Com sua sinceridade, que podia ferir alguém, mais do que uma faca, e sua bipolaridade, que a fazia mudar de humor a cada segundo, vivia em um mundo apenas dela. Onde ninguém tinha o poder de interferir em suas decisões, ou seu modo de agir e pensar.
O barulho da água colidindo com os guarda-chuvas, os raios que cortavam o céu a cada três minutos, o choro da viúva, que era amparada por seus dois filhos, as rosas molhadas sobre o mórbido caixão. Tudo era simplesmente angustiante.
O corpo havia sido encontrado por Catherine Barns, uma aluna do ensino médio. Ela estava andando pelos corredores, quando notou que um estranho líquido avermelhado escorria por baixo da porta de uma das salas da ala leste. Ninguém sabia ao certo, o que a garota havia visto, mas ficamos sabendo que ela havia ficado em estado catatônico por um tempo.
Não suportava mais, olhar para a viúva, que chorava falsamente ao lado do caixão. A mulher sempre fora interessada no dinheiro de seu falecido marido, desde o dia de seu casamento. Seus filhos, não se importavam com nada daquilo, apenas permaneciam calados enquanto consolavam sua mãe. Como eu sabia de tudo isso? Cidade pequena, as notícias e fofocas circulam rápido em lugares assim.
Foi então que, ao longe, eu avistei um rapaz estranho, encostado em uma árvore, sem guarda-chuva, ele observava tudo atentamente, mantendo uma certa distância. Aos poucos, fui me afastando das pessoas, e me aproximando do indivíduo misterioso. Podia sentir a morte ao seu redor, como se fosse um ceifeiro, buscando mais almas.
- Você o conhecia? - perguntei, abaixando o guarda-chuva e o deixando de lado por alguns instantes.
- Pode-se dizer que sim.
- Ele era seu parente? Ou apenas um conhecido?
Permaneceu calado. Sem nenhuma expressão facial. Estava bem claro que não queria falar sobre aquilo.
- Entendo...
- Ele era meu pai. - um longo suspiro acompanhou a triste fala.
- Desculpe-me, meus sentimentos... Eu não sabia que ele tinha três filhos...