Durante a semana toda, eu tive o mesmo pesadelo: eu estava deitada em uma floresta, em cima de um monte de folhas caídas, então eu ouvia o som de cavalos, e pessoas chamando por mim, mas eu corria de todos eles, eu fugia desesperadamente, me escondendo atrás de árvores e de grandes rochas ao lado de um pequeno lago, então, uma mão tocava meu ombro direito, e eu acordava aos berros.
— Caelestis? — chamei quando enxerguei uma pessoa de longos cabelos negros sendo iluminada pela fresta de luz lunar que atravessava a fina cortina de meu quarto.
— Violly! — ela procurou o interruptor no escuro.
— O que…
— Shh, preciso te mostrar uma coisa — ela achou o interruptor e com um tapinha, uma luz esbranquiçada tomou conta do quarto.
— O que é? — perguntei ao ver que o notebook estava em suas mãos.
— Acho que os seus sonhos… Pesadelos — corrigiu. — Estão ligados às suas vidas passadas.
Eu estava prestes à cair na gargalhada quando ela me encarou séria.
— Me desculpe… Mas você realmente acredita nisso?
— Apenas… Aqui, veja isso. — digitou um pouco, e depois virou o notebook para mim.
Era um site simples, sem muitas cores ou enfeites, apenas o fundo branco com letras pretas e um anuncio no canto superior da tela.
— E agora? Acredita? — arqueou a sobrancelha esquerda e seus lábios deslizaram para um sorriso.
— Olha… É apenas um site, Cae. Não podemos confiar em tudo…
— Violly, depois de tudo o que passamos!? — interrompeu. — Fala sério…
— Eu só… Desculpa…
— É melhor eu ir para a cama — fechou o notebook e se levantou. — Amanhã conversamos melhor.
E com um tapinha, a luz da lâmpada deu lugar à melancólica luz lunar novamente, que refletia no espelho da penteadeira. A silhueta de Caelestis ainda era visível, mas logo desapareceu, quando fechou a porta e andou em direção ao seu quarto, desapontada comigo. Ela esperava mais de mim, algo como um surto de animação para descobrir sobre minhas vidas passadas. Mas não foi exatamente assim que aconteceu.
Alguns dias atrás, havíamos visitado o colégio da cidade e conversado com a diretora, que conseguiu algumas vagas para que pussemos estudar o quanto antes. Decidimos comprar três carros, e vender a camionete, já que o colégio não era tão perto de casa, e queríamos recomeçar do zero, na medida do possível.
Acordei às pressas e corri para o banho, meu cabelo nunca esteve tão branco, e minha pele tão pálida. Meus parentes maternos eram quase todos albinos, mas comigo essa genética foi um pouco diferente. Meus cabelos eram brancos de nascença, já as sobrancelhas e cílios eram de um cinza entre o claro e o escuro. Minha pele era pálida como a neve, e devido à isso, muitas vezes, pessoas me perguntavam se eu estava doente, ou até mesmo morta, como um tipo insulto ou piada.
Passei o mínimo de maquiagem possível, não estava muito animada, apesar de que deveria estar. Certifiquei-me de que o material estava todo na mochila e desci para o café da manhã. Tate estava saindo da cozinha quando eu entrei na mesma.
— Bom dia… — seus lábios se curvaram em um sorriso.
— Bom dia! — gritei, já na cozinha.
— Waffles? — ofereceu Astria.
— Claro.
A cena de minha mãe preparando os waffles com mel que sempre amou se desenrolou na frente dos meus olhos. E por pouco deixo escapar uma lágrima.