Espinhos

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Tudo naquela cidade era tranquilo, sem risco algum de sermos encontrados, era tudo o que precisávamos. Naquela manhã, levantei da cama com o barulho dos pingos de chuva, e ainda um pouco sonolenta, andei em direção ao que eu mais amava no quarto.

Na parede oposta à porta, havia uma janela inclinada para fora, e o que podemos considerar um tipo de sofá, ou um simples assento super confortável na mesma. Resumindo: era um sofá sob a janela, onde normalmente eu ficava lendo.

Aquele sofá, também podia ser usado como um baú, já que sua parte superior se levantava, como uma tampa, revelando um espaço vazio dentro do mesmo, onde eu guardava meus livros.

Haviam quatro almofadas quadradas e três redondas, sendo que as redondas eram de um verde entre o claro e o escuro, em um tom apagado, e as outras eram de um tom escuro de bege, com pequenas flores vermelhas e cor-de-rosa estampadas.

Me sentei no sofá, ele me lembrava o banco estofado da casa de Lynx. Deslizei minha mão pelo velho e enferrujado trinco da janela e abri a mesma.

Do meu quarto, não se podia ver muito além do jardim e um pouco da rua, já que o grande carvalho do jardim tapava a visão. Um de seus galhos havia crescido em frente à janela, encostado na mesma, temia o que poderia acontecer se aquele galho se inclinasse um pouco mais em direção à ela.

Todas as noites, eu escalava o carvalho, para chegar ao telhado, onde era sempre a mesma coisa: eu me sentava e observava as estrelas. Eu sempre voltava para o quarto depois de alguns minutos.

Depois de alguns segundos observando a limitada vista do jardim, algo me chamou a atenção. No canto superior esquerdo da janela, através de uma das folhas precionadas contra o vidro, eu pude notar algo no jardim, mais especificamente, algo sob as rosas vermelhas ao lado do carvalho.

Estava com os pés descalços, a grama estava úmida, e o cheiro da terra molhada me envolvia de um jeito magnífico.

Me aproximei das belas flores, que mais pareciam sangue em meio às delicadas e verdes folhas que brotavam dos galhos com afiados espinhos.

Abaixo do emaranhado de perigosos galhos, um infinito de escuridão preenchia um círculo do tamanho de uma bola.

Afastei os galhos, o que me custou enormes arranhões, mas quando consegui abrir caminho para chegar ao misterioso círculo, o que encontrei sem duvidas compensava os machucados.

Uma pequena caixa de madeira escura, com detalhes em dourado e pequenas pedras brilhantes cravadas nos detalhes. Em seu verso, uma pedra um pouco maior, seu formato era de uma lua minguante voltada para cima, sua cor era vermelha, como as rosas que estavam ao meu redor, como o sangue que pingava de meus braços.

Deslizei meus dedos trêmulos pela fechadura dourada, a caixa estava trancada, o que dificultava as coisas.

Olhei para baixo, meus joelhos, que estavam em contato com a terra molhada e as folhas, estavam pálidos, assim como as minhas pernas, braços, e toda a minha pele. No círculo, não enxergava nada além daquela escuridão que parecia ser infinita. Estiquei o braço esquerdo e com a mão, procurei por algo dentro do círculo.

Minha mão tocou em algo fino e um pouco pesado para seu tamanho. Uma chave com uma linda flor esculpida em dourado em sua ponta. Depois de duas tentativas falhas de abrir a caixa, devido às minhas mãos trêmulas, consegui encaixar a chave na fechadura, e com um ruído quase inaudível, a girei para a direita. Depois de girar a chave duas vezes, a caixa fez um som semelhante ao de uma taça de vinho se quebrando, enquanto se abria sozinha, revelando estranhos objetos. Fechei a caixa, a chuva estava aumentando, e com ela, o frio.

Me arrastei pela grama para não me machucar mais nos espinhos das roseiras. Cheguei à varanda com a caixa em mãos, mas logo a deixei no chão. Ambas estávamos encharcadas, levei a mão em direção à maçaneta, mas recuei pensando no rastro de água que eu uria deixar pela casa. O máximo que poderia acontecer, era Astria surtar com a bagunça, mas eu teria que correr esse risco, devido ao fato de que estava quase congelando do lado de fora da casa.

Encantados [Não revisado]Onde histórias criam vida. Descubra agora