09

11.2K 859 447
                                    

– Eu tava com raiva, queria dar o troco. Queria ver se tudo aquilo que eu senti foi com você ou se poderia ser com qualquer um.

– O que?!

Eu perguntei estupefato.

O cara parado a nossa frente nos olhava meio assustado, sem saber o que fazer. Eu só o olhava, tentando entender o que estava acontecendo ali, sem poder acreditar que ele tinha ido tão baixo.

– Deixa eu te explicar…

– Bernardo, você acha mesmo que tem alguma explicação? Você deu um piti ao me ver com o Kadu, um cara que a gente conhece desde moleque, sem nem ao menos se certificar que tinha rolado algo. Parecia estar tão indignado em me ver compartilhar algo que até então só tinha acontecido contigo, falando que eu fui o único pra você e contrata um boy? Qual é a lógica nisso?

– Biel..

– Cala a boca, agora eu vou falar! Vou falar tudo que está entalado aqui! Você armou toda aquela situação naquela noite e eu cedi porque é obvio que já sentia algo por ti, mesmo sem saber ao certo o que era. Você forçou aquela entrega porque queria experimentar algo novo e depois se arrependeu. Sumiu por dois anos! Foi até mais que isso se formos parar pra pensar. Quase três anos… Todo esse tempo sem uma maldita palavra sua! Só aquele e-mail frio e cruel. Eu não sofri… eu quase morri! Tinha perdido meu melhor amigo, meu companheiro de todas as horas e o meu grande amor. Tive raiva de mim, de ti, do mundo… Senti nojo por ter feito aquilo. Me culpei, me condenei, me puni…Então você volta e quer que seja tudo como foi um dia. Eu mais uma vez tento fugir de ti, de nós, de tudo. Mais uma vez tenho que lutar contra os meus fantasmas, os meus medos. Você acha que você tem o direito de bagunçar a minha vida assim? E se eu tivesse algo com o Kadu? É um cara legal, muito mais homem do que você jamais foi um dia. E esse mesmo cara me convenceu a vir aqui, tentar de novo. Pra que? Encontrei você bêbado rodeado de vagabundas, te dei banho, segurei sua cabeça pra você vomitar. Mesmo sentindo uma raiva filha da puta de você por essa merda toda que você tinha aprontando, eu cuidei de você, estava disposto a abrir meu coração e então me aparece um garoto de programa?! Pagar por sexo? Por algo que você a minutos atrás disse ter sido único e que você só seria capaz de fazer comigo?

– Nossa… Que história. Não queria estar na sua pele, mano.

O cara que continuava parado ali no quarto falou olhando com pesar pra nós dois. Eu olhei pra ele e depois pro Bernardo, que se mantinha de cabeça baixa.

Levantei e parei na frente do garoto de programa, que estava completamente sem reação diante daquela confusão toda.

– Pode fazer o seu trabalho, o que te trouxe aqui. Não vai precisar cobrar em dobro.

Eu disse e sai do quarto. Na casa a festa ainda rolava a todo vapor, gente se pegando em tudo quanto é o lugar e aquilo tudo estava me causando náuseas. Me apressei em sair, mas não consegui ir pra casa. Andava a esmo sem direção certa, a cabeça pensando mil coisas ao mesmo tempo.

Sentei na esquina de uma rua qualquer e senti o celular vibrar. Tinha trezentas ligações e mensagens da Jackie, mas eu não ia responder naquele momento. Pensei em mandar uma mensagem pro Kadu, mas a verdade é que eu não queria falar com ninguém.

Não sei quanto tempo eu fiquei ali, imerso em pensamentos que me torturavam por horas a fio. Então levantei e voltei pra casa. Tomei um banho e deitei.

No dia seguinte corri atrás de fechar uma proposta que tinham me feito de treinar uma equipe de corrida numa cidade próxima. Eu tinha enrolado até então, meio absorto com os últimos acontecimentos, mas a agora era uma ótima oportunidade pra me distanciar daquilo tudo. O Bernardo mandava várias mensagens pro meu celular, mas eu nem me dava ao trabalho de responder. Seria uma semana fora e me apressei em me despedir da minha mãe, mandei uma mensagem pro Kadu avisando do trampo e passei na casa da Jackie rapidamente, pegando a estrada logo depois.

Que porra é essa?! Eu não sou viado Mas.. (Concluido)  Onde histórias criam vida. Descubra agora