Capítulo 02

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O meu castigo durou mais do que eu esperava.

Já fazia uma semana que estava na horta com o Senhor Harrys. E posso dizer que estava com muita saudade da cozinha, mesmo se tivesse de passar o dia todo recebendo broncas da tia Eugênia.

A horta era enorme, e possuía um pouco de tudo. Ervas, batatas, cenouras, coentos e tudo o que se podia imaginar. Sem falar nas árvores frutíferas que se estendem por toda a propriedade. O trabalho era basicamente regar, colher, remover ervas daninas, e/ou plantar. Parece simples, mas era um trabalho chato e cansativo, sem levar em conta o sol escaldante que se estendia em toda sua bravura sob nossas cabeças.

Porém hoje o dia amanheceu nublado, com muitas nuvens no céu. Já havia regado às plantas e pego algumas ervas que serviam para fazer chás. Harrys estava cuidando das roseiras, então ele deixou o trabalho da colheita para mim.

Como não havia mais o que fazer, peguei um livro que ganhei em meu aniversário alguns anos atrás e sentei-me a baixo da sombra de uma árvore para ler.

Não era comum as pessoas de uma classe mais baixa saberem ler, isso era um luxo que apenas pessoas ricas possuíam, ainda mais se você fosse uma criada, órfã de pai e mãe. Entretanto tia Eugênia, que me criou desde que nasci, havia me ensinado o pouco que sabia sobre leitura, e aprendi mais e mais conforme o tempo. Eu gostava muito de ler, de ter conhecimento sobre as coisas, dos mais diversos assuntos. O ruim era não ter dinheiro suficiente para comprar livros e não ter permissão para ler os milhares de livros que haviam na biblioteca do castelo.

Mas sempre que podia, minha tia me presenteava com um, e eu era imensamente feliz por isso. Já era a quinta fez que lia esse mesmo livro, por falta de novas opções.

Eu amava minha tia, apesar de ela sempre brigar comigo e me pôr de castigo, ela era a minha única família. Não cheguei a conhecer meu pai, e minha mãe morreu no meu nascimento, eu seria sozinha no mundo se não fosse por ela.

Minha barriga começou a roncar, olho para o céu e vejo que já deveria ter passado do meio dia e eu estava com uma vontade enorme de comer maçãs. Levanto deixando o livro no canto e vou ate um pé de macieiras. Por incrível que pareça não havia nenhuma maçã sequer no chão, mas minha vontade de comer uma era maior, então tirei meus sapatos e me pus a subir na árvore.

Não era muito difícil, se você soubesse onde colocar os pés. Escalei até o topo e retiro algumas maçãs dos galhos e as jogo no chão, já que não iria conseguir descer com elas nas mãos.

Jogo uma, duas, três... Até que escuto um grunhido lá em baixo.

- Quem está ai? – pergunto tentando visualizar a pessoa que estava ali.

Não obtive resposta.

Como imaginei que fosse apenas a minha imaginação me pregando peças, me preparei para descer. Firmei meus pés em um tronco mais baixo e comecei a descer, até que escuto alguém falar.

- O que está fazendo ai, estás maluca por acaso?

Assusto-me. Paro de descer e tento enxergar quem está lá em baixo. Inclino-me um pouco para poder ver melhor, mas acabo escorregando e começo a cair.

A queda daquela altura com certeza me traria muitos machucados e talvez alguns ossos quebrados, se não fosse por braços fortes me pegarem antes de meu corpo ir de encontro com o chão.

- Sim, és maluca! – conclui a pessoa que me pegou.

Abro os olhos, que nem havia notado que estavam fechados, e me espanto por ver quem estava ali, ninguém mais, ninguém menos que o príncipe Felippe.

A Princesa PlebeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora