Prólogo

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Myalla

Myalla ouviu o estrondoso trovão vindo do exterior da Caverna como se a qualquer momento o teto, que se perdia na escuridão acima de suas cabeças, fosse cair sobre elas e todos os outros ali. Isso, afinal de contas, acontecia vez ou outra. Lançou um olhar para Miz, que tinha a testa brilhante de suor, iluminada pelas lanternas penduradas nas paredes.

— Força, já estou vendo a cabeça! — Miz executava o parto enquanto Myalla olhava para a saída da casa de Elíon aonde, quando caia um raio, podia ver o clarão.

A entrada da Caverna nada mais era que uma grande abertura vertical na rocha sólida negro-avermelhada, salpicada em tons marrons aqui ou ali, amarelo vez ou outra, da montanha, mas o tom predominante era a rocha derretida negra do vulcão. Nove metros de largura em uma parede à outra, mas grandiosos vinte e três metros de altura do chão ao seu topo em arco mal desenhado pela erosão.

A Caverna em si era um grande espaço oco dentro desta montanha que antes tinha sido um vulcão, mas o cheiro do vulcão tinha largado o lugar há muitos milhares de ciclos.

O que sustentava o teto eram grossas colunas por toda a extensão da Caverna eram tão negras como a rocha do chão, e com manchas que conseguiam ser ainda mais escuras, se tal coisa é possível.

Ainda era dia lá fora, mas o sol parecia ter sumido com a pavorosa tempestade e a única luz que vinha eram dos raios, seguidos pelos estrondos, isso um dia havia assustado Myalla, mas não mais, agora via beleza na tempestade, na natureza.

Myalla era uma jovem de quinze ciclos, cabelos lisos e pretos na pele tão branca como a lua que raramente viam, e estava em idade fértil há um ciclo completo já, ansiosa pelo fim do dia em questão, quando seria mulher pela primeira vez nas mãos de um campeão. Ela queria e esperava por isso. Todas as mulheres na Caverna possuíam um dever, uma missão. Era uma honra fazer parte das tradições.

— Presta atenção, menina burra... — Miz, já com seus vinte e três ciclos, estava ajudando sua senhora, Fedra, dar à luz ao bebe que carregava em seu ventre por seis partes-de-ciclo. — Me passe panos limpos.

Myalla esticou os braços indo até uma mesa feita com ossos presas com couro enrijado. Pegou os panos, feitos de lã alisada e costurada por outras mulheres que eram iguais a ela, serventes até terem idade. Entregou os panos para Miz, que enxugou o sangue de baixo das pernas da mulher junto dos líquidos como a placenta e excrementos que o corpo soltava na hora do parto quase que involuntariamente.

— Myalla, segura aqui e puxa para os lados. — Miz disse colocando as mãos de Myalla entre as pernas de Fedra que gritava de dor, o corte subia de seu órgão genital até o começo da barriga pela falta de dilatação natural para o parto.

Lá fora os urros eram outros, da natureza, dos guerreiros lutando e de coisas piores!

— Faz força. Eu vou puxar a cabeça agora. — Miz disse olhando para o rosto delicado e suado de Fedra enquanto as mãos de Myalla abriam o órgão o máximo possível e a carne, acima da vagina, também se abriu um pouco, sangue escorrendo. As mãos de Miz puxavam o filho que ainda não se mexia, seus dedos estavam enfiados para dentro de Fedra, e Myalla fechava os olhos constantemente, enojada com aquilo, o fedor era insuportável e ela só queria não estar ali.

Então Miz puxou, puxou com força pelos ombros enquanto a mulher gritava fazendo um último esforço, sangue escorreu pela cama enquanto as pernas dobradas de Fedra se contraíram mais uma vez e Miz deu um passo para trás puxando o recém-nascido para fora com cordão de mãe e filho ligando um ao outro.

— A faca. — Disse para Myalla que correu até a mesa e voltou com a faca em segundos.

Assim que Miz pegou a faca, Myalla retornou a mesa e voltou com duas pedras arredondadas em uma das mãos e na outra um par de gravetos com farrapos oleosos enrolados na ponta.

Draco et HominesOnde histórias criam vida. Descubra agora