Oriwr 01

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O orvalho da noite perpetuava-se pela manhã, aquele cheiro doce e úmido, enebriante, que não se consegue parar de aspirar até que tenha sumido por completo junto da névoa fina. Pássaros cantarolavam suas melodias agradáveis em notas diferentes, mas a que se destacava era a afinada e ritmada melodia dos bratins que cantarolavam em coro e em grande número.

A calmaria da manhã no bosque foi atrapalhada pela grotesca gargalhada lá em baixo, sobrepujando os pássaros e alguns até mesmo alçaram voo para além, fugindo daquele ser risonho.

Oriwr despertou de seu agradável sono de manhã com um leve tremor. Não se mexeu além do que, involuntariamente, qualquer um se mexeria ao acordar com um susto. Os olhos então abertos encaravam as folhas verdes farfalhando com a brisa calma que trazia o doce aroma da manhã. Seus olhos brilhavam com a luz do sol filtrada pelas folhas, era verde contra o verde e ele respirava sentindo a felicidade crescer dentro de si.

— Seu idiota. Pode ter alguém por aqui. — Oriwr ouviu então alguém dizer, repreendendo a gargalhada do outro. Precisava ver quem era o outro.

Se virou, silencioso, em cima da plataforma na árvore, ficando de quatro nas madeiras. Tinha criado aquele esconderijo com pequenas tábuas presas por cordas em galhos mais altos formando assim uma plataforma suspensa quase invisível aos olhos alheios entremeada na copa de uma árvore mais baixa. Seria visto ali apenas se os inimigos o procurassem, e aqueles homens lá em baixo não o procuravam, estavam cheios de si por uma sucessão de saques bem-sucedidos à casa de fazendeiros indefesos. Era justamente o contrário que acontecia, Oriwr quem procurava-os.

Na noite anterior tinha ido até lá e além com seu cavalo, com cuidado rastreou a trilha que aqueles homens usavam, então retornou e com toda sua argucia escondeu seus próprios rastros. instalou-se ali em seguida e fez-se desaparecer por completo até que sua presença não fosse notada nem mesmo pelos esquilos nas árvores. Um caçador hábil precisa sumir, e o melhor indicador é a natureza. Se os que habitam na mata não me notam, nenhum homem me notará.

Verificou seu cinto pendurado em um galheto advento do tronco principal da árvore, as duas adagas estavam presas ao cinto em suas bainhas. Passou o cinto com cuidado pouco abaixo da cintura, não podia fazer barulho. Em um nó na corda estava encaixada sua aljava e o arco atrelado a esta. Se levantou cuidadosamente e, bamboleando entre os galhos, começou a andar pelas árvores, olhando para o chão a três metros de distância aonde cinco salteadores andavam despreocupados entre conversas bobas e assuntos pífios sobre seus feitos insignificantes.

Há mais de uma parte-de-ciclo aqueles salteadores haviam aparecido nos bosques de Bomferro causando terror para os vassalos de seu pai nas redondezas das fazendas que alimentavam a cidade. Oriwr esperara, mas doze homens de seu pai morreram em tentativas de parar os salteadores que a princípio eram mais, Oriwr tinha dito para o pai na noite anterior;

— Seus homens tentam atacá-los, sempre de surpresa e em comitivas armadas e pesadas, e falham. Deixe-me tentar e amanhã pelo almoço receberá boas notícias.

E assim tinha sido, Amantheus Wullys deixou que Oriwr fosse até os bosques, montasse sua cama provisória pendurado nas árvores e fizesse o que queria fazer. O que sabia fazer de melhor.

Agora Oriwr montava o arco, prendendo a corda nas extremidades e tirando uma flecha da aljava, seu arco era curto, pouco mais de um metro de comprimento, não alcançava grandes distâncias e em compensação não precisava de muita força, era especialmente letal para tiros curtos, perfurando facilmente escudos menos fortificados feito especialmente em couro.

Olhou para baixo vendo passar o primeiro e o segundo homem por ele, sendo que um deles tinha um arco longo e o outro uma espada bastarda. Então o terceiro, que palitava os dentes, passou. Oriwr virou a cabeça olhando para o quinto homem que deveria permanecer a suas costas, aquele homem não usava ombreiras de ferro ou um gorjal. Ele já havia planejado como seria o desfecho antes mesmo do começo. Olhando seus inimigos, previa como eles lutavam e como se defender deles.

Draco et HominesOnde histórias criam vida. Descubra agora