Ellor 01

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Embora fosse uma Caverna, existiam animais e uma rotina regulada por estes. Os galos começavam a cantar e isso indicava o começo do dia para todos.

Ellor era um jovem homem, hiperativo por natureza. Assim que abriu os olhos, pulou de cima da cama. Seu dia começava assim já fazia muitos dias em muitos ciclos, desde que ficou forte o bastante para trabalhar com seus dez ciclos. Ele era, afinal, o homem da casa.

Arrumou a cama, a dele a de Liza e a de sua quase mãe, Miz. O quarto era apertado e as camas não eram muito confortáveis, grandes sacos remendados cheios de lã e, vez ou outra, pulgas. Mas era o melhor que tinham, Ellor mesmo tinha costurado alguns dos rasgos que vez ou outra surgia nos colchões.

Usava apenas a camisa feita com um saco de batatas, mas por cima desta jogou o gibão de couro cozido, ajeitou os laços nas cinturas e olhou para o próprio peitoral, analisando se o gibão estava torto. Não era acostumado a usar aquilo. Havia sido um presente de seu ausente pai pelo seu décimo sétimo ciclo. As calças, também novas, eram mais resistentes e de couro tratado para que não queimasse com facilidade.

Trocou-se ali mesmo, tirando suas calças puídas e remendadas, ficando apenas com o subligáculo, que precisou ajeitar sob as partes íntimas. Então colocou a calça nova. Sentia-se pesado e pouco confortável, além dos movimentos terem se tornado mais complicados. Como espera que eu lute assim se nem andar consigo? Pensou enquanto se ajeitava, erguendo e abaixando a perna como um fantoche. Essas ações faziam o piso de madeira do primeiro andar, ranger como se fosse ceder, mas era comum pois a estrutura não era das melhores e Ellor vivia fazendo pequenos reparos quando o alicerce parecia prestes a quebrar.

Em baixo, no térreo, podia ouvir Miz e Liza trabalhando. Ambas acordavam antes do galo cantar para preparar o pão que alimenta os primeiros guerreiros. Elas também deviam trabalhar o dobro que as outras mulheres por não terem companheiros e nem filhos.

Miz era uma mulher já longe de sua mocidade, e isso havia lhe custado todas as oportunidades. O tempo não voltava para ela, e havia tido o desprazer de perder o marido em um combate tal como a capacidade de gerar filhos em seu próprio parto. Sendo assim, se tornará uma mulher sem propósito na Caverna de Bakchos.

Liza era filha de Miz e tinha vinte e um ciclos, deixava Ellor excitado sempre, mas ele se excitava com facilidade também. No entanto, nunca fizeram nada. Cresceram como irmãos, muito embora Ellor sempre se lembrava, cresceram como irmãos, mas não eram irmãos de verdade. Liza deveria ter sido escolhida, no dia em que floresceu, por um campeão novato, um qualquer de dezessete ciclos que voltasse da batalha. Mas isso não aconteceu porque ela era a primeira filha de Miz, o que significava que muito provavelmente ela teria uma menina também.

Acabou sendo escolhida por um velho, com a benção sádica de Bakchos, que morreu em outro combate três parte-de-ciclos depois, e Liza ficou sozinha, abortou espontaneamente o bebe que carregava daquele velho, um feto malfeito. Ellor ainda se lembrava de como a casa ficou triste naqueles dias, uma quinzena de desgraça atrás de desgraça e ele sem saber como consolar ela.

Já Miz serviu Fedra até a morte de sua senhora no parto de Ellor, depois disto começou a trabalhar com que dava, mas ninguém queria-a em sua cama, uma mulher velha que teve como primeiro filho uma menina e não um homem, e Miz já não era tão bonita quanto nos dias de sua mocidade, quando jurou servir no lugar de procriar como uma porca... Ellor não poderia dizer se Miz se arrependia desta decisão, era confuso e difícil de entender, ela era uma mulher adorável e quando sua mãe de verdade morreu e seu pai não o quis foi Miz quem o amamentou com o leite de sua filha de sangue, foi Miz quem o criou... e para ele isso era o bastante, não ousaria pedir por mais de alguém que não tinha obrigação nenhuma para começar.

Draco et HominesOnde histórias criam vida. Descubra agora