Lyris 02

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— Eles vão revidar! Você sabe disso.

— Não foi minha ordem.

— E quem mataria um rei? Estávamos alcançando a paz, Ácmon. A Paz que Você queria!

— Não foi o Domínio. — O imperador pontuara sem elevar a voz, mas com firmeza.

Lyris se lembrava da discussão como se tivesse acontecido na véspera, mas já fazia duas partes-de-ciclo.

Enquanto ela, Gael e os outros caminhavam da capital até o Santuário de Kognapad, uma conspiração se desenrolava nas sombras. Eventos terríveis tinham acontecido, e coisas piores estavam para acontecer, se as previsões azarentas dos senadores estivessem corretas.

Ela, porém, não se importava com nada disso. LaKaar era sua única real preocupação, era o único que detinha sua completa atenção.

Nunca havia pensado que sentiria aquilo de tal forma, mesmo assim se sentia inteira com seu dragão. Todas as histórias pareciam tão reais, tão vivas. Toda vez que Lyris fechava os olhos, mergulhava nas lembranças e via as escamas brancas contra o céu noturno do santuário. Os dragões vindo lhe atacar, e LaKaar vindo lhe defender. Ele era meu desde o começo. Pensava, pois de que outra forma teria um dragão lhe defendido de sua própria espécie?

Lyris era uma Kognar, essa era a verdade. Sequer se lembrava de ter tido medo de não conseguir domar um dragão agora. A simples ideia de falhar lhe pareceu estúpida. Enquanto, pela manhã, todos eles precisaram domar seus dragões com muito esforço, Lyris fora a única que sequer domou, apenas surgiu ali, e sua presença foi o bastante para fazer LaKaar ser seu.

Era um dragão fenomenal, quatro patas, um par de grandes asas cobertas pelo couro esbranquiçado, as escamas das patas, peito e costas pareciam bruneas prateadas ou pontas de espadas recém-polidas. Suas asas quando abertas conseguiam medir quase dez metros de uma ponta a outra, de altura chegava a dois e meio e de corpo tinha mais seis metros, com dois metros apenas de cauda. Cork dizia que ele deveria ter pelo menos mil e quinhentos quilos. A cabeça de LaKaar era encimada por oito chifres pequenos, o par da frente era o maior com doze centímetros da couraça ao ápice, e os de trás iam diminuindo até o quarto par que media apenas três centímetros. Embora branco, a couraça de seu rosto tinha tons de cinza, e seus olhos mesclavam um azul opaco com um branco brilhante, quase imperceptíveis se não estando próximo. As narinas eram fendas estreitas que só se abriam quando respirava e a bocarra, tremenda, parecia grande o bastante para engolir um cachorro inteiro sem dificuldades.

Cork afirmara, ele deveria ter no máximo oito ciclos, o que era muito pouco, um dragão do santuário costumava sempre viver mais que seu dono, ou morrer protegendo-o. A estimativa comum era de duzentos ciclos, enquanto para os humanos não passava de cem!

Lyris agora achava os quadrupedes alados os melhores dragões. Antes fora da opinião que os bípedes alados eram melhores, mas com LaKaar não havia como preferir os bípedes. Existiam as mais variadas formas de dragões, bípedes com par de asas articuladas das patas dianteiras que já não existiam, quadrupedes como LaKaar, quadrupedes não alados também existiam, mas estavam em extinção. Outra espécie rara, mas esta, dizia Cork, estava começando agora, eram os plumados. Entre as escamas siam penas que simplesmente não queimavam, penas totalmente à prova de fogo. E existiam, claro, os dragões marinhos que todos juravam estar extintos, exceto os marinheiros; estes diziam que enfrentavam legiões de dragões marinhos no Mar Ospyo e no Mar da Tormenta e sobreviviam para contar estas famigeradas histórias.

Ainda sobre raridades, Lyris podia se gabar da cor de seu dragão. O santuário criava, em sua maioria, dragões amarronzados, avermelhados ou amarelados. Dragões brancos, negros, azulados ou esverdeados eram raridade, quase nunca vistos e quase nunca domados.

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