Quando acordei no dia seguinte me deparei com a cama vazia ao meu lado... Uma sensação estranha me invadiu no mesmo instante, era como perder algo que eu sempre tivera, algo tão intimo e tão meu, que o simples pensamento de perda me causava dor. Como se um pedaço de meu coração, uma grande parte dele na verdade, tivesse desaparecido também.
Não me levantei, sabia que Daniel estaria na cozinha, mesmo que não estivesse, sabia que não estaria longe. Mas a pequena menção de um possivel desaparecimento me afundou num pavor doentio, me lembrei do ano que passara sem ele, dos dias intermináveis e noites de choro. E me dei conta do quanto o amava.
Levantei algum tempo depois, tomei um banho rápido e fui para a cozinha. Daniel estava encostado no balcão, vendo algo no celular que aparentava certa importância. Deduzi isso pela aversão que Daniel nutria por tecnologia.
- Bom dia. - falei.
- Tudo bem?
Assenti.
- Seu braço? Como está?
- Não precisa se preocupar com um imortal, já estou curado. - disse enquanto sacudia o braço.
- Sim mas... Somos um casal, eu não devia ter machucado você, me desculpe, não vai mais acontecer...
Daniel colocou o celular no balcão e andou até mim, seus olhos não estavam escuros, e eu soube que ele havia me perdoado.
- Está tudo bem. - Sorriu e me abraçou - Eu sempre soube que algo assim ia acabar acontecendo, não é fácil me aturar.
- É muito fácil aturar você, principalmente quando está cumprindo a promessa que fez em nosso casamento.
Daniel pensou por um momento e então sorriu. " Vou beijar você a maior quantidade de vezes que eu puder por segundo, e vou fazê-la feliz." Ele dissera, e foi o que fez.
Me pegou pela cintura e nossos lábios se encontraram, como as ondas encontram a areia da praia, ferozes e suaves.
- Isso me faz lembrar o grupo... - falei - todos juntos, como antes.
- É, por minha culpa você quase morreu diversas vezes, por minha culpa conheceu este mundo...
- Não me arrependo nem um pouco, são parte do que sou agora, a minha melhor parte.
Beijei-o outra vez.
- Acho que podíamos ajudar Megan e Felipe... O plano deles é péssimo, mas quem melhor que você pra resolver isso?
- Pensei que esse assunto já estivesse encerrado, Anjo.
- Sim, mas... Precisam de nós.
- E eu preciso de você aqui, viva, segura. - Daniel suspirou - Eu preciso de você também Analu.
- Não está me dando escolha...
- É claro que não, suas escolhas quase sempre te colocam em perigo, são boas intenções mas péssimas escolhas, eu jurei cuidar de você, e farei isso.
- Você não confia em mim, não é? Nunca me escuta, nunca me deixa decidir nada! - gritei - Você pode ficar se quiser, mas eu vou ajudar meus amigos, eles são minha familia Daniel, são tudo o que eu tenho agora!
- São tudo o que você tem? - ele disse calmamente - Analu, eu sou sua familia, somos uma familia agora, eu e você... Você é tudo o que eu tenho, não posso correr o risco de perdê-la.
- Se não quer me perder, então venha comigo.
Daniel fitou o teto por alguns segundos e respirou fundo, eu sabia no que estava pensando.
- Se quer tanto ajudá-los, então os convença a mudar de ideia, entrar nessa não é começar uma guerra, é cometer suicídio, se John estivesse aqui não concordaria com esse plano.
- Quem você pensa que é pra saber o que meu pai faria?! Quando foi que o meu Daniel se tornou esse covarde? - a essa altura eu estava gritando outra vez - Quantas vezes preciso dizer que isso não é quem nós somos?!
- Analu, nós temos a eternidade! - dessa vez ele também gritou - por que eles não podem esperar a poeira baixar?! Por que você não pode apenas ser grata pela vida que temos, afinal estamos juntos! Não era o que você queria? Eu não sou o suficiente para que você seja feliz Analu? Nada do que passamos te mostrou que isso aqui é o melhor para nós?!
- Eu vou para Londres com eles, quer você queira ou não.
Dizendo isso peguei as chaves na mesa para sair, mas Daniel segurou meu braço.
- Se voltar para lá, se pisar em Londres terá quebrado o acordo, e vai ser o fim pra você, não posso deixá-la fazer isso.
- Me solte. - falei.
- Você está se alterando outra vez Analu, não pode ficar assim toda vez que algo desagradar você.
- Me solte Nathaniel...
- ou o quê? - perguntou - vai quebrar meu braço outra vez?
Eu queria quebrar o braço dele, queria quebrar os dois braços. Queria matá-lo bem ali.
E então me ocorreu, eu estava perdendo o controle outra vez. Eu amava Daniel mais do que tudo no mundo, não podia desejar feri-lo.
- Meus olhos estão pretos... Não é? - Perguntei.
- Não mais. - ele tocou meu rosto - Não importa que fiquem inteiramente pretos, não importa que mudem você, desde que aqui - ele tocou meu peito - você se lembre de quem você é.
- Mas e se eu não lembrar? - disse ao mesmo tempo em que uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
- Sei que vai.
Daniel me abraçou, mas pela primeira vez não me senti segura nos braços dele. Ele podia me proteger de qualquer anjo ou demônio que quisesse me fazer mal, mas ele não podia me proteger de mim mesma. Ninguém podia.
- Esses incidentes são frequentes? - perguntou Megan surgindo não se sabe de onde.
- O que está fazendo aqui? - Disse Daniel respirando fundo.
- Se forem frequentes ela precisa de ajuda, mas você já sabe disso Nate... Não sabe?
Daniel a encarou.
- Do que estão falando? - perguntei.
- ou acha que vai curá-la com o poder do amor como John curou Mary? - ela disse se dirigindo a Daniel outra vez.
- O que quer dizer Megan?
Mas ela não me escutou. Nem Daniel reagiu ou respondeu, apenas saiu da cozinha andando depressa.
- Esta tudo bem... - falou depois de um tempo - Vou cuidar de você.
Megan, depois da morte de meus pais, fora tudo o que restara para mim. Ela e minha mãe adotiva, que eu não via a muito tempo.
- Esta tudo bem - repetiu - esta tudo bem...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Senhor das Trevas
RomanceO "felizes para sempre" de Analu não dura muito, após levar a culpa pela morte de seu pai, ela e Daniel se encontram exilados de qualquer contato com o mundo angelical. Quando a oportunidade de dar a volta por cima bate em sua porta, Analu se vê...