Infância

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"I dive into the future

But I'm blinded by the sun

I'm reborn in every moment

So who knows what I'll become"

-Selena Gomez

(Eu mergulhei no futuro

Mas eu estou cega pelo sol

Eu renasci em cada momento

Então, quem sabe o que eu vou me tornar)

Faz parte de quem eu fui e de quem eu sou hoje.

Há algum tempo me deparei com algo muito doloroso para sequer se pensar a respeito.

Eu cresci ouvindo da minha mãe que eu era uma criança adorável, divertida, que fazia com que os que estavam ao meu redor se encantassem comigo, com o que eu era, que tudo desde a minha forma de falar até a forma de me comportar fazia com que as pessoas se derretessem.

E pelo que ouvi de muitos adultos que conviveram comigo na época o que minha mãe dizia e ainda diz é verdade.

Mas há pouco tempo me deparei com outra verdade que me chateou profundamente: eu não era bem esse anjinho que dizem.

Eu vi tudo aquilo que minha mãe dizia de mim desmoronar e por mais idiota que possa parecer talvez, isso me machucou, de verdade.

Enquanto os adultos e adolescentes que me viram crescer dizem que eu era um amor de criança as outras crianças que conviveram comigo durante todo o meu crescimento disseram que eu era um monstrinho.

Basicamente eu obrigava as crianças a fazerem exatamente o que eu queria e caso não fizessem eu acabava com tudo, não tinha mais brincadeira nem diversão.

No começo eu achei que não devia ser bem assim, afinal quem tinha dito isso era uma prima com a qual eu não me dava bem na minha época de criança, o fato de ela me dizer que eu era uma criança problemática me deixou completamente desconfortável, mas ignorei, mesmo me sentindo um pouco mal eu disse para eu mesma que isso era uma opinião pessoal dela, afinal eu não podia ter sido tão insuportável quando criança, não quando tantas pessoas diziam que eu era adorável.

Até que fui obrigada a me confrontar com a verdade: EU REALMENTE ERA UMA CRIANÇA PROBLEMÁTICA.

Ela não era a única a me achar uma menina insuportável, aquilo me feriu, de verdade.

Mesmo ela dizendo que eu tinha melhorado muito e que já não era  a mesma aquilo ficou  e me atormentou e do fundo do coração eu comecei a cogitar se eu não continuava sendo a mesma pessoa insuportável da infância.

Eu passei por tantas perdas na vida, tantas pessoas que foram embora tanto por escolha própria como sem ter escolha, que cheguei a me perguntar se eu não era a principal causadora de cada uma dessas perdas dolorosas de quem estava a minha volta.

Então eu respirei fundo e pensei.

As pessoas que conviveram comigo eram crianças e eu também era, eu não era totalmente responsável pelos meus atos, eu não tinha como me corrigir e ninguém nunca me disse o quanto eu estava errada, ninguém nunca me disse para mudar, parar de ser como era.

Em outras palavras: eu não tinha culpa, REALMENTE NÃO TINHA.

Eu não era um anjo, mas estas pessoas talvez também não fossem e eu não as culpo por isso.

E quanto ao fato da minha neura, de achar que talvez eu continuasse a ser a mesma pessoa: ISSO É IMPOSSÍVEL.

Eu estou a ponto de completar DEZESSETE ANOS é impossível que eu não tenha mudado levando-se em conta que que eu não sou criança a pelo menos 6 anos.

Aí você pode pensar: tá querida e o que eu tenho a ver com isso?

A resposta é bem simples: TUDO.

Todos nós mesmo não admitindo nos culpamos por erros do passado e vamos carregando isso conosco, mas o que não entendemos é que muitas vezes nós não somos mais as mesmas pessoas que cometeram esses erros.

Eu não sou mais a mesma pessoa que um dia arrancou o vestido das mãos de uma menina porque ela não me deixou ser a princesa da brincadeira.

NÃO SOU.

Então, porque eu tenho que carregar isso comigo?

Essa é a questão: eu não tenho.

Eu renasci, todos nós renascemos, tivemos nosso tempo de borboleta e nos tornamos algo totalmente diferente e se já nos arrependemos do que fizemos de errado e mudamos não temos porque carregar isso conosco.

Em outras palavras: nós não precisamos ter medo de ser o que somos hoje e ficar assombrados pelo que já fomos um dia, porque isso ficou bem no passado perdido lá e particularmente, eu não acredito em fantasmas, portanto não devo ficar andando com  uma outra versão de mim me assombrando e me atormentando enquanto vivo.

Simples assim ;)

Anna.     

Pensamentos ao vento.Onde histórias criam vida. Descubra agora