Fogo e gasolina

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"And I'm still in love with the idea of loving you

It's a state of flux, but it's not enough"

(E eu ainda estou apaixonada pela ideia de te amar

É um estado de fluxo, mas não é suficiente)

  Bom, eu levei meses pra conseguir escrever este capítulo, (desde novembro do ano passado até agora para ser mais exata), uma coisa que eu achava que jamais fosse acontecer comigo, ou pelo menos não tão cedo, simplesmente ocorreu: me apaixonei.

  Diferentemente da maioria dos poetas que acham tudo o máximo, eu não gostei muito da experiência.

  Eu tinha, como todo mundo, uma ideia formada a respeito de como o amor é.

  Costumava pensar que era calmaria, que ele chegaria para mim aos poucos e de forma tão natural que eu não me assustaria. Se algum dia, me ocorresse de amar alguém, parar de ser tão racional e guiar uma parte da minha vida totalmente com o coração, isso aconteceria de forma suave, seria reconfortante e leve.

  Eu não preciso nem dizer que me enganei, né? Ou ao menos era isso que eu achava.

  Eu senti tudo, intensamente, como é o meu modo natural de sentir o que realmente importa nessa vida.

  E aquilo que eu tinha, em tese, como uma brisa suave soprando no meu rosto e me fazendo ter vontade de ver o que o futuro reserva se revelou para mim como algo bem diferente do sentimento do meu imaginário.

  Me apaixonar foi como ser atingida por um soco na cara.

  Eu tinha tudo muito bem planejado: Não tenho tempo para sentimentos desse gênero na minha vida, vou estudar, estudar como se não houvesse um amanhã e vou entrar na minha faculdade dos sonhos, lá eu vou conhecer um cara legal, que vai ter os mesmos interesses que eu, que vai entender a minha profissão e tudo que ela exige, porque ele vai fazer quase a mesma coisa que eu ou...ou não...Eu vou apenas me reinventar e descobrir um novo lado meu meu, vou construir a mulher que sempre quis ser durante os anos de faculdade, que pelo que dizem são os melhores anos da vida das pessoas e vou sair de lá a mulher independente que sempre sonhei.

  Mas as minhas alternativas não incluíam de forma alguma me apaixonar aos 18 e começar a mudar todo o planejamento da minha vida para me casar aos 26 (26?).

  Realmente um soco.

  Eu passei por todos os processos: a descoberta do sentimento, a declaração, ver que talvez alguém que não tivesse vivido comigo a vida toda poderia quem sabe me amar pelo que me tornei até aqui.

  Então vieram as crises existenciais: E se eu não for suficiente? E se a garota que ele sempre quis quiser ele agora? E se não der certo? E se eu não for bonita o suficiente para ele me querer por toda a vida? E se a mãe dele não gostar de mim? E se, e se, e se?

  Um turbilhão de coisas e tanta insegurança no meio.

  Mas... As pessoas não diziam que a gente era perfeito um para o outro? A minha mãe não tinha nele o ideal de genro? Eu não amava ele?

  Sim, eu amava. Muito.

  Hoje eu consigo ver o quanto isso diz sobre tudo o que aconteceu, eu costumava pensar em nós dois como fogo e gasolina, preste a iniciar um incêndio que tomaria conta do mundo e de fato nós éramos algo do tipo.

  Uma bomba-relógio, com seu tempo programado para explodir.

  Porquê?

  Bom, eu o amava apesar de todo o medo.

  Ele, tinha suas dúvidas.

 Eu, estava pronta pra redefinir as minhas metas, pra estar ao lado dele.

  Ele, tinha suas ressalvas.

  Ele, não gostava de saltos altos e maquiagem.

  Eu, amava usar tudo isso.

  Eu queria ele pra sempre.

  Ele, bom...digamos que ele tinha outros planos.

  Então eu simplesmente cortei o fio azul, antes de tudo ir pelo ares.

  Por semanas eu fiquei vendo o drama dele se desenrolar: "quem ama faz de tudo menos ir embora".

  A questão é essa, as vezes quando se ama é necessário se retirar pra evitar que o que sobrou do seu coração não se quebre também.

  Quando você claramente se doa por completo e fica esperando apenas a resposta do outro, a entrega do outro e isso nunca vem e mais do que isso, te é negado, o que mais você pode fazer além de se retirar?

  Não importa o quanto você ame, se o outro está vazio ou simplesmente não está pronto para isso não há o que fazer além de partir.

  Eu tentei fugir, negar a importância de tudo isso na minha vida, eu senti vergonha e medo de que pessoas descobrissem que a intuição delas em relação a nós estava certa, que apesar de tentar manter tudo em segredo as pessoas descobrissem que como elas imaginavam nós estávamos caminhando para nos tornarmos um casal.

  Mas não tem como fugir da verdade, ela sempre vai estar ali: quando você se olhar no espelho, quando deitar a cabeça no travesseiro e principalmente depois que os anos passarem e você tiver que encarar o que se tornou em decorrência das suas escolhas e dos acontecimentos da vida.

  Então é por isso que eu digo em alta caixa e boa escrita: SIM, EU ME APAIXONEI POR ELE. Sim, eu, a garota do coração gelado.

  E sim, todo mundo descobriu antes de mim.

  E não, não deu certo.

  Espero futuramente ter coragem para admitir isso de forma tão clara, como eu faço aqui, para as pessoas que torciam por nós mesmo sem saber que isso podia realmente ter se tornado realidade quando perguntarem a mim.

  Porque, por mais que eu tenha tentando negar, aconteceu e foi importante na minha vida, me ensinou a não ter expectativas, reforçou a ideia de que o amor verdadeiro é realmente suave e fonte de paz, ele não te traz insegurança e por verdadeiro eu me refiro ao tipo de amor em que os dois amam.

  Porque o amor tsunami, aquele que te atinge como um soco e parece tirar todo o ar do seu pulmão, esse é apenas o amor que vem pra te ensinar sobre um outro tipo de amor: o próprio.

  Te falar sobre o quanto você é suficiente só por ser quem é, porque só isso já basta.

  Eu sou grata porque descobri mais uma vez que sou forte.

  E mesmo que uma parte de mim sempre vá amá-lo e se preocupar com ele, eu estou pronta, para dar um ponto final e seguir em frente.

  Um viva: ao amor, aos corações partidos e ao recomeços!

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