Capítulo 12

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Ellis saiu do seu ateliê mais tarde do que pretendia, perdeu a noção do tempo enquanto pintava uma das telas de um cliente, mesmo assim estava feliz com o resultado do seu trabalho. Apesar de ser primavera o tempo não estava mais tão fresco, nuvens de chuva aproximavam-se e pôde ver o céu mais a frente acinzentado. Enrolou a echarpe nos ombros e guardou as chaves do ateliê em sua bolsa. Precisava chegar em casa rápido ou então tomaria um banho de chuva.

A rua estava quase vazia, poucas pessoas caminhavam por ali aquele momento. Lojas e lanchonetes fechavam enquanto outras pessoas que largavam do trabalho se encaminhavam aos seus respectivos lares. Ellis achava engraçado, o costume daquela rua era de recolher-se mais cedo que as outras. O que funcionava bem para os negócios, todos corriam para comprar algo antes das cinco horas quando tudo fechava.

Owen pediu a ela que não saísse de lá após esse horário, pois os mendigos que viviam aos arredores podiam ser perigosos. Amanhã, finalmente ele estaria em casa, depois de cinco dias longe de Owen não podia negar que estava com muitas saudades.

Um homem que vinha no contra fluxo bateu no ombro dela derrubando sua bolsa e quase a desequilibrando. Parou surpresa, mas o estranho continuou andando sem se importar com a incredulidade dela. Com um sobretudo e um chapéu nem pôde identificá-lo.

— Mal educado! — Apanhou a bolsa do chão e voltou a andar. Owen tinha razão, aquele lugar de dia era um paraíso, mas a noite...

Apressou o passo para chegar ao seu prédio que ficava a duas ruas a frente. Sentiu um calafrio nas costas e involuntariamente olhou para trás. Não havia ninguém. Respirou fundo e continuou. Porém prestando atenção a qualquer movimento, não pôde deixar de lembrar do dia em que quase foi baleada em um tiroteio, sentiu a mesma coisa estranha, aquele mesmo desconforto.

O som de algo caindo a sobressaltou e Ellis deu um pulo para trás. Nada, não tinha ninguém. A vontade de correr assolou seu coração, segurou a bolsa e entrou na pequena rua que a levaria direto para casa, mais alguns metros e finalmente estaria na portaria do seu prédio. Viu a rua ao fim movimentada, pessoas passavam de um lado para outro e tudo que pedia era para alcançá-los quando foi segurada pelos cabelos.

— Não olhe e não grite — ordenou a voz masculina em seu ouvido. — Eu só quero a bolsa.

Ellis tremeu.

— Por favor, eu estou grávida — gemeu controlando a vontade de chorar.

— Eu só quero a bolsa — repetiu o homem calmamente.

Ellis respirou fundo e entregou a bolsa.

— Boa menina! Agora você vai seguir o seu caminho e não vai olhar para trás, entendeu?

— Sim... Sim... Eu entendi!

O homem a soltou e Ellis andou devagar temendo que algum movimento brusco pudesse fazer o bandido machucá-la. Tapou a boca controlando a vontade de chorar e com medo que o coração saísse pela boca. Parou a certa distância para tomar ar, olhou para trás e o homem já não estava mais. Sentiu as pernas bambas e apoiou-se em um poste. As lágrimas já não cessavam mais. Viu um ônibus se aproximando, pediria ajuda. Deu a mão e foi segurada por trás.

— Eu disse para você continuar — esbravejou o bandido a empurrando em direção à avenida no momento em que o ônibus passava. Ellis gritou ao ser lançada em direção ao veículo, o motorista tentou parar, porém foi inútil. Ela foi atingida.


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