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 Foi como um relâmpago, não, um trovão, não... um batimento cardíaco? Não podia, os meus nem sequer existiam mais. Aquele corpo passou tão rápido à frente dos meus olhos que, sinceramente, eu só tivera tempo de me deixar cair para trás, de deixar aquelas minhas pernas finas ficarem que nem inexistentes, de deixar o meu rabo e posteriormente as minhas mãos colidirem com aquele tapete vermelho escuro, que naquele momento apenas me lembrava de sangue. Ou era o meu sangue que coloriu todo aquele tapete que partia de uma ponta do corredor e acabava na outra?

 Eu não tinha tanto sangue no meu corpo.

 O medo era indescritível. As mãos suavam e colavam-se contra os pelos vermelhos do bem-dito tapete, as minhas pernas nuas tremiam e doíam estupidamente demais, como se o meu coração me estivesse a dizer para simplesmente correr. Eu sentia como se tivesse visto o demónio à minha frente por meros segundos, e, na verdade, eu tinha mesmo. Eu vi, eu vi, eu vi, eu vi.

 Eu vi, eu vi, eu vi, eu vi. Deus, eu vi o demónio. E ele era alto e com cabelos negros.

 A garganta ardia, ardia muito mesmo, ardia ainda mais do que quanto eu insista em beber aqueles venenos daquele bar infernal. Ardia como se palavras que eu já nem tinha consciência que conhecia quisessem sair cá para fora, arrancadas a todo o custo pelo meu medo, mas eu apenas as engolisse cada vez mais. As lágrimas caiam no chão, eu ouvia esse mesmo som, a minha cabeça estava confusa demais e os sons pareciam se misturar uns com os outros para me magoarem de propósito. 

 Eu era um incapaz.

 Eu apenas tinha pena dos meus lábios, que sangravam e ardiam também, as peles arrancadas e agora presas nas minhas unhas. Lábios cortados e feridos sem misericórdia da minha parte. Tinha fúria para comigo mesmo, deitado ali no chão, os olhos postos no infinito e arregalados, tão arregalados que eu tinha a certeza que me iam saltar da cara mais cedo ou mais tarde.

 Eu queria que algo descesse à terra e me tirasse dali. Só isso. Que aquelas assas negras daquele corvo me viessem resgatar e me levassem para bem longe, para que nunca mais eu tivesse que  observar aquela rica decoração à minha volta e pudesse novamente admirar a da minha casa. Voltar a deitar-me na minha cama quentinha e aconchegante, com o meu livro favorito a descansar na minha mão e o chá preto com pequenas colheres de mel misturadas repousado na minha mesinha de cabeceira ao meu lado. Eu só exigia essas 3 coisas a Deus naquele momento, que me tirasse dali e que me desse novamente aquela boa vida que eu tinha a certeza que me estava a ser roubada e que eu nunca mais a iria receber ou desfrutar de volta. 

 E eu sabia, oh se sabia, que seria aquele mesmo demónio a tirar-ma.

 Desejava ainda poder estar a ouvir música, música clássica de preferência, já que eu tinha a perfeita noção que já não desfrutava de uma boa melodia melancólica fazia bastante tempo. Tinha saudades das dores de cabeça, da música baixinha, da maneira que eu gostava, tinha saudades do quente das minhas calças e do quente do meu peluche favorito. Tinha saudades de uma mente saudável, tinha saudades de conseguir pensar de uma forma organizada e lógica, e não desperdiçar o meu tempo com ideias e desejos inapropriados para o momento.

 Eu devia estar a correr, mas ali estava eu, a desejar o impossível e a discutir mentalmente se queria ou não que aquele demónio alto e de cabelos negros aparecesse outra vez.

 Não, eu certamente não o queria. Não era o meu desejo! Mas, talvez seja da sorte que não tinha, do azar da mesma, que o meu 'não desejo' fora comprido sem eu mesmo me ter apercebido. O coração parou, outra vez, os suores frios e o tremer de ossos a voltarem que nem uma flecha no meu medo assim que vi.

 Ele estava mesmo ali à minha frente.

 - ... – só se ouvia a minha respiração incerta, e talvez, só talvez, fosse dos meus olhos, mas eu conseguia ver os seus olhos vermelhos da cor das chamas do mais maléfico inferno a olharem diretamente para mim, preocupados e receosos. Se assim continuasse, sim, eu certamente iria parar de respirar tal como ele estava a prever.

Black Teddy || Chanbaek - Alternative UniverseOnde histórias criam vida. Descubra agora