2.

39 2 0
                                    


Estava tão quente ali, onde quer que eu estivesse. Eu sentia o peso de mantas e edredons excessivos, tal como eu gosto, com imensas almofadas ao meu redor, exatamente como eu gosto. Sentia os meus pezinhos quentinhos, como meias grossas a tapá-los, como aquelas meias que eu costumo comprar sempre que ganhava um dinheiro extra, cheias de pelos e desenhos. Eram as mais quentes, as mais bonitas. No geral, eu sentia todo o meu corpo quente. Muito quente. Para além das cobertas quentes e confortáveis, a minha roupa que tapava o meu corpo magro, eram quentes demais. Demais mesmo. Tinham pelo, sentia-o a tocarem na minha pele sensível. Eram mesmo muito quentes. Eram sufocantes. Sufocavam.

Sufocavam.

Os meus olhos então abriram-se, mas eu não vi nada. Eu só vi aquela cor que muitos parecem gostar, mas que a mim me dava pânico. Preto. Deus, eu só via preto. A respiração então acelerou-se, o quente do meu corpo desapareceu, o peso sobre o mesmo que as mantas e edredons depositavam sobre a minha personagem desapareceram, o meu coração disparou, o suor que nunca aprecia começou a molhar a minha testa com a minha franja escura e leve sobre ela, os meus pés encostaram-se ás minhas coxas e as mesmas, posteriormente, ao meu peito. Os meus olhos rasgados arregalaram-se, o pouco que conseguiam, e eu gritei. Mas sem som.

O conforto das almofadas desapareceu, e eu senti-me nas mais duras camas que podiam existir. Camas. Provavelmente. Ou o que quer que fosse aquilo, na verdade. A escuridão mantinha-se, e, para ser honesto, eu pensava que estava morto. Eu estava mesmo morto. Eu pensava que estava morto dantes, que já tinha morrido, mas agora eu sentia-me morto de verdade.

Eu não sabia o que fazer. Eu nem sabia onde é que eu estava. Eu sei que morri, eu sei que sim, mas então porque estou aqui? Aqui, que não sei onde é.

Para se juntar à festa, os meus olhos então encharcaram-se com lágrimas que pareciam iluminar o local, as minhas outras amigas. Molhavam o meu rosto com calma, ao contrário do suor que parecia desesperado para alcanças o meu queixo, partindo da minha testa. Aquelas lágrimas suaves pareciam acariciar o meu rosto, enquanto o suor apenas me sujava e me deixava mais assustado do que eu já estava.

A mente ficou branca, quase tão branca como a minha pele de porcelana. Já nada me estava a fazer sentido, mas isto apenas ao ver aquela cor preta, que cobria o espaço de onde eu estava. Aquele liquido que saía do meu rosto estava agora em abundância, a molhar a superfície que, certamente já não era confortável, por baixo de mim. As minhas amigas. Amigas. Amigos. Amigo.

O corvo.

Aquela escuridão era igual à cor das suas penas. Era igual aqueles olhos negros que me olharam quando voaram por cima de mim, naquele dia... que eu nem sabia que ainda me lembrava dele. Deve ter sido à tanto tempo esse dia, certamente eu tinha acordado de uma coma qualquer. Se é que acordei.

Não, Baekhyun. Respira, aguenta-te, mantém-te focado, mantém os olhos abertos e a realidade estável. Isso é de loucos, aquilo era só uma escuridão banal, daquelas que cobrem o meu corpo quando me esqueço de abrir as janelas antes de ir dormir para poder acordar com luz e não com aquela cor preta a envolver o meu quarto. 

É isso. Nada de pânico. Aquilo podia ser um quarto. Ah, aquilo era o meu quarto! Aquilo era certamente o meu quarto! Aquelas mantas quentes e edredons excessivos, aquelas almofadas todas, aquela cama que ganhara novamente o calor e o conforto. O meu coração estabilizou-se, o meu suor secou a o meu corpo finalmente relaxou, embora as lágrimas continuassem a escorrer pelo meu rosto.

E então afastei-me aquele peso todo de cima de mim, as mãos a tremer, o corpo fraco. Eu nem queria saber como é que eu tinha vindo parar ao meu quarto, eu apenas estava feliz. Feliz naquela ilusão. Arrastei-me, melhor dizendo mesmo, até à janela, com a coragem que arranjei de lado nenhum. Apalpava as paredes para me orientar, e o sitio era-me mesmo familiar. Demasiado familiar. Até que senti o tecido finos dos cortinados que, se fossem realmente meus, eram brancos claros com renda azul nas pontas.

Black Teddy || Chanbaek - Alternative UniverseOnde histórias criam vida. Descubra agora