Interesse Mútuo

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Dizem que quando se está perto da morte sua vida passa diante de seus olhos, eu não vi nada, tudo era preto, não sabia quantas horas havia se passado, tentei abrir meus olhos, mas, não consegui, eu só podia ouvir:

- Raquel o que vamos fazer – Era a voz de Will, ele parecia preocupado

- Não sei William, usamos todas doses já, tudo o que recebemos é um coma persistente e leves espasmos.

- Ela pode...pode estar se transformando em uma daquelas coisas?

- Não, ainda não, o coração ainda bate e ela respira sozinha, mas como vai lá fora?

A voz dos dois ficaram cada vez mais baixa até que fui puxada para minha escuridão.

- Will temos que dar um fim nisso. – Raquel estava exaltada e gritava com Will.

Tentei abrir os olhos, mas, nada funcionava precisava mostrar para eles que eu estava ali.

- Não, não, não – Will agora parecia desesperado – Ela vai voltar, lembra o que você disse? Enquanto o coração bater estamos bem.

- Isso foi antes dessa tragédia, minha clinica está uma confusão, cheia de feridos para todos os lados, eles precisam dessa sala urgentemente – Ela gritava com a raiva a resposta para ele.

- Só mais um dia – Will implorou

Antes que pudesse ouvir a resposta fui puxada para escuridão novamente. Ao voltar a escutar dessa vez, não ouvi conversas, tudo o que pude escutar foi um choro, alguém ali estava chorando:

- Elizabeth? – Era Will que chorava – Se você estiver aí em algum lugar mande um sinal – Ele tocou minha mão, tentei movê-la, mas, pela resposta seguinte nada havia acontecido de fato – Droga Lizi, não me obrigue ter de te matar – Ele soltou minha mão, podia ouvir ele caminhando pelo espaço inquieto, ouvi ele bater em algo seguido no barulho de uma arma sendo engatilhada, senti o cano frio contra minha testa – Lizi, eu amo você de uma forma que já mais poderei explicar, mas, prometi a você que não a deixaria se tornar um deles - Então, esse era o fim sabia que iria partir naquele momento minha única tristeza era não poder dizer o amava também – Não – ele jogou a pistola para longe, pude ouvi-la deslizando pelo piso – Não posso, não consigo.

E então tudo voltou a ficar silencioso.

Quando voltei algo estava diferente, todo meu corpo doía, minha garganta estava seca e a claridade me obrigava a fechar os olhos, levou um tempo para que me acostumasse com a iluminação, ao voltar a enxergar vi onde estava, era a clínica de Raquel, mas, algo estava errado, o lugar estava completamente bagunçado, algumas luzes estavam queimadas e outras oscilavam sua iluminação e o ar tinha cheiro de morte, vagarosamente me senti na cama, meus músculos pareciam entrar em colapso pela falta de movimentação, eu não fazia a mínima ideia de quanto tempo havia se passado, tentei buscar na memória algo útil, mas, nada adiantou, olhei para minha mão direita onde senti uma dor incômoda e lá vi pontos no local onde havia sido mordida, além de uma agulha de soro que estava infeccionada presa a parte de cima da minha mão, puxei a agulha com dificuldade a dor foi intensa, desci da cama pisando descalça sobre cacos de vidro que estavam espalhados pelo chão, não se parecia em nada com o local que eu havia conhecido quando a Raquel estava ali. Caminhando vagarosamente pelo lugar consegui chegar a uma das portas que dava ao corredor, mesmo lenta e um pouco grogue sabia que deveria me defender peguei um bisturi que estava jogado sob uma das bandejas ali e sai corredor a fora, tudo parecia silencioso demais, caminhei até a porta de saída no fim do corredor ao abri-la os raios de sol ofuscaram minha visão, soltei o bisturi a intenção de proteger meus olhos da luz, antes que pudesse me acostumar totalmente escutei tiros, eles pareciam altos demais, levei minha mãos, aos ouvidos e abaixei a cabeça, quando finalmente me acostumei deparei-me com o horror, o lugar estava devastado, caminhões que antes protegiam os muros agora estavam capotados e pegavam fogo, mortos estavam em todos os lugares e quando me viram começaram a cambalear em minha direção, comecei a caminhar o mais rápido que conseguia meu corpo protestava, minha garganta doida e eu me sentia tonta, olhei em todas as direções na esperança de encontrar alguém conhecido vivo, foi quando vi ela, conheci aqueles cabelos louros de longe, era Lexi, ela se debatia, me ajoelhei até ela, lágrimas brotaram em meus olhos, ela estava se transformando, a bela jovem agora tinha seu rosto desfigurado graças a uma mordida, seus braços estavam arranhados e faltando partes, a puxei sobre meu colo no instante em que seus lindos olhos verdes como a relva ganharam uma coloração branca e opaca, pensei em terminar com aquilo, mas não tinha forças, me levantei com dificuldade peguei o fuzil que antes pertencia a ela e voltei a fazer meu caminho, alguns passos depois, meus pulmões pareciam pegar fogo e minha garganta arranhava e para completar eu continuava sendo seguida pelos mortos, não consegui mais caminhar minha forças estavam se esgotando, me encostei contra uma parede e derrubei todos os mortos que consegui antes de minhas balas acabarem, aquele era o meu fim, comida de mortos, eles me cercavam em todas as direções, escorreguei até o chão colocado minha cabeça entre os joelhos, sabia que estava prestes a morrer, mas tiros se aproximaram e não paravam, foi quando senti um toque familiar e ao levantar a cabeça me deparei com Will, ele estava sujo de sangue suas roupas estavam imundas, mas seus olhos continham um azul indescritível:

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