DESCANSADA

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        Meus pés estão melhores. As coisas que compramos para Mikaelly já estavam, devidamente, guardadas. Minha mãe seca meus pés e coloca um par de chinelos.
        - Está melhor, querida?
        - Sim, mãe.
       Enquanto ela joga água fora, olho novamente a decoração da sala. Na parede, além de várias imagens de bebês colados, MIKAELLY está escrito com letras rosas com glitter. Na mesa tem um bolo que, em cima, tem um bebê de bruços com os olhos fechados que veste uma fralda rosa. Parece de verdade. A pessoa que decorou esse bolo é muito talentosa.
        No lado direito do bolo tem vários docinhos que, de vez em quando, as crianças pegavam um, escondido. Eu não as culpava, se eu fosse criança também pegaria, na verdade, eu estou com vontade de pegar um, desde que os vi na mesa. No lado esquerdo, tem algumas lembrancinhas: sapatinhos, bercinhos e mamadeiras. São chaveiros, eu os amei, eles são lindos.
        As bexigas rosas, brancas e roxas estão espalhadas pelo chão. No canto esquerdo da sala tem outra mesa cheia de presentes. A sala está espaçosa pois alguns móveis estão encostadas na parede e outros estão guardados em alguma parte da casa.
        Colocaram algumas músicas para tocar, mas está baixo, porque estavam esperando eu descansar um pouco.
        Descansada. Peço para Katie me ajudar a trocar de roupa. Quero tomar um banho e colocar uma roupa mais confortável.
        Katie tem cabelo castanho com franja na altura dos olhos, e está usando óculos mas sei que ela detesta usa-los. Está com um vestido de bolinhas brancas. E está segurando a mão de uma menininha de 3 anos, muito fofa, que tem cabelo liso, preso num rabo de cavalo, que está vestida com uma camiseta da Barbie, uma calça jeans e um sapato rosa. O nome dela é Jullie.
        - Jullie, mamãe vai ajudar a tia Mille a se arrumar - diz se abaixando para olha-la nos olhos.- Espera a mãe aqui embaixo, ta bom?
        - Não, eu quero ir com você- diz segurando forte a mão de Katie.
        Jullie tem uma voz tão fofa que me deu vontade de pegar e levar ela por meu quarto mas, eu não posso me envolver na decisão e nem na educação de uma mãe. Mas ela faz um olhar tão meigo.
        - Filha, aqui embaixo você vai ter outras crianças pra brincar. Lá em cima, você não vai ter ninguém pra brincar.
        - Mas eu quero ir... - os olhinhos dela enchem de lágrimas, ela ia chorar a qualquer momento.
        - Jullie. ...
        - Pode deixar ela subir com a gente, Katie.
        - Viu, viu! A tia Mille deixou- diz Jullie sorrindo. Nem parece que ia chorar.
        - Tudo bem, Jullie.
        Subimos. Eu tomo um banho relaxante e coloco uma roupa mais confortável - um vestido longo com flores roxas.
        Enquanto Katie arruma meu cabelo, Jullie começa a ficar entediada, até está se revirando na minha cama.
        - Mamãe, eu quero descer.
        - Agora você vai ter que esperar. Eu tenho que ajudar a tia Mille a terminar de se arrumar - diz Katie com uma voz séria.- Falei pra você fica lá embaixo mas você não quis.
        - Mamãe ...- o olhar de choro de novo.
        - A tia Mille já está acabando. Calma.- olho para ela.- Vem cá!
        Jullie se levanta da cama e vem até onde eu estou. Eu pego a mãozinha dela e vejo que ela está usando uma pulseira da moranguinho.
        - Olha, que pulseira bonita!
        - Bigada!
        - De nada- digo sorrindo.- Se você se comportar, eu te dou um brigadeiro quando a gente descer. Mas só se você se comportar.
        - Você vai se comportar, Jullie?- pergunta Katie.
        - Sim!- os olhos dela brilharam.
        - Mas é nosso segredo. Você não pode contar pra ninguém - encosto o dedo indicador nos lábios e ela faz o mesmo.
        Jullie volta para cama e pega minha girafa e leão de pelúcia para brincar. Eu sorrio, imaginando que em breve, será minha filha que vai estar aqui brincando com meus bichinhos de pelúcia.
        - Você vai ser uma boa mãe.
       Olho pro espelho e vejo Katie sorrindo pra mim.
        - Espero que sim- digo passando a mão na minha barriga.
        Assim que ela termina de pentear meu cabelo, eu coloco uma tiara e passo uma maquiagem básica: um lápis e um brilho.
        - Você está linda.
        - Estou gorda, parecendo uma foca.
        - Pensa que daqui a dois meses seu corpo vai voltar a ser como era.
        - Estou pensando nisso - digo me olhando pela última vez no espelho.- Temos que descer.

        Mesmo dizendo para Jullie que era nosso segredo, ela contou para todas as quatro crianças que estavam ali, e todas vieram pegar um brigadeiro. Eu fiquei com pena e dei um brigadeiro para cada um. Por sorte, tinham comprado doces a mais para festa.
        Tirei tantas fotos que, meu rosto já está dolorido de tanto sorrir, mas tirei foto com todo mundo. Depois das fotos, comemos e foi essa a hora que as crianças mais gostaram, e eu também, porque os brigadeiros e beijinhos foram liberados. Eu peguei sete docinhos, comi dois e escondi os outros na geladeira e deixei o resto com as crianças.
        Quando chega a hora dos presentes, vendam meus olhos. Separam as fraldas porque seria fácil descobrir o que era. E assim começa a brincadeira.
        O jogo é o seguinte: eu tenho  que descobrir pelo tato o que são os presentes. O castigo, caso eu errasse, seria a pessoa que me deu o presente, me pintar como ela quisesse. Mas como eu tinha acabado de tomar banho, se eu errar, a pessoa ganhará que ela quiser, desde a lembrancinha até dois pedaços de bolo. É justo, melhor do que me pintar.

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