UM DIA ATRÁS DO OUTRO...

PRIMEIRO DIA

        Dessa vez eu não vou até as prateleiras para pegar um livro. Hoje, eu me sento na cama da Mikaelly, e a cubro com carinho.
        - Hoje, começo a te contar a história de como você nasceu- fico pensativa, organizando meus pensamentos.- Está preparada?
        - Sim- ela se ajeita melhor na cama e sorri.- Pode contar.
        - Eu tinha 17 anos, estava no último ano do colegial. Fazia alguns meses que meu livro tinha sido publicado...
        - Qual livro?
        - Diferentes.
        - Uau- diz admirada.- Você publicou quando tinha 17 anos. Que legal, mãe!
        - Foi, sim- digo me recordando do momento que recebi a resposta da Editora.- Quando a editora mandou um e-mail dizendo que gostaram no meu livro e queria publica-lo, eu não acreditei. Minha ficha só caiu quando o primeiro exemplar estava na minha mão. Foi surreal, parecia mentira. Enfim,- volto a me concentrar na história,- meu livro foi aceito pelo público. E como ele foi muito vendido, recebi uma proposta de ir na Bienal, só que era no Rio de Janeiro. Eu amei a ideia mas seus avós não gostaram muito. Eles não queriam me deixar viajar sozinha.
        - Então você não foi?- pergunta Mikaelly.
        - Depois de conversar bastante, consegui convence-los. Eles entenderam que essa viagem era muito importante pra mim, mas me fizeram levar seu tio Marcos- digo.- Quando o dia da viagem chegou, meus país passaram várias regras e instruções. Fiquei, até, com medo que desistissem de me deixar ir.
        - Mas eles deixam você ir, neh, mãe?
        - Deixaram, sim, querida-lembro da cara de apreensão dos meus país quando embarcamos no avião.- Foi difícil mas eu e seu tio conseguimos embarcar. Quando chegamos no Rio, havia um homem com cabelos grisalhos segurando uma placa escrito: Palloma Sky.
        - Palloma Sky?
        - Sim- pego o livro Diferentes que está em cima do criado mudo.- Olha aqui,- mostro o nome que está no rodapé da capa.- Palloma Sky é meu nome de escritora. Uso esse nome para as pessoas não saberem foi eu quem escrevi.
        - Por que Palloma Sky?
        - Quando estava pensando num nome para colocar, gostei de Paloma mas, para ficar mais minha cara, coloquei 2 L para ficar parecido com meu verdadeiro nome. E Sky, por causa de um desenho que eu amava. No desenho tinha uma cachorrinha chamada Sky. Então escolhi esse nome, Palloma Sky.
        - É um bonito nome, mãe.
        - Obrigada, querida- guardo o livro.- Continuando, o homem que estava nos esperando, nos levou para hotel, fizemos check-in e quando entrei no quarto havia um buquê de flores sobre a mesa e dois papéis do lado.
        "O primeiro estava escrito: "Bem vinda, Palloma. Espero que a viagem tenha sido agradável e que você não tenha se cansado tanto, porque amanhã teremos um dia cheio. Então, descanse e aproveite sua estadia nesse lindo hotel. Assinado, sua Editora."
        "O segundo papel era toda minha agenda de compromisso para semana. Quando vi todos aqueles compromissos, percebi que todos meus passos estavam cronometrados, me sentei na cama, me sentindo cansada.
       "-'Você está bem?'- perguntou seu tio Marcos, guardando suas roupas no guarda roupa do hotel.
        "-'Só estou imaginando como o dia de amanhã será corrido'- entreguei a programação para ele e me levantei para pegar meu celular da bolsa.- 'Mal vou ter tempo pra respirar.'
        "-'Realmente, vai ser corrido' - disse ele.- 'Eu vou ter que seguir essa programação também?'
        "-'Só algumas partes. Não vamos ficar juntos o tempo inteiro.'
        "- 'Graças a Deus. Vou poder ir à praia.'
        "-'Muito esperto, você não pode sair assim, sem mim. Nossos pais não mandaram você para ir á praia mas, para cuidar de mim.'
        "-'Com essa programação,'- ele mostrou o papel que segurava.- 'você estará segura. Então, partiu, praia.'
        "-'É o que veremos'- me deitei na cama.- 'Pedi alguma coisa pra gente comer.'
        "Eu estava tão cansada que acabei dormindo sem comer nada. Quando acordei, estava quase atrasada para meu primeiro compromisso do dia. Me levantei a mil, peguei o primeiro vestido que vi e entrei no banheiro. Terminando meu banho, o telefone tocou, coloquei o vestido o mais rápido que conseguir e corri para atender.
        "-'Camille?'
        "-'Sim'- disse enrolando meu cabelo na toalha.- 'O que houve?'
        "-'O motorista já está te esperando.'
        "-'Motorista? Aí, meu Deus. Fala que em 10 minutos, eu desço.'
        "Penteei meu cabelo, enquanto arrumava minha bolsa. Coloquei a primeira sandália que eu vi, sem ver se combinava ou não. Passei um lápis de olho, peguei um pão doce já que não tinha comido nada na noite anterior e corri por corredor. Parei na frente no elevador e esperei, se eu fosse de escadas chegaria mais atrasada ainda.
        "Depois de comer o pão doce, passei um gloss e coloquei um brinco de argolas que combinava com qualquer roupa.
        "Quando o elevador chegou, entrei e comecei a respirar fundo. Nunca gostei de elevadores, eles me dão um frio na barriga e tenho medo que caiam mas, naquele momento, era minha única opção. Me virei para me olhar no espelho - eu estava com um vestido azul e sandália preta de salto. Sandália nada apropriada por dia que eu teria pela frente.
        "As portas do elevador estava quase se fechando, quando alguém gritou:
        "-'Segura esse elevador!'"
        - Era o papai?- pergunta Mikaelly.
        - Sim, o papai como eu também estava atrasado- respondo.- Ele entrou no elevador e se abaixou para amarrar os sapatos. Quando o elevador começou a descer, meu coração apertou e encostei minha cabeça no espelho e comecei a respirar pausadamente, pensando: São só 10 andares. Só 10 andares. Você consegue.
        "-'Você também tem medo de elevador?'
        "-'Também?'- olhei pela primeira vez por papai, que estava encostado no espelho, olhando para mim.- 'Você também tem medo?'
        "-'Um pouco'- o elevador deu um solavanco e ele fechou os olhos.- 'Certo, é mais do que um pouco.'
        "-'É bom saber que eu não sou a única'- olhei por teto, respirando fundo.- 'Ainda falta 7 andares.'
        "-'Ei, calma'- ele tocou no meu ombro, me fazendo olhar para ele.- 'Sabe o que eu faço para esquecer o medo?'
        "-'O que?'
        "-'Eu penso em coisas engraçadas. Quer que eu te conte algumas piadas?'
        "-'Suas piadas são boas?'- perguntei sorrindo para ele.'
        "-'Bem... Boas, boas, não são. Mas te fará esquecer o medo.'
        "-'Quero só ver."
        "-'O que uma galinha que estava fazendo café disse pra outra?'
        "-'O que uma galinha fazendo café? Galinha bebe café?- eu pensei um pouco.- Não sei.'
        "'- Pó Pô Pó? Pó Pô Pô...'
        "Eu comecei a rir descontroladamente, meus olhos encheram de lágrimas e chorei de tanto rir. Não lembrava quando tinha sido a última vez que dei tanta risada. Quando eu olhei por seu pai, ele estava rindo comigo.
        "-'Certo'- disse ele parando de rir.- 'Pronta pra outra?'
        "-'Não, espera'- eu tentei parar de sorrir, mas não conseguia.- 'Espera, espera.'
        "-'Eu espero'- disse ele.- 'Calma, respira.'
        "-'Pronto'- parei de rir e respirei devagar.- 'Pode contar.'
       "-'Falta 2 andares'- ele olhou o visor do elevador.- 'Vou contar uma rápida: Um urso caiu da cômoda, qual é o nome do filme?'
        "-'Filme?'
        "-'Sim! Falta um andar, então pensa rápido.'
        "-'Não sei.'
        "-'Ursinho pooh.'
        "-'Nossa- eu comecei a gargalhar de novo.- Que besta!'
        "-'É besta, sim!- disse ele sorrindo.'
        "O elevador chegou no térreo e eu saio rapidamente mas lembrei que não agradeci e voltei.
        "-'Obrigada pela ajuda. Eu realmente esqueci meu medo'- apertei o botão para manter a porta do elevador aberta e rapidamente dou um beijo no rosto dele.- 'A propósito, eu me chamo Camille.'
        "-'Sou Martin, muito prazer' - disse ele sorrindo.
        "-'Tenho que ir, estou atrasada. Obrigada novamente e a gente se ver.'
        "Corri, entrei no carro pedindo desculpas pelo meu atraso. Seu Luiz - esse era o nome do motorista - me levou para Bienal. Chegando na Bienal, vi que era um local enorme, cheio de livros, vários estandes e pessoas caminhando. Assim que coloquei um pé no local do evento, eu já amei. Como uma boa leitora, amo lugares com livros e esse evento era cheio deles.
        "-'Palloma, que bom que você chegou'- disse Milena, minha agente literária.-'Tem uma fila enorme de fãs te esperando.'
        "-'Uma fila enorme?'
        "-'Sim- disse ela mexendo no celular.-'Mas primeiro tenho que te levar para entrevista.'
        "-'Entrevista?'- essa palavra me deixou nervosa, não imaginava que teria uma entrevista, não estava na agenda.
        "-'Sim, mas nada que você não consiga fazer.'
        "Começamos a andar, até uma sala que ficava no final do corredor. Entrando, vi alguns jornalistas sentados, escrevendo em seus blocos de papel. Vê-los fez um bile subir na minha garganta e eu o engoli.
        "-'Pode se sentar'- disse me conduzindo para mesa, pegando uma placa.- 'Seu nome está aqui.'
        "-'Ok!'- disse me sentando.
        "-'Vou buscar outro escritor que também está atrasado'- Milena suspirou, olhando o relógio.- 'Já volto!'
        "Olhei o nome da pessoa que se sentaria do meu lado: Marshall Smith."
        - Marshall Smith?
        - Sim- digo.- Naquele época, eu não sabia quem era esse escritor. Então, peguei meu celular para pesquisar, mas antes que a informação carregasse, Marshall Smith apareceu. E sabe quem era?
        - Marshall Smith era o papai?- pergunta ela admirada.
        - Exatamente- digo.- Quando ele me viu sentada ali, não acreditou. Ele se sentou olhando pra mim.
        "-'Você é Palloma Sky?'- perguntou Martin confuso.
        "-'Sou'- disse sem entender nada.- 'E você é Marshall Smith?'
        "-'Sou ...'
        "-'Vocês já se conhecem?'- disse Milena.- 'Ótimo, já podemos começar.'
        "A entrevista foi breve. Nela, eu descobri um pouco sobre o livro que Martin tinha escrito, e gostei da história. Então, depois da entrevista e da sessão de autógrafos, comprei um exemplar de Dragões do Império e partir para meus outros compromissos.
        "Quando cheguei no hotel, meus pés estavam me matando, então, novamente, eu tive que subir de elevador, mas dessa vez, lembrei das piadas que Martin tinha contado naquela tarde e isso me distraiu.
        "Naquela noite, comecei a ler Dragões do Império e quando terminei o primeiro capítulo, a campainha tocou e eu pensei que fosse algum serviço de quarto, mas abrindo a porta, vi Martin e meu coração acelerou.
        "-'Boa noite'- disse ele sorrindo.- 'Primeiro, eu consegui o número do seu quarto na recepção. Espero que não se incomode, é que eu não quis esperar até amanhã para conseguir um autógrafo'- ele me entregou um exemplar de Diferentes.- 'Você poderia autografar pra mim?'
        "-'Claro, seria uma honra'- peguei o livro pensando do que escreveria.- 'Quer que eu dedique á Marshall ou Martin?'
        "-'Martin Soares, por favor.'
        "-'Certo!'
        "Me sentei na escrivaninha que estava perto da entrada e escrevi:
        "'Para Martin Soares, a pessoa que mais me fez rir na vida e esquecer o medo de elevador. Espero que goste do livro.
        Com amor,
        CAMILLE SOUZA.'
        "-'Aqui'- devolvi o livro.
        "-'Obrigado!'- disse ele lendo a dedicatória.- 'Você é fácil de se fazer rir.'
        "-'Um pouco'- disse sorrindo.- 'Você poderia autografar pra mim, também?'
        "-'Claro'- ele apontou para escrivaninha.- 'Posso?'
        "-'Sim'- me levantei e comecei a folhear o livro que ele tinha comprado.'
        "-'Aqui'- ele devolveu o livro fechando.- 'Mas você só pode ler quando eu sair.'
        "-'Por que?'
        "-'Porque eu prefiro assim'- ele se levantou e saiu do meu quarto.- 'Tenha uma boa noite, Camille.'
       "Martin estendeu a mão para me cumprimentar, mas quando eu peguei, ele a beijou.
        "-'Boa noite, Martin.'
        "Quando fechei a porta, não aguentei a curiosidade e abri o livro para ler a dedicatória.- Dedicatória que eu já li para você, na primeira vez que lemos Dragões do Império.
        "'Para garota mais linda que eu conheci. Da pessoa que vai amar te conhecer.
        MARTIN SOARES.'
        "Lembro que encostei na porta e sorri. Acho que, naquele momento, eu comecei a gostar do seu pai sem perceber. Então, é isso, foi assim que eu conheci seu pai.
        - Que meigo!- diz Mikaelly bocejando, tentando se manter acordada.- E como vocês começaram a namorar?
        - Isso é outra história,- digo lhe dando um beijo de boa noite,- que te contarei amanhã. Agora é hora de dormir. Boa noite!
        - Boa noite, mamãe!
        Sorrio. Amo quando ela me chama de mamãe e isso está ficando cada vez mais raro.
        - Boa noite, meu amor- dou outro beijo nela.- Tenha bons sonhos!

        Assim que chego no meu quarto, meu celular vibra. Uma mensagem de Julian.

        "Nosso lugar especial estará disponível para amanhã. O que você acha?"

        Amanhã? É tão em cima da hora mas esse lugar parece tão complicado de se reservar. Fico indecisa, mas começa a digitar a resposta.

        "É meio em cima da hora mas eu topo."

        "Ótimo! Não consegui outro dia, me desculpe. Você não vai se arrepender."

        Assim que essa mensagem chega, marco Elisa e Thaysa numa mensagem.

       "Tenho um encontro amanhã. Preciso de ajuda."