LAR

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        Chego em casa com Nicholas. Uma casa amarela com grandes janelas de vidro ao lado de uma porta bege. Lar doce lar. Que ironia, para mim não seria mais tão "doce". Eu vou estar sozinha nessa casa de cinco cômodos a partir de hoje. Uma casa enorme para apenas uma pessoa.
        - Obrigada por me trazer até aqui.
       Pego a chave de casa e olho o chaveiro que tem uma foto do meu casamento, onde eu e Martin estávamos um de frente por outro, com as nossas testas encostadas, sorrindo. Foi uma das fotos mais lindas do meu casamento. Estávamos tão felizes nesse dia, e agora, nada. Ele se foi e só sobrou as lembranças.
        Aperto o chaveiro para manter essa lembrança viva na minha mente e para tentar segurar minhas lágrimas. Não quero chorar na frente de Nicholas. Eu preciso ser forte por mais algum tempo.
        - Quer entrar?- Pergunto abrindo a porta.
        - Claro!
        Me sento no sofá vermelho de canto, apoio o cotovelo no joelho e passo a mão no rosto. Provavelmente, eu estou horrível mas não tenho coragem de me olhar no espelho, muito menos, vontade de me arrumar.
        - Quer alguma coisa? Um chá, café ou um suco?
        - Quero nada- ele coloca a mão no meu braço, me fazendo olhar para ele.- Mas você precisa de um chá para se acalmar um pouco. E não precisa se levantar, eu faço pra você.
        - Não precisa, Nick.
        Nicholas nem espera eu terminar de falar e já se levanta para ir á cozinha. Ele se abaixa para pegar uma panela e a enche de água.
        - É... Onde fica o chá?- Pergunta ele se apoiando no balcão da cozinha americana.
        - Está no armário de cima, na terceira porta.
        - Certo- diz abrindo o armário.- A terceira porta, neh?
        - Sim, a terceira porta- digo.- Mas, sério, não precisa fazer chá pra mim. Já me deram calmante e é provável que eu durma. É só questão de tempo.
        - Um chá vai te fazer bem.
        - Nick, não...
        - Cala a boca, garota. Estou fazendo e você vai beber. Ponto e acabou!
        - Seu grosso- digo rindo, me fingindo de ofendida.- Obrigada, amigo!
        Pronto, Nicholas me traz chá numa caneca branca e se senta do meu lado. Agradeço e começo a beber, não quero mas não posso recusar. Estou começando a me sentir um pouco fraca e cansada, só quero que esse dia acabe logo.
        - Que álbum é esse?- ele aponta para um álbum de capa dura prateada com vários corações pratas. Meu álbum de casamento.
        - Pode ver, se você quiser.
        Nicholas pega e abre o álbum na primeira foto, que eu estava vestida de noiva - um vestido com mangas e detalhes de renda, e segurando um buquê de rosas amarelas que escolhi por ser diferente. Na foto, eu estava de frente a um espelho com um sorriso no rosto.
        - Foto bonita!
        - Obrigada!
        Fico observando, enquanto ele passava as fotos do meu casamento: o dia de noiva, cerimônia e a festa.- Festa que eu nem curtir direito porque estava tirando fotos e mais fotos, porém, foi o dia mais feliz da minha vida. Lembro que chorei tanto na hora dos votos que fez Martin ri. Aquele bobo.
        - Amiga, você está bem? Você está chorando.
        - Chorando?- Passo a mão nos olhos, as lágrimas escorriam pelo meu rosto.- Eu estou bem, só que ... Sei lá.
        - Entendo, amiga- ele coloca a mão na minha barriga.- Mas você tem que ser forte pela sua filha que está crescendo aqui. Aliás, como vai ser o nome dela?
        - Mikaelly.
        - Mikaelly não é um nome ruim- ele fez carinho na minha barriga.- Podia ser Beyoncé, Lady Gaga.
        - Mikaelly é melhor. E o bebê é meu e dou o nome que eu quiser, queridinho.
        - Grossa!- ele se afasta.- Fica bem, amiga e precisando de mim...
        - Eu já sei. Obrigada- digo o abraçando.- Obrigada mesmo.
        - De nada- ele se levanta.- Tenho que ir agora, Kelly me pediu para comprar o jantar e já é 18:30- ele segura a maçaneta.- Amiga, você vai ficar bem?
        - Não se preocupe comigo- digo fingindo um sorriso.- Você tem que ir ou a Kelly ficará preocupada.

        Subo para meu quarto e pego um porta retrato de cima do criado mudo. Outra foto do meu casamento, uma tirada na cerimônia - Eu e Martin sentados em poltronas separadas mas, nossas mãos estavam dadas entre elas. Lembro que Martin apertou minha mão fazendo que eu olhasse para ele. Em seguida, sussurrou: "Finalmente." Isso me fez sorrir e o fotógrafo capturou, exatamente, esse momento.
        Com essa lembrança, eu sou vencida pelo cansaço e adormeço abraçando o porta-retrato.

UM DIA ATRÁS DO OUTRO...Onde histórias criam vida. Descubra agora