Indiferente

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Capítulo 3

Havia pelo menos um quilômetro a percorrer por estrada particular, antes de chegar a mansão de Benjamin Waltter, e Aldo não parou. Tinha muita pressa e, apesar de saber o que ia encontrar, esperava que Ben tivesse pelo menos um pouco de caridade diante da situação por que passava.
Viu a imensidão dos terrenos e os currais, e não muito longe, os outros cercados que prendiam os potros selvagens que mais tarde seriam domados e vendidos para corridas, exposições ou outro fim.
O pátio que cercava a casa era enorme e notava muito movimento ali. Havia também dois imensos caminhões carregando frutas da época em caixotes que eram fechados e pesados em uma balança comercial enorme.

Ao ouvir o galope do cavalo, muitos rostos se voltaram, mas, ao reconhecerem Aldo, sacudiram os ombros e voltaram a seus afazeres.
Sem demonstrar, Aldo Saint freou o cavalo e perguntou com voz áspera:

- Onde está Ben?

- Aqui - respondeu uma voz não menos áspera, vinda do terraço.

A casa, estava coberta de heras e plantas. As escadas de granito reluziam e as paredes brancas, parecendo recém-pintadas.

Aldo desmontou e amarrou o cavalo a um poste. Em seguida, subiu rapidamente as escadas até chegar aonde estava Ben Waltter.
Ele era alto, moreno bronzeado, musculoso. Tinha cabelos lisos, em tom escuro, olhos meio puxados, frios, secos, tirânicos.
Vestia culote preto e uma grossa malha de lã, de gola alta.

- Você está cheirando a ginebra, Aldo

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- Você está cheirando a ginebra, Aldo. Já esteve no bar ?

- Vamos entrar - disse Aldo apressado.

- Calma - replicou Ben secamente. Tinha o rosto de expressão fria. Bronzeado, insociavel  e, antes de tudo, despótico.
- Que diabos veio fazer aqui?

-  Ben, vamos entrar. Não quero que ninguém me ouça. E por favor, dê-me uma ginebra.

- Quantas já tomou, Aldo, sendo ainda 9 horas da manhã ?

- Se não entrar, sou capaz de matá-lo. Desta vez sim...

- Suas ameaças não me assustam. Mas entre, se quiser.

Displicentemente, Aldo entrou primeiro. Atravessou um largo vestíbulo, ricamente decorado com amplas janelas e vasos, e móveis de nobre madeira entalhada. Depois seguiu para outra sala por uma porta corrediça de cristal, de tons claros. A decoração era primorosa em austeridade e bom gosto.

- Sirva-se, se quiser - disse indiferente, sacudindo a cabeça.
Estava em pé, no meio da sala. Seu rosto queimado, curtido pelo sol e pelo ar, parecia mais o de um peão do que o dono daquele império.
Via, sem se perturbar, como Aldo Saint ia até o bar, no canto da sala e se servia de uma ginebra e mais outra.

- Você já está "alto" - disse, indiferente.  - Mas se apetece, continue.

Aldo, magro, envelhecido ao máximo, pois com seus cinquenta e poucos anos parecia ter setenta, olhou Ben com espanto. Seus olhos pareciam saltar das órbitas.

Sentimento De PosseOnde histórias criam vida. Descubra agora