Desabafo

150 20 8
                                    

Capítulo 14

Safira decidiu falar de suas suspeitas, naquele momento. E porque não? Já sabia, pelo que havia visto há pouco, que Ben tinha duas personalidades: uma que o definia aparentemente e outra que, sem dúvida, ocultava. A idéia de um novo ser, em seu ventre, lhe dava força e coragem. E também acreditava que o amava. Sentiu uma imensa frustração quando Ben não a procurou mais.
Ben estava deitado, olhando fixamente para o teto.

- Acho que vou ter um filho - disse, de sopetão.
Continuou na mesma posição, como se não tivesse ouvido nada. Mas, subitamente, sentou na cama e a olhou boquiaberto.

- O quê?  Eu ouvi bem?

- Sim, Ben.

- Sente-se Safira. Quer dizer que apesar de nossa relação difícil e incompleta iremos ter um bebê?  - ele se deitou de novo e fechou os olhos. Parecia manso, tranquilo, como se voltasse ao passado.
- Vou educá-lo como fui educado. Posso parecer um monstro, mas não sou. Talvez seja até melhor, me lembro. Quem sabe... - Refletiu em voz alta.

Com um tremor nas pernas, Safira sentou-se devagar numa poltrona, próximo a cama onde Ben continuava deitado, agora com os braços caídos ao longo do corpo.

- Fico feliz com a idéia de ter um filho - continuou ele suavemente. - É possível que isso nos una realmente. Sinto não poder confessar meu amor, porque não sei se é isso o que sinto. Você é tão pura e eu... um vilão. Curioso, nunca pensei, nem jamais me passou pela cabeça, que um dia me casaria com a filha do homem que mais odiei na vida.

Safira estremeceu, pressentindo que finalmente ia conhecer toda a verdade.
Ben prosseguiu:

- Dizem que para um homem e uma mulher se entenderem bem, é preciso que os dois cedam. Eu pensei que não faria isso jamais. Me sentia forte e marcado pelo passado... Mas quando a vi, naquele dia, em seu cavalo branco, fiquei deslumbrado. Foi como uma ressurreição, como um novo começo - confessou, sorrindo, ainda olhando para o teto. - Pensei que apenas a desejava e me neguei categoricamente a reconhecer que havia algo mais forte nisso do que um simples desejo...  Tê-la, como uma boneca, foi horrível... Agora sinto que cometi um erro... Um grave erro...

- Você disse que odiava meu pai e, no entanto, o ajudou, e o está ajudando.

Ben não se mexeu. Apenas falou :

- Há erros graves que se confundem... Em um dado momento, compreendi que não podia permitir que o único amigo de meu pai se desfizesse de seus bens e comprei suas hipotecas. Ainda não sei ao certo as razões que me levaram a isso. Quem sabe minha mãe, à hora da morte, tenha liberado meu rancor... E comecei a ver as coisas como eram realmente.

- O que aconteceu então, Ben?

Surpreendido, ele abriu os olhos. Sentou-se e ficou olhando para ela com expressão indefinida.

- Você me disse que vai ser mãe, não é verdade?

- Tudo leva a crer que sim.

- Bom. Vamos esperar que isso facilite as coisas entre nós e que consiga entregar-se a mim como uma mulher. Um homem aceita esta situação quando não existe amor, mas quando há um sentimento, não é capaz de aguentar.

Safira não podia acreditar no que estava ouvindo. Será que ele estava tentando dizer que a amava?  Na forma dele?

- Não estou compreendendo, Ben.

Ele levantou-se e ficou diante dela.

- Não faz mal, Safira. Vamos ter um filho ou uma filha, na verdade gostaria muito de ter uma menina parecida com a mãe. Vamos ter um bebê e isso é o que importa. Depende unicamente de você formamos uma família unida. Te quero como esposa e mulher. Mas, para que sejamos felizes, entre nós terá que haver plena compreensão e prazer, até nos sentirmos um só - riu. - Se pretendia castigar-me, saiba que conseguiu. Não adianta fingir. Sem querer, voltei ao passado e me vi desamparado, cheio de raiva e com um desejo enorme de vingança. É certo que não arruinei ninguém, mas sempre obriguei todos a fazerem exatamente o que eu queria. Não sei se foi um erro ou apenas uma revanche. Errar é humano e eu sou um homem comum, apenas com mais recursos. Mas, quando tudo aconteceu, só possuía uma granja, um ranchinho, um pedaço de terra que cultivei noite e dia sem parar.

Safira desejava saber tudo, emocionada com a voz de Ben, tão triste e amargurada, aproximou -se dele e pôs a mão em seu ombro.

- Quem sabe se você desabafar essa raiva, que há tempo guarda consigo, as coisas mudem, Ben.

Ele olhou para sua mão e disse desgostoso:

- Você não está usando o anel.

Safira retirou a mão rapidamente e foi até a janela. Afastou a cortina e encostou a testa no vitral.

- Há alguns momentos eu o vi pegar Luke no colo e abraça -lo...

- Ah! - exclamou ele, indiferente.

- Vi que o acalentava com ternura e percebi que você não é tão frio e feroz como aparenta. Tem muita sensibilidade. Como o que fez por Lupi e Firpo. Te devo desculpas por algumas palavras rudes.

- Boa Noite, Safira! - exclamou Ben com súbita ferocidade, dirigindo -se a porta intermediária.

Mesmo sem compreender aquela atitude brusca, Safira não estava disposta a deixar as coisas terminarem assim. Decidida, atravessou a porta e ficou diante dele, atirado na cama.

- Se veio aproveitar -se de minha sensibilidade, pode sair. - Ben murmurou entre os dentes.

- Vim saber porque oculta o que sente, aparenta o que não é, se empenha em ser diferente, quando continua sendo o que sempre foi.

- Você não me conheceu antes - ele riu.

- Mas outras pessoas que o viram jovem dizem que mudou, e eu gostaria de saber porquê?

Ben sentou-se na cama e, pondo os pés no chão, começou a procurar pelos chinelos...

- É curioso, estamos aqui conversando como dois amigos - disse ele...

- Estamos na iminência de ter um filho e isso é assunto nosso. - ela rebateu.

- Não, Safira, isso é um problema muito sério. Não se iluda. Você me aceitou como algo imposto. De repente, não sei porquê, percebi isso. Não deveria nunca tê -la possuído à força. Deveria ter conquistado, cativado, fazer surgir entre nós um sentimento forte, que realmente nos unisse. Mas acho que é o hábito. Sempre consegui tudo a força, sendo indiferente, inflexível. Portanto, não vamos nos enganar, agora que parece que desejamos colocar tudo em pratos limpos.

- Seja como for, esse filho deve ser o elo de união que nos fará esquecer o que passou e começarmos uma vida nova.

- Você sabia que meu pai morreu numa prisão?





.....................

Aguardem a revelação DO Segredo! kkkkkkkk

Sentimento De PosseOnde histórias criam vida. Descubra agora