Sinismo

170 24 36
                                    

Capítulo 5

Safira não tinha pressa nenhuma. Ia cavalgando normalmente e pensando em muitas coisas. De repente, ficou paralisada. Deteve o cavalo e não crer no espetáculo que estava a sua frente. No lugar da casinha, estava um enorme palacete.

" Acho que me enganei, não pode ser aqui", pensou confusa.

Aproximou-se devagar, deparou com pátios enormes e muitos peões trabalhando. O palacete ficava no meio do vale e, ao redor, a terra estava toda semeada.
De um lado, havia uma grande piscina e do outro, uma quadra de tênis. No mesmo nível dos terraços, um toldo cobria uma segunda piscina.
Safira estava tão impressionada que nem reparou que os trabalhadores a olhavam. Uns assombrados cochichando, como se a reconhecessem, e outros apenas curiosos.
Um terraço alto, de granito, presidia a entrada principal da mansão. Era decorado com flores ornamentais, bem cuidadas. Ali estava Demétrio, vestido como pela manhã.
Assim que a viu, ele veio ao seu encontro.

- Boa Tarde, sr. Manson.

- Tome conta do cavalo - ordenou ele a um criado, enquanto a conduzia para dentro da casa. - Por aqui, por favor. Falou sorridente.

Safira não pôde disfarçar sua admiração. A decoração era linda, meio rústica, mas de gosto apurado. Janelões, quadros, tapetes, plantas, espelhos, móveis de madeira nobre, almofadas fofas...

- Que maravilha! - exclamou.

Mas será que tudo aquilo pertencia mesmo aos Waltter?

No mesmo instante, um homem surgiu no meio da porta corrediça de cristal.
Vestia calça jeans, camisa de gola alta e blazer cinza. Tinha cabelos lisos bem alinhados e olhos castanhos. Seu rosto era altivo e de traços austeros. Alto, músculo, aparentava ser jovem.

- Sou Benjamin Wlatter - disse com voz rude. - Suponho que você seja Safira Saint.

Tratou-a sem cerimônias, como se a visse todos os dias.
Safira não deu muita importância a isso, mas achou um tanto cínico ou até mesmo mal-educado.
Ele aproximou-se e apertou-lhe a mão. Em seguida voltou-se para o advogado:

- Obrigado, Demétrio. Pode nos deixar sozinhos agora. Eu o chamarei se for preciso.

Demétrio hesitou, mas um gesto frio de seu patrão fez sair da sala rapidamente.

- Queira me acompanhar, por favor - disse Ben, fechando a porta atrás do advogado e conduzindo-a a um enorme salão.

Aquela mais parecia uma casa de contos de fadas do que um casarão de fazenda.
Ben ofereceu uma cadeira a Safira.
Sentando-se, ela observou-o.

- Você, com certeza, não se lembra de mim, não é?
Disse ele sentando-se.

- Não, realmente não me recordo de tê -lo visto antes.

- É que já faz uns anos que me enterrei aqui, e você se foi a uns seis anos se não me engano. Eu ia a uma escola pública, e você a uma particular. Eu ia de bicicleta, e você, no carro de papai com um criado de motorista.

Safira sentiu-se incômoda e também estranhou o fato de ele não chama-la de senhorita.

- Mas eu também não me lembrava de você. Se não me dissessem quem era, não a teria reconhecido. Ontem passei a seu lado, a cavalo, mas você ia tão distraída que nem me notou.

Antes que Safira respondesse, ele acrescentou:

- Niely servirá o chá em seguida. Fique tranquila e fume se gostar.

Abriu uma caixa de cigarros e ofereceu-os a ela.

- Obrigado, não fumo.

Ben Waltter nem se importou, fechou a caixa brutalmente e guardou de volta.
Safira não conseguia entender como um rancheiro tão rude e mal-educado podia ter grande sensibilidade para decorar uma casa com tanto gosto.
Da cadeira luxuosa, onde estava sentado, ele tocou uma sineta.
Imediatamente, a porta se abriu e uma criada vestida de preto e avental branco apareceu, empurrando um carrinho de prata e cristal, com o serviço de chá caprichosamente preparado.

Sentimento De PosseOnde histórias criam vida. Descubra agora