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CAPÍTULO 2

- Firpo, firpo, onde diabos você se meteu ? Lupi, traga uma xícara de café forte e quente!

Lupi saiu as presas e Firpo a seguiu. Safira foi atrás deles. Na porta da sala via a figura de Aldo Saint, com sua roupa amarrotada e calçado ainda sujo de barro e um boné bem surrado.
Safira o observou emocionada.
Aldo piscou repetidas vezes, como não acreditando no que via. Não podia ser Safira! Afinal, ela devia estar em Londres... Seis anos mudam muito uma pessoa, sobre tudo na adolescência. Aos Dezesseis anos Safira foi muito magra e sem nenhum encanto feminino. Aquela figura de tranças que via agora, era esplêndida mulher. Preferia, antes de tudo, e sobretudo, que ela não estivesse ali. Mas ela estava!

Se olharam como dois desconhecidos. Aldo tinha a testa enrugada, as sobrancelhas crispadas, barba enorme. Seu olhar era brilhante, mas, no fundo, desiludido.

- Pai - disse Safira, abraçando -o.

Aldo levantou um braço e displicentemente apertou contra si o corpo da amada filha.

- Safira, eu lhe disse... Lhe escrevi... Mandei dinheiro, como sempre...

Apertava a filha nervoso. A contrariedade por ter ela ali era muito maior que sua alegria ao vê-la.

- Papai...  - Ela falou quase chorando. - Você está tão diferente!

Afastou-se da filha e falou : - você me desobedeceu.

- É que não suportava mais, papai. Nunca estive contente em Londres. Sentia saudades do campo, dos rios, das montanhas, desses padrões imensos e até do cheiro do gado.

- O café senhor - interrompeu Lupi, entrando na sala com uma bandeja. Atrás dela apareceu Firpo, com outra.

- Safira, trouxe seu desjejum. Você deve estar com fome.
Safira não respondeu. As coisas não eram mais como antes. Sentia imensa alegria em rever o pai, mas, ao mesmo tempo, seu coração parecia ferido por um espinho corrosivo.

- Obrigado Firpo, pode deixar ai. Ponha a de papai na mesa, Lupi. Eu mesma servirei o café.

Os dois criados obedeceram e sairam apressadamente, como que fugindo de algo que conheciam e não queriam ouvir.

- Seu café, papai. Quantas colheres de açúcar? Já me esqueci desse detalhe.

- Sem açúcar.

- Lembro que preferia doce.

- Me dê logo esse café - apressou ele a dizer com indiferença.

Safira respirou fundo para não derramar lágrimas com tanta ignorância e continuou;

- Papai, café amargo, e sem comer, a esta hora...

- Me faz bem, Safira. - Ele voltou a repetir em tom desolado: - Você não devia ter voltado. Estava muito bem em Londres. Na carta estava claro, esperar mais um ano.

- Sou sua única filha! falou enérgica. Estava com saudades papai, queria vê-lo. Não avisei porque queria fazer uma surpresa. Mas parece que quem se surpreendeu foi eu.

Aldo levantou subitamente.

- Tenho que sair, conversamos depois.

- Papai...

Ele olhou para trás, o rosto estava tão magro que se notavam os ossos das mandíbulas.

- Descanse, tenho muito o que fazer na cidade.

- Mas, papai, eu tenho muitas coisas a perguntar. Não entendo, parece até que um furacão passou por aqui...

- Talvez tenha passado. Verei você depois, tenho muito o que fazer.

- Safira saiu correndo atrás dele. - O senhor esta doente?

- Doente? Claro que não.

- Emagreceu muito.

- Nem sempre alguém está melhor por estar mais gordo Safira.

- Mas...

- Nos encontramos no almoço. - Dito isso , ele saiu apressadamente.

Lupi surgiu, com olhar delicado.

Safira perguntou :
- O que aconteceu por aqui Lupi?

Lupi e Firpo trocaram olhares que parecia dizer: " se o patrão não lhe disse nada, nós também não diremos ".

- Será melhor ir descansar, você esta cansada, safira. Eu a acompanho ate seu quarto. Ninguém usou desde que você se foi e eu limpo todos os dias.
- falou Lupi.

O cavalo negro que Aldo montava não seguiu para o centro da cidade. Deteve-se num Bar.

- Bom dia, sr Saint. - O tarbeneiro saudou com familiariedade. - Aqui tem o de sempre. - E colocou sobre o balcão um copo de ginebra.

Aldo bebeu tudo de um só gole.

- Mais um, Zac - pediu.

- Sim, senhor.

E de novo Aldo o tomou de uma só vez sem pestanejar.

- Ponha na conta.

Disto isso saiu rapidamente, seguindo um atalho. O cavalo galopava e Aldo olhava adiante, relutante. Entrou numa porteira cujo nome informava
" Rancho Waltter ". Leu com estranho furor. E cruzou a larga cancela a galope.

Sentimento De PosseOnde histórias criam vida. Descubra agora