Capítulo 1: Preso em Sete Além

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    Ser humilhado e desprezado por uma pessoa que tem um insistente preconceito por você gostar de algo, é muito irritante, não é mesmo? Principalmente se você é uma pessoa que gosta de um determinado gênero musical e tem um estilo diferente dos outros. Breve exemplo: Você é um cara que curte Rock/Metal, adora se vestir de preto, algo o mais escuro possível que encontra no armário. Porém, todos ao seu redor caçoam e te chamam de esquisitão, ateu ou satanista, buzinando o tempo todo no pé do seu ouvido, dizendo que as músicas que você ouve são "do diabo", "só gritaria", que os fãs são "muito agressivos" e fazem apologia ao tio Lu. Chegam a perguntar também se você já fez alguma espécie de pacto, se realiza rituais satânicos todos os dias ou algo do tipo, se já sacrificou uma cabra e ofereceu seu sangue e alma ao diabo. Pois é, meus caros amigos, se o seu caso é mais ou menos parecido com o meu, quero que conheçam a dramática e chata história da minha vida...
    Me chamo Jake Marlow, e sou fanático por música, livros, séries e filmes. Sempre sonhei em ser um grande e renomado escritor. Às vezes ficava escrevendo histórias na sala de aula na hora em que a professora explicava os exercícios do quadro negro. Infelizmente vivo uma vida bem difícil na escola e até mesmo em minha própria casa. Sou um rapaz de poucos amigos, pois a maioria não gosta de mim ou não vai com a minha cara, e o motivo nem precisa dizer porquê, né? Por isso muitos que não me conhecem direito, acabam me julgando sem nem sequer ao menos tentar me conhecerem. Sempre com aquelas mesmas frases chatas de sempre, das quais estou farto de ouvir: "Ah, eu não quero ser amigo daquele garoto, porque com certeza ele mexe com essas coisas envolvendo ocultismo e satanismo. Olha só a roupa dele!" É bem isso o que a maioria pensa... mas estou acostumado e já não ligo tanto pra isso.
   Tenho um amigo chamado Steven, um adolescente da minha idade, pacífico, e que não suporta injustiças. Claro que ele não tem os mesmos gostos que o meu, mas respeita muito isso. Diferente de muitas pessoas hipócritas por aí, ele é daquele tipo que você pode confiar e considerá-lo um verdadeiro amigo, pois sabe que ele estará disponível para ajudá-lo sempre que precisar. Nós estudamos juntos na mesma sala, e tem um pequeno grupinho daqueles caras que se consideram os populares e donos do pedaço. Sim, esses mesmos que gostam de tirar sarro da minha cara e de outros alunos, ou dar cuecões nos nerds pelos corredores.
  Certo dia na escola, eu estava sentado bem quietinho no meu canto na hora do intervalo como de costume, escutando os clássicos da banda Scorpions nos fones de ouvido, conectado a um aparelho mp3. Estava com uma calça jeans rasgada nos joelhos, tênis All Star e uma camisa preta da banda Iron Maiden. Foi quando esse grupo de imbecis vieram até mim e falaram comigo em um tom arrogante, na tentativa de provocar a minha ira:
– Vejam só quem está aqui pessoal, o ateu! Ou será que devo dizer... "adorador de LÚCIFER" !?
– Olha, cara, não sou ateu e nem adoro a Lúcifer, e mesmo que isso fosse verdade, não diz respeito a vocês! – respondi encarando-os, mas sabia que aquelas palavras não iam valer de nada àquela altura do campeonato. Logo em seguida um deles arrancou violentamente meu mp3 com os fones de ouvido das minhas mãos rapidamente:
– Vamos ver o que nosso amiguinho está escutando...
– Ei, devolve! isso é meu! – respondi tentando pegar o pequeno aparelho de volta, mas um deles me barrou.
– Que música mais lixo! Como você consegue ouvir essa porcaria? Só minha vó ouviria isso! – reclamou um deles, jogando o mp3 com os fones no chão. Naquele exato momento o ódio já havia subido à altura do meu pescoço. Meus punhos já haviam ficado cerrados, quando eu menos percebi. Senti uma intensa vontade de partir pra cima com tudo e dar uma boa surra neles, mas o problema é que estavam em 5 e eu não queria arrumar confusão pra cabeça da minha mãe, pois ela trabalhava arduamente quase o dia inteiro e não tinha tempo de ficar vindo na escola o tempo todo pra resolver meus problemas. Logo havia dois motivos para que eu não arranjasse briga, então resolvi deixar quieto. Apanhei meu mp3, que por sorte não estava quebrado com o impacto da queda. Steven, inesperadamente surgiu ali no meio dos brutamontes e tentou me defender, dizendo o seguinte para eles:
– Por que não vão procurar o que fazer e deixam o meu amigo em paz?
– Como é que é? eu ouvi direito?... – disse o encrenqueiro, sendo sarcástico.
–  Vocês não cansam de infernizar a vida dos outros?
Eles riram por algum instantes, enquanto olhavam entre si.
– Perdeu a noção do perigo, né, seu otário? – respondeu o mesmo que havia jogado meu mp3 no chão. Eu impedi que Steven desse mais um passo, colocando a mão em seu peito e o afastando antes que começasse uma briga; pois todos sabemos que depois que aquela turminha se junta em um local feito uma revoada de abutres, a coisa fica séria. Depois que começam a pôr lenha na fogueira para que você brigue, não tem pra onde fugir, você tem de brigar. É isso ou vai passar o resto da sua vida como um covarde, justamente esse o pensamento deles.
– Deixa quieto, não vale à pena... – todos olhamos para o lado direito, e para nosso alívio e desespero deles, vimos o diretor nos observando de longe. Os malas sem-alça nos deixaram em paz e foram embora, mas antes de irem, o cara que havia jogado meu aparelho mp3 no chão colocou a mão no meu ombro esquerdo e disse de forma bem discreta, disfarçando sorridentemente para que o diretor não o escutasse:
– Não pense que isso acabou, ateu!
   Talvez por pura sorte ou ironia do destino, o sinal tocou logo em seguida para que todos os alunos voltassem para suas salas de aula. Depois de algumas horas em sala, com um monte de babacas me encarando, falando mal de mim pelas costas, a professora tagarela só falando e falando como se sua saliva fosse ilimitada, a aula finalmente havia terminado. Guardei minhas coisas na mochila após tocar o sinal e saí andando, conversando com Steven sobre filmes e séries, coisa que adorávamos e tínhamos em comum. Quando chegamos na saída do enorme portão, ele gritou alto, indo na direção esquerda e eu pela direita, cada um para um lado: – Tchau Jake, te vejo amanhã!
– Tchau! Vai pela sombra! –respondi, acenando com a mão esquerda.
   Não estava com pressa nenhuma de chegar em casa, por isso fui o mais devagar possível para ganhar tempo, pois com certeza minha mãe iria pegar no meu pé para que eu estudasse e toda essa rotina já havia se tornado muito chata pra mim. Às vezes eu até tinha que lavar a louça suja. 
    Enquanto caminhava pela calçada, olhava para a rua e via a correria das pessoas para irem trabalhar, outras para chegar em casa, pois o céu estava nublado e iria chover logo logo, e como minha blusa tinha capuz, coloquei na cabeça para não me molhar. Minha casa era um pouco distante dali, mas havia um bendito atalho que dava pra chegar lá rapidinho. Era em um beco com as paredes pichadas e muitas caçambas metálicas de lixo, daquelas bem grandes que cabem até uma vaca, e por conta do temporal que se aproximava, uma leve neblina começava se formar após despencar as primeiras gotas de chuva; acompanhada por um clima mais frio. Ao virar a esquina, rumo ao beco, dei de cara com os mesmos idiotas que estavam me amolando horas atrás.
– E aí, metaleiro brega! tá feliz em nos ver? Vejo que você está sozinho! – disse o cara que havia tomado meu mp3 das minhas mãos durante o intervalo.
– Me deixa em paz, cara! só quero ir pra casa, não vou gastar meu precioso tempo com vocês. Agora sai da minha frente, por favor! – eu logo tentei passar educadamente, mas um deles me barrou, dando-me um empurrão de leve.
– Calma aí, por que tá com pressa? agora que a coisa está ficando interessante! – indagou o cara que tinha pegado meu mp3. – A gente tem contas a acertar com seu amiguinho depois de ter se intrometido onde não foi chamado.
– Olha, isso você tem que ver com ele e não comigo, agora me dá licença. – respondi tentando passar, mas ainda me barravam para que não passasse.
– Daqui você não passa! Seu amiguinho se meteu com a pessoa errada! e já que ele não está aqui, iremos te dar uma liçãozinha e depois ele será o próximo.
A primeira e a segunda barrada eu deixei passar, mas a terceira elevou minha paciência ao limite.
– Quer saber... pra mim já deu! –disse eu, dando um soco logo em sequência na cara daquele indivíduo irritante. O vi cair no chão como um saco de merda. Sem perder tempo, outro veio tentando me acertar com seu punho, mas fui mais ágil e abaixei-me, esquivando daquele punho. Com toda certeza que se tivesse me acertado eu já estaria no chão nocauteado. Em um inesperado surto de adrenalina, eu o contra-ataquei com outro soco bem no centro de seu estômago. Mas antes que tentasse correr e fugir de toda aquela situação, dois dos caras me seguraram covardemente pelas costas. Um segurava no meu braço direito e o outro no braço esquerdo, me deixando imóvel. Até que o garoto que eu havia acertado com um soco na cara, se levantou, parecendo bem enfurecido como um cão raivoso. Ele sangrava um pouco no canto da boca, após ter sentido o forte impacto do meu punho.
– Cara, agora você tá ferrado nas minhas mãos! Não tem pra onde correr! – gritou ele. Com um olhar completamente enfurecido, veio em minha direção, mas eu não podia me mover, pois dois brutamontes estavam me segurando firmemente. Não havia possibilidade nenhuma de me defender, e naquela hora me vi bem encrencado. Então sem piedade alguma, o garoto se aproximou e me deu uma sequência dolorosa de socos no meu rosto e abdômen. No último soco senti que o mundo ao meu redor girava e minha visão ficou embaçada, vendo apenas vultos de adolescentes mal encarados na minha frente. Os caras que estavam me segurando me soltaram e eu caí no chão já sem ar, como se mil facas tivessem tentado atravessar minha barriga, sentindo uma imensa dor. – Agora ateu, você vai pro lixo que é o seu lugar. De onde nunca deveria ter saído! – disse ele após cuspir em mim, enquanto os outros apenas riam da minha desgraça. Vi que dois deles tiraram a tampa enorme de uma das caçambas de lixo próximas à parede. – Joguem ele lá dentro, galera! – ordenou o mais folgado, que era o que me deu aquela humilhante surra. Eles me arremessaram lá dentro e fecharam a tampa com bastante força. – Agora fica aí no seu lugar, seu idiota! – disse ele rindo junto com os outros. Depois de alguns segundos, de dentro da caçamba escura e fedida, ouvi suas vozes cada vez mais se distanciando do lugar onde estava. Logo quando começava a me recuperar da forte dor, notei que já haviam ido embora.
   Dentro estava muito escuro e com um odor horrível. A tampa era um pouco pesada, mas até que com um pouco de esforço consegui levantá-la e saí para fora. Me limpei dos pés a cabeça com as mãos, dando tapinhas de leve, derrubando algumas cascas de banana no chão, que estavam sobre meus ombros. – Droga! quando é que esses idiotas vão me deixar em paz? Eu Já tô cansado de tudo isso!... – Após terminar de me limpar, olhei ao meu redor e tive uma grande surpresa da qual jamais imaginaria que acontecesse... Estava no mesmo beco, porém, algo estava bem diferente e não cheirava bem, fora o fedor horrível vindo daquele lixo. O bêco estava escuro, e tudo parecia uma macabra cena de filme de terror. Olhei para o céu e ele estava escuro, sem estrelas e sem lua, apenas escuro.
    Parecia que já era noite, e foi isso o que mais estranhei. Olhei no meu relógio de pulso e já não estava mais funcionando. Havia parado às 9:46 da manhã, que foi o horário em que os caras me encurralaram no bêco e implicaram comigo. Mas qual poderia ser a explicação pra tudo aquilo?... Mesmo assustado, fui caminhando para sair daquele lugar horroroso e fedido. Pouquíssimos metros à frente, virei a esquina na qual lembrei ter passado anteriormente, olhei para ambos os lados e estava tudo destruído e obscuro, mas ainda muito familiar... até parecia uma cidade fantasma, ou uma espécie de Silent Hill. Tudo estava completamente abandonado.
– Mas... o quê que tá acontendo aqui? – me perguntei ao cessar meus passos, um pouco confuso e assustado. Olhei para o fim da rua do lado direito e vi uma pobre velhinha atravessando a rua lentamente. Ela olhava para os lados, como se tivesse se prevenindo que algum carro ou moto a atropelasse. Mas... não tinha nada naquela cidade além do vazio e escuridão. A rua estava tão deserta que nem sequer o barulho do vento podia-se ouvir. Até que após chegar do outro lado, ela parou em frente à uma vitrine de uma loja e ficou a olhar como se houvesse algo de interessante para comprar. Só que é aí onde a coisa se torna extremamente esquisita e sem sentido algum. A loja estava com a vitrine quebrada, a porta estava arrombada e não existia nada na vitrine além de pedaços de manequins quebrados.
    Atravessei a rua e fui em direção àquela velhinha para perguntar o que estava acontecendo. Naquele momento senti um grande arrepio na espinha: – Com licença... a senhora pode me dizer o que está acontecendo aqui?... É que uns idiotas me encurralaram covardemente em um bêco e me jogaram dentro de uma caçamba de lixo. Quando saí para fora tudo estava desse jeito, como a senhora pode ver...
   Ao perguntar isso, a velhinha se virou para mim devagar. Depois que se virou por completo, vi que sua cara era pálida. Parecia que não tinha uma só sequer gota de sangue, e seus olhos eram totalmente negros e fundos, sua pele era bem enrugada. Me lançou um olhar frio e demoníaco, respondendo com uma voz fraca e alegre ao mesmo tempo:
– Você está em Sete além meu jovem... Você está em Sete além...
Que lugar maravilhoso é Sete além, não é mesmo? Olhe só para esses acessórios na vitrine da loja. Acho que comprarei alguns. Minha querida netinha vai adorar a surpresa...
   Eu encarava com espanto aqueles olhos negros e assustadores, me afastando lentamente dela enquanto estava distraída olhando para o vazio da vitrine quebrada, e nada mais óbvio que eu queria encontrar um local para me esconder, que fosse o mais longe possível daquele ser bizarro. Até que ao perceber uma porta velha ao meu lado esquerdo, entrei em uma casa que estava abandonada, como todas as outras daquele lugar. Fechei o mais depressa possível e coloquei uma mesa velha como barricada na porta. Ali dentro estava bem mais escuro, mas tinha quase certeza de que era bem menos perigoso do que lá fora... – Calma, Jake! isso tudo é apenas um pesadelo! Quando você abrir aquela porta estará tudo como era antes. Isso é só coisa da sua cabeça! – Diante de tudo aquilo, estava a falar comigo mesmo. E sem enxergar direito, tentei achar a maçaneta da porta para abrir. Saí bem de fininho com meu olhos fechados, mas ao abrí-los tudo ainda continuava macabro e em ruínas, porém, a velhinha já não estava mais em frente à vitrine da loja. Coisa que foi um tremendo alívio para mim.
   Naquele exato momento eu achei que estava ficando completamente louco. Já estava à uma gota d'água para cair em tremendo desespero. Temendo o perigo, caminhei indo em direção à loja novamente, mas por causa do silêncio daquela rua pude ouvir passos ecoando atrás de mim. Parecia até um corredor gigante e sem final. Ali no meio avistei ao longe uma menininha com aparência de 8 anos parada no meio da rua enquanto me observava. Suas roupas eram antigas e sujas com algo do qual parecia lama. Era um tipo de vestido branco e sapatos pretos,  com meias da mesma cor do vestido. E essas meias iam até os joelhos. Ela estava um pouco distante, por isso resolvi me aproximar, pois talvez ela pudesse me ajudar, mas estava com um pressentimento ruim. Ela me parecia uma garotinha comum, apesar do péssimo estado em que estava, e não dando pra ver seu rosto direito por conta do manto obscuro que a cobria. Mas que alternativa eu teria, não é mesmo? Não tinha pra onde fugir, pois tudo estava perdido numa espécie de apocalipse.
– Ei... garotinha! você aí parada! (*Silêncio profundo*) será que poderia me dizer que tipo de lugar é esse e onde está todo mundo?... – A garota olhava fixamente pra mim, e para minha surpresa, seus olhos também eram negros e fundos, sua pele também era pálida como a neve e também escorria sangue preto de seus olhos e boca. Ao vê-la daquele jeito, parei para não dar nem mais um passo. Ela então me olhou com aquele mesmo olhar frio que vi antes naquela velha senhora.
– Você está em Sete Além, um lugar belíssimo. Por acaso você não viu minha avó por aí? ela sumiu na escuridão da noite. Acho que a perdi... Mas talvez você possa me ajudar a encontrá-la – disse ela com uma voz doce de criança, mas aquele diálogo só me deixava mais assustado ainda. Ela veio em minha direção, mudando sua bela voz doce para uma voz demoníaca e bem tenebrosa, dizendo: – Me ajuda a encontrar minha avó, por favor! Me ajuda a encontrar minha avó!
   Me senti como o Harry Manson tentando encontrar sua filha perdida em Silent Hill, só que no meu caso era diferente, eu  só procurava a saída daquele lugar cabuloso. Sem esperar que aquela garotinha me alcançasse, corri o mais rápido que pude, até minhas pernas não aguentarem mais. Tudo isso sem olhar para trás, com meu coração acelerado. Mas depois de tanto correr, olhei na direção de onde a garotinha vinha me perseguindo e ela já havia sumido. O silêncio logo retornou ao lugar, e tudo aquilo já estava esquisito ao nível extremo. Mas eu ainda continuava a andar e olhava para trás o tempo todo, porém, ainda não havia nenhum sinal daquela garotinha assustadora.
    Olhei ao redor enquanto caminhava, tentando encontrar o ponto exato de onde estava vindo aquele som. De repente, vi que estava vindo de uma enorme casa, mas não parecia ter ninguém lá dentro, assim como o resto da cidade inteira. Para me prevenir, procurei alguma coisa no chão para usar como arma, vi um tronco de madeira e apanhei. Logo, chegando perto da enorme porta de madeira podre da casa, a abri cuidadosamente. Claro que por alguns segundos pensei em desistir de entrar lá dentro, mas precisava sair daquele lugar macabro, se eu ficasse apenas parado sem fazer absolutamente nada, jamais iria conseguir encontrar uma forma de resolver todo aquele intrigante quebra-cabeça. A alguns passos acabei entrando e cheguei em uma sala bem extensa, com vários móveis antigos do século XVII empoeirados. Dentro estava tudo em um silêncio profundo, o que já não me impressionava tanto... Estava também um pouco escuro, como o resto da cidade, não parecendo haver ninguém; fechei a porta e repentinamente ouvi o mesmo som estridente de telefone tocando, só que dessa vez vinha de uma mesa pequena atrás de mim, que após tocar me deu um baita de um susto. Me aproximei lentamente abaixando a guarda, peguei o telefone e o encostei no ouvido bem devagar.
– A... Alô? – perguntei, gaguejando um pouco, mas ninguém respondia. Parecia que não tinha nenhuma alma viva do outro lado da linha, só escutei chiados de rádio antigo. Depois de aguardar esperançoso que alguém respondesse, coloquei o telefone no mesmo lugar em que estava antes. Escutei um barulho de algo caindo no chão que vinha do andar de cima da casa; era um barulho de vidro quebrando. Ergui o tronco de madeira, preparado para atacar e subi cuidadosamente a escadaria que dava acesso à parte de cima. Andei a passos leves para não fazer tanto barulho. O suspense que aquele lugar causava era imenso, e o ambiente logo começou a esfriar, pois não sabia o que poderia acontecer a qualquer instante. O que me definia naquele momento era o mais puro medo e agonia por estar num lugar absolutamente estranho, abandonado (ou não) e desconhecido...

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