Capítulo 2 Sor Baltazar Alvarenga

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 A temporada de chuva, chegou finalmente ao sertão. Aproveitando a grama ainda úmida naquela tarde, crianças do vilarejo Uratú, rolavam do alto da colina Arara azul, até o descampado abaixo. Os meninos magricelos, descalços, sem camisa e com seus culotes sujos de barro e grama picada. As meninas com seus cabelos em coques, presos com tiras arrancadas das bainhas de seus vestidos de pano gasto, que estavam protegidos e secos a sombra de uma árvore. Pois as meninas, estavam apenas com a roupa de baixo. Sem pudor e bem longe do alcance do olhar dos pais.


A chuva vinha como um laço. Unia, ao menos na alegria esperançosa, plebeus e nobres, meninos ou meninas. Com seus sorrisos amarelados, as crianças, corriam pelos campos e ruas. Era a felicidade trazida pelo inverno do mês de Julho.


 Ali próximo, observando a euforia na colina Arara azul, uma comitiva, de vinte e dois soldados a cavalo e um Cavaleiro, aguardava. Duas fileiras de dez homens, atrás de dois porta estandartes. Um, segurava a bandeira da casa Auroaço: um elmo branco sobre um campo verde e amarelo. O outro, segurava a bandeira da casa Alvarenga: uma árvore vermelha em um fundo preto. O Cavaleiro era Sor Baltazar Alvarenga. A ele, as crianças não agradavam nem um pouco. Em sua mente, batutou quando seu filho, que ainda não tinha um ano de nascido, iria lhe embranquecer os cabelos. Impaciente, seus olhos estavam fixos na estrada. Volta e meia, ajeitava seu traje de aço. Sua armadura era motivo de orgulho para si: Negra com ombreiras pontudas. No peitoral havia o relevo da cabeça de uma pantera, com olhos amarelos, de boca aberta exibindo seus dentes de prata.


 Já fazia um certo tempo, que tirara seu elmo e o pôs pendurado na sela de seu cavalo. Um trovão irrompeu acima, o garanhão castanho de Sor Baltazar relinchou e se agitou, mas foi logo contigo com um puxão firme de rédeas.


— Calma. Já iremos embora. — disse ao cavalo.


 O terreno a frente era ondulado, impossibilitando uma vista clara do horizonte. Dezenas de colinas, cobertas por centenas de palmeiras. A estrada serpenteava por onde era possível. Assim era mais ao sul da Lâmina Verde.


Uma gota caiu sobre o fino nariz de Sor Baltazar, antecedendo uma chuva fina. O que aumentou o divertimento irritante das crianças, mas o presente celeste não durou mais que alguns minutos. Os cavalos batiam seus cascos na lama e relinchavam a cada novo relâmpago seguido de um trovão.


— Já não era sem tempo. — Sor Alvarenga avistou bandeiras saindo por de trás das palmeiras. Colocou seu elmo com penacho vermelho, se pôs mais ereto e forçou a vista para ver quem vinha na frente. — Aquele, com certeza deve ser Sor Barca. — disse a si mesmo, ao ver um grande homem montado de túnicas laranjas. Bateu de leve os calcanhares no lombo de seu cavalo, o animal deu alguns passos e parou quando lhe foram puxadas as rédeas. — Aquele no meio deve ser Sor Lassar. Só não sei se é o pai ou o filho mais velho, mas...

 Ele hesitou. Não conseguia distinguir o que era a terceira criatura a frente da coluna.


— Que ser bizarro é aquele? Um macaco? — Perguntou para si em um tom mais alto, chegando mesmo a acreditar no que deduzia.


M esmo de longe, Baltazar podia ver alguma coisa dentro de uma armadura larga, que não quis se dar ao trabalho de identificar. Tinha braços compridos e cambaleava ao passo do cavalo. Suas pernas lembravam aos de um anão e sua postura era a mesma de um bêbado. Santo Deus, acho mesmo que é um macaco, pensou ele.

As Espadas de Monte Negro - Ruína e GlóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora