Capítulo 10 Tateando

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  O gosto amargo se instalou no ar. Já estavam há dias de marchas forçadas e noites de sono curtas por aquela extensa estepe marrom. Sebastian sentiu um leve arrepio ao ver, pela primeira vez em sua vida, as grande dobradiças de pedra, ao menos era aquilo que lembravam ter sido um dia. A grande abertura entre as montanhas Limite do Mundo, que dava para a região do continente chamada de Allasmá, tinha o nome de Portões Caídos. Essa alcunha vinha por conta das formações rochosas nos contrafortes das montanhas. Antes da chegada dos povos do velho continente, acreditava-se que os deuses haviam erguido um portão de pedra ali, mas que fora derrubado. Restando apenas quatro picos inclinados para dentro da passagem, dois do lado norte e dois no sul.

 Príncipe Leo Brasão havia dividido a hoste galatóreana em três colunas. A que vinha mais ao sul era composta pelos nordestinos, a do centro era formada pelos litorâneos e centrais, enquanto na do norte iam os nortenhos.

 Para proteger os flancos, a cavalaria arqueira leve dos Pardus cobria o contorno sul, enquanto a cavalaria pesada das Amazonas seguia pelo norte até Vila Arrasta-Pé. Leo tinha se tornado mais calado do que de costume e seu olhar sério e fitava sempre o horizonte a frente quase sem piscar. Uma expressão pensativa e sombria para alguém tão jovem, mas Sor Sebastian conseguia entender, pois em seu íntimo o desgosto também crescia. A saudade de sua doce mãe preencheu sua mente, mas também havia espaço para imaginar o que seu irmão caçula estaria aprontando. Talvez, só aqueles sem nada para onde voltar, ficariam felizes ao caminhar na estrada da guerra.

 O jovem Lassar vinha mais atrás do Príncipe e de seu braço direito, Sor Fernando Étel, cavalgando ao lado de Dom Reinaldo que lia um livro velho de capa de couro desgastada.

— Sobre o que lê, meu Senhor? — perguntou o Cavaleiro do Nordeste. Tentou pensar em outra coisa além de futuras batalhas.

— Ah. É um relato do General Anásto de Passo-Passo, — respondeu Dom empolgado. — e seu primeiro embate com os francos.

— Hum. Passo-Passo. — Sebastian ficou levemente frustrado, tendo em vista que o tema do livro não era outro senão conflitos armados. Retirou o elmo e o colocou no pito da sela, quando clima mudou brevemente para mais ameno e o vento se tornou fresco. — Não são muitos que falam destes tempos. Para falar a verdade, eu só ouvi através do Senhor nos últimos anos. Ha ha ha!

— Quando o antigo império do leste desapareceu, as pessoas o esqueceram muito rápido. — disse Dom decepcionado. — Mas sua casa acima de todas deveria se lembrar dele.

 Sebastian sentiu uma leve repreensão na fala de Reinaldo Brasão. Ele sabia que era verdade. Sua família era a guardiã de uma relíquia secular. A Glória do Leste era a espada que seu pai empunhava nas batalhas, assim como o pai do pai dele.

 A jornada seguiu arrastando os dias e as três colunas já estavam a quilômetros de distância umas das outras. Príncipe Leo puxou as rédeas de seu cavalo branco em frente a um riacho e deu uma brusca parada.

— Majestade, algum problema? — indagou Sor Étel.

— Vamos acampar aqui. — respondeu o herdeiro do trono secamente.

— Tem certeza? — O leal conselheiro trotou para mais próximo de Leo. — Podemos seguir mais dois dias e ainda estaremos uma distância segura da vila São Adamastor e o sol ainda está no alto.

— Tenho, Sor. — Leo passou a mão nos cabelos com uma expressão pesarosa. — Preciso descansar.

 Sor Fernando assentiu e ordenou ao exército que monta-se acampamento, o Príncipe atravessou o riacho e cavalgou um pouco mais além. Étel, sendo o mais zeloso dos Cavaleiros, ordenou que Sor Hipólito e Sor Henrique Silva o acompanhassem.

As Espadas de Monte Negro - Ruína e GlóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora