Capítulo 12 O Cavaleiro Cego

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- Espada em punho. Braço esquerdo para trás e pé direito para frente. - Disse com rispidez o instrutor. - Cabeça reta, olhos focados e controlem a respiração.


 Na academia Espadas do Amanhã, o veterano Sor Simão, O Cavaleiro Cego, era rígido em seus ensinamentos. Um veterano de cem batalhas, cujas mãos era grandes e exibiam calos típicos de quem vive segurando uma espada. Tinha o corpo encurvado e uma grande barriga. Seus braços eram fortes e sua pele clara com veias a mostra. Em sua cabeça havia uma maçaroca de cabelos brancos e uma vasta testa oleosa. O rosto rugoso era marcado pela idade. Uma cicatriz na forma de um arco estava talhada, como uma das inúmeras lembranças dos combates, descendo do meio das sobrancelhas grossas, passando pelo nariz fino até a olheira funda do lado direito. Suas bochechas eram caídas e contornadas por uma barba rala. Mas o que realmente chamava atenção quando se olhava para Sor Simão eram seus olhos únicos. Tinham um tom prateado como nuvens de um dia nublado e o que deveria ser o branco dos olhos, na verdade era amarelado com veias finas. Vestia sempre uma túnica branca de pano fino sem mangas e sandálias de couro, deixando seus dedos compridos dos pés à mostra.


 Quando seu pai o deixou sob os cuidados deste senhor, Afonso Lassar duvidou pela primeira vez de uma decisão dele. Achando que se tratava de um cego, levou um susto no dia em que Sor Simão segurou seu rosto pelo queixo e disse:


- Você é a cara do seu irmão, quando mais novo. Eu o vi em Torre Branca há dez anos. Estive lá durante o sequestro do da filha do Duque Sfein.


  De cego ele não tinha nada. Afonso, com o passar do tempo, teve certeza de que seu professor poderia enxergar uma mosca pousando em uma parede cinzenta a dezenas de metros.


- Estocada! - Ordenou o Cavaleiro.


 Afonso se inclinou levemente para frente, fez o gesto com a mão que segurava a espada de madeira e golpeou o ar. Do seu lado direito estava o moreno de rosto fino Miguel, o menino órfão que conheceu na estrada para a capital e que se tornou um grande amigo. No lado esquerdo estava Victor Siqueira, um belo garoto de cabelos loiros e olhos verdes. A simpatia entre eles era pouca, guardando a cordialidade para quando treinavam. Com eles havia mais três garotos, pois Sor Simão nunca treinava mais do que seis. Com exceção de Miguel, todos eram de famílias de nomes. O Mestre espadachim o instruiu somente a pedido de Sor Joaquim Lassar, por quem tinha um grande apreço.


 A academia era tão grande quanto a vila do Duque Canintor. Na parte da frente havia um grande pátio. O chão era coberto por uma cerâmica cor de areia, as paredes amarelas eram decoradas com relevos de colunas brancas e jarros com palmeiras ficam a sombra nos quatro cantos. Nele poderia se encontrar uma fileira de alvos para treinar arco e flecha, bonecos de madeira fincados no chão para a esgrima e uma arena circular delimitada por escudos no chão.


 As refeições eram feitas no salão no interior da casa grande, que separava o pátio do restante da propriedade. Porém, Afonso e Miguel preferiam, naquele dia, almoçar na escadaria que levava ao casarão. Os dois estavam sentados, segurando cada um prato de cerâmica com arroz do oriente, frango desfiado e tiras de bacon. Entre eles estava uma jarra de suco de laranja e duas canecas de madeira com alças de ferro.


 Os meninos encontravam-se até mais rechonchudos desde que chegaram na capital, mas os braços de Afonso continuavam cumpridos e ossudos. Vestiam o uniforme da academia: uma túnica preta e por cima um colete de couro fino. Usavam também sandálias iguais às do Mestre.

As Espadas de Monte Negro - Ruína e GlóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora