Maria Eduarda
(3 meses depois)
O tempo passou tão rápido que eu nem acredito em tudo que já se passou. Meu "relacionamento" com o Vitor está indo bem. Não dá para gente se ver todos os dias, as vezes ficamos a semana inteira sem nos ver, mas a gente tá dando o nosso jeito. No começo eu confesso que me sentia desconfortável com toda essa situação, mas hoje eu já nem ligo mais. Nas nossas conversas ele disse o quão ruim estava seu casamento, então eu não me sentia mais culpada. Ele também me contou a situação delicada em que estamos, ele não pode simplesmente terminar com ela e me assumir, isso causaria uma guerra eterna e não quero correr o risco de perdê-lo.
Eu não me importo se a nossa relação é só nossa. Se a gente precisa se ver escondidos. Se não posso dizer a todos que eu o amo. Nada disso importa, porque mesmo sem platéia a gente se ama, a gente se gosta e o mais importante, a gente se tem. Eu sou dele na mesma proporção em que ele é meu. Mesmo não sendo um namoro convencional, somos fiéis um ao outro e isso é tudo o que importa para mim. Nós tivemos que contar para o meu irmão e para o Thiago. Meu irmão desconfiou quando, um dia desses, eu disse que ele não precisava me buscar na escola, ele ficou em cima e acabou vendo Vitor e eu juntos. Ele surtou, mas depois entendeu que nenhum de nós tínhamos culpa por estar desse jeito e acabou aceitando. E o Thiago é melhor amigo do Vitor e ele é quem faz a ponte entre Vitinho e eu, quando fica arriscado a gente se falar. Então nossa relação é restrita a nós quatro apenas.
Hoje é quinta, eu estou saindo da escola apressada, já que Vitor estava me esperando. Como não podíamos vacilar, ele sempre me esperava algumas ruas para baixo da escola. Além de ser mais escuro, ninguém passava por ali a essas horas. Eu sempre tinha medo de descer por ali, era muito estranho, mas o alívio vinha assim que eu sentia o perfume dele, tipo agora. Ele está escorado em sua moto e eu quase não o vejo devido a falta de iluminação. Me aproximo dele que fuma um cigarro comum
- Boa noite meu amor - me encaixo no meio de suas pernas e beijo sua bochecha
- Boa meu anjo - ele joga o cigarro longe, põe um halls preto na boca e me abraça pela cintura - Como foi a aula?
- Chata, porém bem produtiva - ele beijou meu cabelo - Para onde a gente vai?
- Surpresa - me deu um selinho
- Vitor - resmunguei
- Nem adianta fazer drama - ele me soltou e me entregou o capacete - sobe aí - ele disse assim que ligou a moto.Subi e ele acelerou até o quase topo da favela. O lugar tinha poucas casas ainda e a iluminação também não era a mesma das vielas abaixo. Ele parou em frente à uma casa simples, azul médio e portão branco. Não parecia ser muito grande.
- Que lugar é esse? - perguntei enquanto ele abria o portão
- Nossa casa - ele me olhou e sorriu
- Como assim? - o olhei confusa
Ele abriu a porta e me puxou para dentro
- Eu não posso levar você para minha casa. Você não pode me levar para sua casa. Eu não vou levar você em um motel. A gente precisa de um lugar para se encontrar, não acha?
- Acho, mas... - as palavras não saiam
- Eu sei que é meio exagerado, mas nós precisávamos ter o nosso canto
Eu não tinha o que dizer, havia adorado o lugar e a idéia dele também. Atitudes assim demonstram que ele quer tanto quanto eu que tudo isso dê certo.
- Eu amo você - ele me olhou surpreso, nós ainda não tínhamos chegado a tal ponto. Ele me abraçou apertado e me beijou
- Eu também amo muito você garotaEntão foi assim que falamos o tal eu te amo um ao outro. Dentro da nossa casa. Pronto para mais um encontro as escondidas. Tudo começou rápido demais, bagunçado demais, intenso demais, mas tudo para mostrar que Vitor e eu somos assim. Acelerados, bagunçados, intensos. E mesmo com tamanha rapidez, somos apaixonados um pelo outro.
Vitor me mostrou a casa todo empolgado. Ela só tinha três pequenos cômodos, sala, cozinha, quarto, além do banheiro, é claro. Tudo era muito confortável e fofo. Ele disse que já tinha essa casa a um tempo e quando começamos a nos envolver ele teve a idéia de reformá-la para nos encontrarmos aqui. A casa foi pintada, foi mobilhada e foi destinada a ser cúmplice desse nosso romance. Era uma casa bonita, eu havia gostado dela.
Agora, estávamos deitados na cama, conversamos sobre a casa e também sobre tudo o que já se passou nesses três meses.
- Tá muito silêncio por aqui - comentei
- Essa parte da comunidade é pouco povoada, as pessoas sempre querem casa mais lá embaixo. Foi exatamente por isso que escolhi esse lugar para nós dois, os poucos moradores que tem aqui em cima são mais velhos e quase nenhum deles tem contato com quem mora mais embaixo. Aqui é o lugar perfeito!
- Contando que tenha nós dois aqui dentro, ele é sim o lugar perfeito - ele riu e me beijou
Ficamos ali até de manhãzinha. Eu disse para minha mãe que dormiria na casa de uma menina da escola para fazermos um trabalho. Eram seis da manhã quando ele me deixou na mesma viela do dia do baile, aquela que foi cenário do primeiro beijo.Cheguei em casa e ainda não tinha ninguém acordado. Fui direto para cozinha e preparei o café. Quando estava terminando de tomar meu café da manhã, minha mãe acordou e veio tomar café. Tivemos uma breve conversa sobre o trabalho que nunca existiu e eu fui para o meu quarto. Coloquei meu celular para carregar e ouvi me chamarem no portão. Fui até lá e peguei a Laura. Ela não estava se sentindo muito bem então eu a deixei deitada no sofá assistindo seus desenhos. Vinicius logo apareceu também e depois de tomar café foi mimar a Laura no sofá.
Passei a manhã ajudando minha mãe a limpar a casa e depois do almoço fiquei brincando com coma Laura que já se sentia um pouco melhor. As cinco o pai dela passou para pegar ela e eu fui me arrumar para mais um dia de aula. Eu ainda não sabia se iria vê-lo hoje. Sexta é dia de baile e a comunidade fica agitada o dia todo e a noite isso aqui vira um formigueiro. Eu não sabia nem se iria ao baile. Provavelmente ele vai com a Ana Paula e, mesmo entendendo a situação, eu não sou obrigada a ver os dois juntos.Antes de sair de casa eu pego meu celular já que o mesmo apitou avisando que eu tinha uma nova mensagem.
Aviso minha mãe que já estou indo e vou rumo ao beco de sempre. Estava vazio, a única iluminação que tinha era a do sol que já estava prestes a ir embora. Eu ajeito a mochila nas costas e me encosto no muro. Menos de dez minutos eu ouço o ronco da moto se aproximar. Tiro o olhar do celular e o encaro.
- Não é arriscado a gente andar junto essas horas?
- Um pouco - ele põe o capacete no topo da cabeça - Mas se não fosse agora não ia dar para gente se encontrar hoje
- Esse é horário de pico, todo mundo saindo do trabalho e indo para casa, alguém vai acabar vendo a gente
- Relaxa - ele me puxa pela cintura - Não vou levar você para escola - me deu um selinho - Seu irmão vai - me deu outro selinho - Eu só precisava te ver e te dar um beijo
- Esse beijo tá demorando para sair já - brinquei e ele riu me puxando logo em seguida para um beijo.- Vai para o baile? - ele perguntou quando nos soltamos
- Não - abaixei a cabeça - Não tenho coragem de encarar vocês dois juntos
- Ei - ele segurou meu rosto fazendo eu o encarar - Mesmo que eu esteja lá com ela, você vai estar no coração e no pensamento. Além do kauê, Ana Paula e eu não temos mais nada. É você que eu amo, independente de quem esteja ao meu lado. Se você quiser ir, fique a vontade e faça isso de cabeça erguida. Estamos entendidos?
- Estamos - selei nosso lábios - Eu preciso ir agora
- O Vinicius tá com o Thiago ali na saída do beco - ele apontou com a cabeça - Pensa no que eu te falei tá - ele me beijou - Eu vou adorar ver você dançando - ele riu safado
- Talvez eu apareça por lá, mas não prometo nada - dei um selinho nele
- Você que manda patroa
- Idiota - nós rimos e ele me deu um último beijo antes de eu sair por um lado a procura do meu irmão e ele acelerar para o outro.
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Meu amor tão errado
Teen FictionMaria Eduarda é uma garota comum de 17 anos. Moradora da Nova Brasília no Complexo do Alemão, a menina cresceu sendo criada pela mãe e pelo irmão mais velho, seu pai era envolvido com o tráfico e morreu durante um confronto. 14 anos depois Madu conv...