Maria Eduarda
Acordei três vezes durante a madrugada, até o relógio marcar oito da manhã e eu ouvir barulhos na cozinha indicando que minha mãe já tinha chegado. Théo estranhou a cama durante toda a noite, quase não consegui descansar. Agora eu olhava seu rostinho sereno, procurando o mínimo de coragem que fosse para contar a minha mãe que eu havia o encontrado e que iria torná-lo meu filho.
Passei minha mão em seu cabelo ralo, na intenção de fazer carinho e meu coração se encheu de amor quando ele sorriu ao sentir meu toque. Era tudo muito estranho, eu o conhecia a poucas horas e já o amava mais que qualquer coisa. O sentimento de mãe crescia em mim a cada minuto acordada velando seu sono. Eu cuidaria e o protegeria de qualquer mal. Não importa o que aconteça, agora ele era meu e ninguém o tomaria.
Ajeitei ele na cama para não haver risco algum dele cair. Fui até a porta, lhe dei uma última olhada, respirei fundo e sai do quarto deixando a porta aberta para ouvir caso ele chorasse. Passei no banheiro antes de encontrar minha mãe na cozinha.
Procurei ser o mais direta possível com ela. De início ela ficou em choque por terem abandonado uma criança tão frágil e indefesa. Depois ela pareceu apreensiva com a minha decisão, mesmo se orgulhando da minha atitude. No final, nós duas estávamos no quarto paparicando o meu bebê.
- Eu saio de casa por uma noite e quando volto já tenho um neto - ela comenta acariciando o rostinho pequeno do Théo
- E eu que sai só para tomar um açaí e voltei para casa sendo mãe - ri
- Eu sinto que você vai ser uma ótima mãe para o Theozinho - ela me olhou e sorriu
- E a senhora vai ser a avó mais coruja que eu sei - nós rimos
- Ninguém vai falar do tio mais babão que esse moleque vai ter não? - meu irmão se juntou a nós
- Sem querer eu arrumei a melhor família do mundo para o Théo - sorri e limpei a lágrima teimosa que escorreuO resto da manhã foi tranquila. No almoço, mandei mensagem para o Vitinho, nós tínhamos muito o que conversar. Ele não me respondeu e isso me deixou inquieta por toda a tarde. Perto das seis da tarde eu dei um banho no Théo e coloquei nele uma roupinha que minha mãe guardava desde o tempo em que meu irmão era neném. Estava dando a mamadeira de leite para ver se ele dormia, quando meu celular apitou.
Um frio percorreu meu corpo todo quando terminei de ler aquelas três mensagens. Uma angústia se instalou no meu peito. Eu sentia medo e não sabia exatamente o porque. O que ele tinha de tão sério para me falar? Será que tinha acontecido alguma coisa com o Kauê? Ai droga! Eu odeio ser ansiosa, paranóica e ainda por cima insegura.
- Mãe, eu preciso resolver um negócio agora, tem como a senhora olhar o Théo? Ele acabou de dormir
- Alguma coisa importante filha?
- Um trabalho da escola, a gente precisa entregar amanhã e parece que deu algum problema
- Pode ir tranquila, eu cuido do meu neto - sorrimos - Só toma cuidado para não voltar muito tarde
- Pode deixar, obrigada
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Meu amor tão errado
Teen FictionMaria Eduarda é uma garota comum de 17 anos. Moradora da Nova Brasília no Complexo do Alemão, a menina cresceu sendo criada pela mãe e pelo irmão mais velho, seu pai era envolvido com o tráfico e morreu durante um confronto. 14 anos depois Madu conv...