Prólogo

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FLORA COLLINS

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FLORA COLLINS

Papai e mamãe estavam brigando novamente. Não é uma novidade para mim ou os vizinhos, mas o meu corpo não havia se adaptado ainda e reagia da pior forma possível em uma crise desesperadora que fazia meu coração bater com agressividade, minha visão escurecer e meus pulmões parecerem sem oxigênio o suficiente para respirar.

O começo não era tão perturbador, acontecia gradativamente e se iniciava com meu batimento cardíaco se acelerando e um arrepio irritante que descia por todo o meu corpo, me fazendo estremecer. Quando isso acontecia, eu logo me mexia e saia para qualquer lugar em buscar de ar e fazia o que aprendi ser um excelente remédio. Correr. A corrida me ajudou bastante em afastar o que me atingia e me tirar de casa por tempo o suficiente para não ter que presenciar as brigas desgastantes de sempre.

E era o que eu estava fazendo neste exato momento, correndo para bem longe de toda a confusão que eu era obrigada a presenciar desde muito nova. Antes eu interrompia as brigas tentando acalmar o caos entre os dois adultos, mas com o tempo diminui as interrupções, pois estava me prejudicando. Além das brigas envolverem os mesmos assuntos estúpidos, me deixava tão nervosa, que sempre tinha crises após as interrupções e parar parecia ser a única solução.

Estava enganada.

Em uma noite como qualquer outra, coloquei uma música no último volume do meu fone e no intervalo de uma música para outra, escutei gritos. Ao descer encontrei meu pai encostando– se ao balcão da cozinha segurando o ombro enquanto minha mãe andava de um lado para o outro buscando suas chaves do carro.

Ela acidentalmente havia esfaqueando meu pai.

Ao ser questionada no hospital sobre o que aconteceu pelo médico responsável por atender meu pai, minha mãe disse que foi um acidente doméstico e meu pai confirmou a história ao policial.

Eles eram doentes.

E me deixaram doente.

E eles ao menos percebem isso.

Após o acidente pensei que tudo mudaria, mas tudo continuou o mesmo de sempre e minhas crises se tornaram mais violentas ao ponto de pensar que eu iria enlouquecer. Na noite seguinte, sentindo o início da mesma sensação esmagadora, fugi de casa e percebi que correr para longe era o melhor para minha sanidade.

Apressei o passo até sentir os músculos das pernas protestarem e corri o mais rápido que minhas pernas suportavam. Está era a segunda vez que fugia de casa e deixava que eles se resolvessem no mesmo dia. As brigas estavam se tornando cada vez mais intensas e temia pelo pior. Eles tinham que se libertar e aceitar o divórcio de uma vez, ficando o mais longe possível um do outro, mas são egoístas demais para aceitar que qualquer um dos dois possa ser feliz com outra pessoa. Era doentio.

Ajoelhei–me quando meus joelhos falharam e abaixei–me apoiando minhas mãos nos mesmo, respirando forte e tão eminentemente que não sabia ao certo como aguentava aquilo. Tombei para a parede mais próxima e me encostei, tentando respirar normalmente e ir de volta para o meu inferno pessoal.

Encosto minha cabeça na parede e respiro fundo, abrindo os meus olhos e percebendo pela primeira vez em que lugar eu me encontrava e principalmente, como tudo estava tão escuro. Certamente não era uma coisa tão inteligente seguir sua intuição e esquecer o resto do mundo, pois situações como essas podem acontecer e te colocar em coisas que realmente colocassem sua vida em risco.

Ergui–me e abracei meu corpo, sentindo um frio repentino e um ódio por eu mesma por não ter usado uma blusa de mangas compridas ou ter pegado um moletom antes de sair. Estalei os ombros e ajeitei minha postura, começando a andar devagar, pois minhas pernas não estavam aguentando quase nada e gritavam por um relaxante muscular e um longo tempo de descanso.

Olhando para o chão não pude evitar ser pega duplamente de surpresa pelo puxão que recebi e gritar de dor com o bater das minhas costas na parede de cimento. Meus braços automaticamente foram de encontro com o homem que me agarrou sem me dar chance alguma de ao menos tenta fugir.

Afastando minhas pernas com as suas, ele se colocou em meu meio, me prendendo contra parede enquanto segurava meus braços com força em cima de minha cabeça com uma única mão. Como se passasse em câmera lenta, eu gritei e implorei para que ele me soltasse, mas ele apenas ria e dizia coisas grotescas que o barulho do meu sangue e batimento cardíacos tão altos me impedia de escutar. Lágrimas caiam pelo meu rosto e eu sentia que poderia desmaiar á qualquer segundo, não melhorando em nada quando sua boca nojenta desceu sobre a minha tentando enfiar sua língua dentro dela.

Eu não á abri e continuaria sem o fazer, mas sua mão apertou meu seio tão fortemente, que foi impossível não gritar de dor e implorar para que algo o impedisse de completar o que tinha em mente.

Não poderia conviver com aquilo.

Não conseguiria.

Quando sua boca desceu pelo meu pescoço, barulho de tecido sendo rasgado soou e senti sua mão chegando aos meus seios, soltei o grito mais alto de misericórdia que consegui e como recompensa, aquele homem foi tirado de cima de mim e jogado do outro lado. Escorreguei na parede, arranhado minhas costas e puxei minhas pernas para mim, abraçando–as e assistindo em estado de choque um homem bater com brutalidade naquele ao qual queria me violentar.

Sua mão descia diversas vezes e não vi nenhuma vez o outro conseguir revidar. Meu defensor era forte e esguio e o outro apesar de ser mais forte que eu, era um fracote comparado ao meu salvador. A surra continuou e o homem que me ajudou só se afastou quando percebeu que o outro cara estava apagado. Levantando–se é chutando a barriga dele até sentir que eu possivelmente estava vingada.

O homem passou as mãos sobre o cabelo e se virou, olhando para mim com atenção e vindo em minha direção tão lentamente como se iria para conferir um animal selvagem ferido. Ajoelhou– se próximo de mim e quando sobraram apenas poucos centímetros de distância entre nós dois, ele olhou dentro dos meus olhos, dando–me a oportunidade de ver um pouco da cor mais linda que já vi nos olhos de alguém.

Duas bolhas verdes como esmeraldas, aparentando curiosidade.

Algo dentro de seus olhos não me fez sentir medo algum e aceitei de bom grado sua mão estendida em minha direção.

– Sou Oliver Bennett e não estou aqui para te machucar. – sua voz era como melodia sobre meus ouvidos. – Apenas para te levar para casa em segurança.

Balancei minha cabeça e em uma ação inesperada joguei–me sobre ele, apertando–o junto á mim como se ele fosse minha tábua de salvação e ganhando dele o abraço que tanto precisava naquele momento.

– Obrigada.

Sussurrei e aceitei de bom grado a escuridão que meu corpo tanto desejava.

(Degustação)Amor em Alta Velocidade - Irmãos Bennett | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora