Complexo de inferioridade

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A vida é estranha, a gente passa por cada coisa, cada situação e também paranóias. Hoje estou aqui, sentado bem na tampa dessa privada em horário de serviço, tendo algumas lembranças e escrevendo mais um capítulo, não é novidade alguma, pra ninguém. Costumo dizer sempre que o amanhã não existe, e de fato há muita razão nessa minha verdade. Preciso escrever como se fosse a última vez, quem me garante que haverá um 4° capítulo, não é mesmo?
Bom, Samuel se sentia inferior quase sempre quando se tratava de Ana Florença. Ela tinha o seu próprio mundo, chamar atenção era com ela mesmo, de tudo, até mesmo da natureza ao redor. Toda atenção do planeta voltada a ela quando passava, era coisa de outro mundo, parecia filme, seu ego era incrivelmente enorme e isso causava medo e constrangimento interno em Samuel. Homens bem colocados socialmente, mulheres bem vistas, convites tentadores, eventos privilegiados, tudo bem ilusório, porém era o que alimentava. Ana estava mesmo em um patamar que iria além do que Samuel poderia alcançar, mas, nem sempre foi assim. Houve um tempo onde Samuel talvez pudesse tocá-la, mas como todo tempo passa, as coisas foram ficando cada vez piores e mais distantes do que o pobre Samuel poderia alcançar.  Mas que bagunça! Samuel tem que tomar cuidado com as músicas que ouvia, cheiros que sentia, lugares que frequentava e filmes que assistia. As memórias são acidentes que Samuel não poderia evitar. A perdeu, e no mesmo instante se perdeu junto. Em uma quarta-feira, Samuel chegou do trabalho cansado e foi direto para o seu quarto onde lá às lembranças eram bem presentes. Ele sentou em sua cama, fixou seus olhos para a janela e olhou para o céu e refletiu, dizendo em voz alta. Triste demais perceber que hoje a única coisa que temos em comum é que dividimos o mesmo céu, e nesse verão ele chove mais do que nunca. Sou eu te mandando sinais de que sinto tua falta.
          Certa vez, Samuel encontrou Ana Florença em um bar com uma amiga na qual ele julgava sem conhecer. Não havia ressentimentos, Ana foi até a mesa de Samuel e o cumprimentou. Eles conversaram, Samuel pediu para que Ana se juntasse ali com ele, ela aceitou. Samuel como sempre enfiando os pés pelas mãos, excitado e feliz com a situação, por Ana estar bem ali com ele, começou a ter pensamentos que o levariam a vitória ou a derrota. Samuel, começou a pensar em todos os homens bem colocados na sociedade que cativavam Ana Florença, ele começou a ter ideias de que deveria de alguma forma sobressair, cativa-la também. Mas o que ele poderia oferecer, afinal? Foi aí que ele resolveu usar daquilo que chamavam de ponto forte, que era o seu jeitão bem extrovertido, mas talvez ele tenha usado demais desse jeito, tanto ao ponto de Ana achar que Samuel estava tomando por reações levadas a partir da cerveja que tomava. Samuel achou que poderia encantar não só a ela, mas também a própria amiga com o intuito de assim virar o jogo ao seu favor, certamente ele garantiu boas risadas mas na despedida ele se decepcionou, de tanto querer cativar Ana ele enfiou os pés pelas mãos abusando demais do seu lado brincalhão, falador. Ana também poderia ter feito uma auto-analise da situação, poderia ter percebido que Samuel estava tentando de tudo para fazer com que ela e a amiga se sentissem a vontade ali com ele, afim de tornar aquela noite especial. Samuel foi derrotado.
          Samuel sussurrou em silêncio em sua mórbida companhia. Queria aprender a aceitar que de repente não fomos feitos pra ficar juntos. Mas toda vez que imagino a possibilidade da gente nunca mais se ter parece que eu deixo de existir, que parte de mim, que é ser dela, morre, e isso me deixa pela metade. Eu só sei viver se for inteiro. A gente tenta se agarrar em qualquer fio de esperança quando ama uma pessoa. Acreditamos que nossos caminhos podem voltar a se trilhar daqui há uns anos. Mas a verdade, é que nós nunca sabemos. Alguns amores não são feitos para acontecer.

Um amor genuínoOnde histórias criam vida. Descubra agora